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Entenda Melhor | George Lucas e a Construção de um Império – Episódio Um

por Ritter Fan
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Quando, lá pela segunda metade da década de 90, foi anunciada a produção de uma trilogia-prelúdio da cultuada franquia cinematográfica Star Wars, o mundo da Sétima Arte entrou em alvoroço. Afinal, mais de 10 anos haviam se passado desde O Retorno de Jedi e George Lucas, o pai da criança, já havia se manifestado algumas vezes contrariamente à continuações ou prelúdios, apesar de a lenda rezar, em várias versões diferentes, que ele teria inicialmente imaginado nove ou 12 filmes, dependendo de para quem você perguntar ou que fonte consultar.

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Eu tenho 4 BILHÕES de dólares… Porque eu não estaria rindo?

Mas o fato é que a trilogia-prelúdio automaticamente tornou-se o Santo Graal do Cinema e a excitação era gigantesca, talvez até maior do que o anúncio do lançamento de um sétimo filme – que aparentemente não mais usará Episódio VII no título – para o final de 2015. E, como com grandes excitações vêm grandes desapontamentos, a nova trilogia até amealhou uma nova legião de pequenos fãs, mas conseguiu criar uma certa ojeriza a esses filmes e a George Lucas por aqueles que esperavam algo do naipe da trilogia original. De grande visionário, Lucas passou a ser, em determinados círculos, odiado e, em vários outros, motivo de chacota. E isso já vinha se agravando mesmo antes do lançamento de A Ameaça Fantasma, com as constantes e heréticas alterações que ele mesmo promoveu na trilogia original, recusando-se, ato contínuo, a oferecer às hordas de fãs ensandecidos o acesso às versões imaculadas devidamente remasterizadas e em widescreen anamórfico (antes que venham reclamar aqui, aquilo que a Lucasfilm ofereceu como “extras” em DVDs da trilogia original NÃO eram as versões remasterizadas e anamórficas dos filmes, mas sim um “porte” do material em baixa definição que havia sido lançado em Laserdisc – alguém se lembra desse formato? – alguns anos antes).

Acontece que, ame-o ou odeie-o, a Sétima Arte, como a conhecemos hoje, seria muito diferente sem George Lucas e, como pontapé inicial sobre a franquia Star Wars, achei conveniente começar pelo começo, ou seja, por aquele que realmente nos proporcionou horas e horas e mais horas de muito divertimento seja no cinema, na televisão ou com o dilúvio de merchandising originado de seus amados personagens de uma galáxia muito, muito distante.

George Lucas – o Padawan

George Walton Lucas Jr. nasceu em 14 de maio de 1944 na cidade de Modesto, na Califórnia, Estados Unidos. Seu pai, George Walton Lucas Sr. (o mestre e o aprendiz?), era dono de uma papelaria e sua mãe, Dorothy Ellinore Lucas (nascida Bomberger), passou basicamente sua infância inteira doente.

A grande paixão do jovem Lucas era corrida de automóveis, nada de cinema. E ele investiu nisso até que – sorte nossa e azar dele! – um acidente em seu Autobianchi Bianchina tunado (sério, quem é que tem um desses tunado???) quase o matou logo antes da graduação em sua escola, a Thomas Downey High School, onde era um aluno “comum”. Esse acidente providencial o desviou da carreira automobilística, pois ele decidiu ingressar na escola comunitária Modesto Junior College e lá, finalmente, desenvolveu seu gosto pelo cinema, gosto esse que foi expandido pelo projeto underground de Bruce Baillie, que basicamente projetava em lençóis filmes experimentais de diversos diretores iniciantes na Sétima Arte, projeto esse que ficou conhecido como Canyon Cinema.

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É difícil largar velhos hábitos…

Unindo seu recente gosto pelo cinema e sua paixão por corridas, o jovem Lucas (com não mais do que 20 anos) fez amizade com o já famoso diretor de fotografia Haskell Wexler (Quem Tem Medo de Virginia Woolf? e Crown – O Magnífico), também amantes dos bólidos em quatro rodas. Wexler tornou-se, efetivamente, seu primeiro mentor, servindo até mesmo de “consultor visual” em American Graffitti – Loucuras de Verão.

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Wexler e Lucas no set de American Graffitti.

O passo seguinte de Lucas foi ingressar na University of Southern California of Cinematica Arts – USC onde realmente refinou suas habilidades e construiu os alicerces de sua carreira. Naquela época, essa era uma das poucas universidades que ofereciam esse tipo de curso dedicado nos EUA e, claro, nomes que um dia seriam grandes procuraram essa oportunidade.

Sua graduação na USC veio em 1967, mas não houve resultado palpável imediato. Lucas, na verdade, se alistou na força aérea dos Estados Unidos, mas acabou tendo seu ingresso negado em razão de suas várias multas por excesso de velocidade (se em automóveis ele já era assim, imaginem só operando caças). Depois, com a intensificação da guerra no Vietnã, ele foi convocado a lutar, mas o diagnóstico de diabetes novamente o impediu de se juntar às forças armadas.

Isso o levou de volta à USC, dessa vez em um curso de especialização em produção cinematográfica. Foi nessa época que ele deslanchou, escrevendo, dirigindo e produzindo aquele que seria o verdadeiro pontapé inicial de sua carreira no Cinema: o curta Electronic Labyrinth: THX 1138 4EB. Com apenas 15 minutos de duração e feito como parte das aulas que ele dava para uma turma de soldados da marinha americana, o curta ganhou o prêmio de melhor em sua categoria no Festival Nacional de Filme Estudantil. Como todo mundo sabe, esse curta, em 1971, foi retrabalhado e lançado como o longa THX 1138 e instantaneamente transformou o número 1138 em citações constantes nos filmes do próprio Lucas e de um sem-número de outros diretores, além de ser uma das combinações de senha favoritas no mundo todo (sim, eu sei que uma de suas senha no mínimo contém 1138, não adianta fazer essa cara de sonso!).

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Lucas, ainda sem barriga de chope, no set de Electronic Labyrinth: THX 1138 4EB.

Mas, mais importante do que ter se transformado em longa metragem alguns anos depois, Electronic Labyrinth: THX 1138 4EB garantiu a Lucas uma bolsa na Warner Bros. para servir de observador (e, provavelmente, servidor de cafezinho e outras tarefas importantes como essa) na produção de O Caminho do Arco-Íris, dirigido por ninguém menos do que seu futuro amigo de fé e irmão camarada Francis Ford Coppola, então em seu segundo longa.

Essa amizade entre um estudante recém-saído da faculdade e outro estudante já com certo nome no mercado – Coppola era visto como um expoente da nova geração e não sem querer, claro – acabou resultando na incorporação da mítica American Zoetrope, em 12 de dezembro de 1969. O objetivo do arriscado movimento de Lucas e Coppola era albergar gente criativa – diretores, fotógrafos, montadores, sonoplastas – sob um teto independente, fora do chamado studio system que, basicamente, deixava na mão dos chefões produtores toda e qualquer decisão sobre o que e como produzir.

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Coppola e Lucas: o mestre e o aprendiz.

O début diretorial de George Lucas em longas metragens (além do curta citado acima, ele havia feito outros cinco, todos durante a faculdade) foi justamente THX 1138, a versão profissional e com Robert Duvall de seu curta metragem mais famoso, como parte de uma pacote de sete filmes encomendados pela WB para a produtora nascente dos dois. Mas o filme foi um fracasso!

A natureza experimental, hermética e “cabeça” da ficção-científica acabou não só fazendo os executivos da Warner desgostarem do filme – que foi remontado levemente por uma equipe interna à revelia de George Lucas – como, também, acabou afastando o público. No entanto, ao longo das décadas, o filme ganhou um status de cult, que continua até hoje, tendo a obra até sido remasterizada em 2004, com efeitos especiais atualizados (mania incurável do diretor, diga-se de passagem…) e um novo corte do diretor, com trechos excluídos pela Warner.

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Sim, essa é sua senha, pode confessar…

O resultado dessa experiência de George Lucas com a Warner foi que o diretor sedimentou seu horror pelos mandamentos dos executivos de grandes estúdios e que ele decidiu criar sua própria empresa, livre das amarras e das questões financeiras que a American Zoetrope começava  a enfrentar. Nascia, assim, a Lucasfilm, Ltd.

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Fiquem ligados nesse canal para a segunda parte desse Entenda Melhor, com American Graffitti e, claro, Star Wars!

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