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Entenda Melhor | Homem-Aranha – Parte 1

por Plano Crítico
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Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.

Ben Parker

Homem-Aranha. Só em pensar a constituição de um super-herói assim, a imaginação viaja, e podemos criar um sem-número de histórias e possibilidades, vilões, arcos, grupos de ação, parcerias. Ao lembrar de como comecei a gostar do Homem-Aranha, vejo que fui influenciado pela minha própria imaginação de garoto de sete ou oito anos, e que no decorrer do tempo, só consegui aumentar ainda mais a admiração por esse herói. Com a proximidade do lançamento do inútil reboot O Espetacular Homem Aranha (2012), é interessante voltarmos para a origem desse herói e entendermos melhor sobre ele.

A história do lançador de teias começou na Edição nº15 (agosto de 1962) da revista Amazing Fantasy, com uma teia de acontecimentos que de imediato atraiu os leitores, especialmente por trata-se de um jovem herói cuja vida pessoal se aproximava bastante da vida de qualquer cidadão comum. Essa identificação emotiva e de caráter bastante familiar foi essencial para o sucesso da personagem criada por Stan Lee e Steve Dikto (embora inicialmente desenhada pelo já parceiro de Lee, Jack Kirby), tanto que em menos de um ano, a revista mensal Amazing Spider-Man (março de 1963) entrava em circulação.

A primeira história da revista traz a origem da mutação do jovem órfão Peter Parker. Em uma exposição de ciências, o rapaz é picado por uma aranha que havia recebido radioatividade. Esse pormenor faz com que Peter Parker adquira paulatinamente as características de uma aranha de verdade: super-percepção, capacidade de saltar a longas distâncias, superforça e lançamento de teias. Para um jovem impopular, não exatamente bonito, franzino e pouco enturmado no colégio, esses novos poderes eram uma espécie de dádiva. Enfim, ele se tornava diferente dos demais, mas com um “senhor diferencial”, algo jamais imaginado por qualquer um de seus inimigos.

Peter Parker cria a identidade de Homem-Aranha e começa a se apresentar em programas de TV, atingindo grande sucesso. Certo dia, ao ser assaltado, deixa o ladrão ir embora. Mais tarde, seu tio Ben é assassinado pelo mesmo ladrão. A partir desse momento, o jovem Peter é tomado por um senso de culpa e responsabilidade que o impele a combater o crime e a cuidar de sua identidade secreta para proteger May Parker, a única parente que lhe restava.

Durante três anos, Stan Lee e Steve Ditko estiveram juntos na frente de publicação da Amazing Spider-Man. Foram 38 Edições e duas revistas especiais nas quais os leitores puderam ver pela primeira vez os vilões Camaleão, Abutre, Dr. Octopus, Lagarto, Electro, Mysterio, Duende Verde (que por algum tempo terá um enorme destaque, aparecendo e diversas edições), Kraven, Homem-Areia, Dr. Destino (que já atormentava a vida do Quarteto Fantástico), Magma, Escorpião, dentre outros. Também as personagens humanas terão um papel essencial nas histórias. Figuras como J. Jonah Jameson, do Clarim Diário, jornal para o qual Parker começa a trabalhar tirando fotos dele mesmo (como Homem-Aranha) e Betty Brant, a primeira mulher a fisgar Peter Perker, são alguns exemplos.

As primeiras histórias, especialmente as que trazem o Duende Verde, são de uma qualidade extraordinária. Como o Duende apresentava um caráter mafioso, tentando controlar as gangues novaiorquinas, essas histórias terão um apelo e um caráter muito interessantes. Particularmente não entendo por quê os autores não incluíram o Duende no Sexteto Sinistro, o grupo dos grandes vilões do Aranha: Electro, Mysterio, Kraven, Dr. Octopus, Abutre e Homem-Areia. Dessa fase, a clássica história em que Dr. Octopus rouba o único remédio capaz de curar a doença da tia May Parker é um momento de grande emoção para qualquer fã do Aranha, seja pelos excelentes desenhos de Steve Dikto, seja pelos emotivos e dramáticos diálogos de Stan Lee.

Quando Peter Parker termina o Ensino Médio e entra para a Universidade Empire State, sua “perseguidora” Liz Allen, que sempre tornava o namoro do herói com Betty Brant um caos calmo, some das revistas, e dá lugar a Harry Osborn e Gwen Stancy. Essa fase da história do Aranha é marcada pela separação entre Stan Lee e Steve Ditko. O motivo principal da briga foi sobre a identidade do Duende Verde: um defendia que deveria ser alguém já conhecido, o outro sustentava que o vilão deveria ser alguém desconhecido. Algumas pessoas ainda apontam a divisão de tarefas de Ditko, que recebera uma mega proposta da Charlton, no início de 1966, para criar e publicar seus próprios personagens (os “úteis inúteis” nos quais Alan Moore se inspiraria para criar Watchmen). O fato é que o nº38 da Amazing Spider-Man foi a última parceria da dupla – que gerou um descontentamento enorme por parte dos leitores da Marvel, e ajudou bastante para a antipatia geral do público ante o próximo desenhista da revista, apesar de sua qualidade artística ser percebida desde o princípio.

Se alguém soubesse que a edição nº39 da Amazing Spider-Man trazia uma futura lenda, algum dia de agosto deveria ser feriado em homenagem a tal publicação. A estreia do então desconhecido John Romita espantava o público da capa até a última página. Nessa edição, o Duende Verde descobre a identidade secreta do Homem-Aranha, enfrenta-o, derrota-o e revela a sua própria identidade: Norman Osborn, pai do colega de faculdade de Peter Parker, Harry Osborn. É emoção demais para uma única revista! Na edição seguinte, o público conhece a origem do Duende Verde. A partir desse ponto, percebemos um grande aumento de qualidade na Amazing Spider Man, tanto no roteiro – que traz mais mulheres para disputar Peter Parker, além de incursões da política e sociedade do momento – quanto nos desenhos, que capturam muito bem a época em traços belos e inigualáveis. O melhor Homem-Aranha, na minha opinião, é o de John Romita.

Dessa fase, a trilogia sobre o Rei do Crime e os vilões Rino, Gatuno e Shocker merecem maior destaque. O que se torna bem evidente a partir desse ponto é um certo amadurecimento nas histórias. A morte do pai de Gwen (uma das namoradas de Peter Parker), o policial George Stacy, e eventos mais ligados ao mundo real trouxeram um novo fôlego (também é bom lembrar que a partir do nº97 Gil Kane assume aos poucos os desenhos do herói), moldaram um novo tipo de público e aumentaram as expectativas para as edições seguintes. Quando Harry Osborn começa a se drogar, o rompimento da revista com o Comics Code é pleno, e ela se torna a primeira HQ a ser publicada sem o selo de aprovação..

Por Guilherme Santiago

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