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Entenda Melhor | Homem Aranha – Parte 2

por Luiz Santiago
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Esta é a segunda parte do Entenda Melhor sobre o Homem-Aranha. O leitor pode conferir também a Parte 1. Desejamos a todos uma ótima leitura.

Mudanças muito grandes em equipes editoriais podem ser um problema sério. Nós, fãs de quadrinhos, já nos deparamos com muitos exemplos desse tipo: muda o desenhista ou roteirista, “acaba” a revista. Mas no caso da Amazing Spider-Man, que depois da saída de Stan Lee, em 1972, foi entregue a um rapazinho de 19 anos, Gerry Conway, a situação foi bem diferente: o cabeça de teia estava para viver a sua década de ouro em publicação, venda e reconhecimento.

Um dos eventos decisivos para esse empurrão setentista foi a absorção da Marvel de uma prática realizada já a algum tempo na DC Comics: a publicação de mais de uma revista para uma personagem importante. Como Publisher, Stan Lee poderia tranquilamente aplicar essa estratégia, e o Homem-Aranha era a personagem ideal para isso naquele momento. Assim surgiu a Marvel Team-Up (março de 1972), que trazia em cada edição uma aventura do Homem-Aranha com algum herói da casa (das 10 primeiras revistas, três foram com o Tocha Humana, e depois vieram X-Men, Visão, Coisa, Thor, Tigra e Homem de Ferro). Essas publicações da Mavel Team-Up serviram como “ala de treinamento” para um grande número de novos artistas, já que a equipe de produção durava apenas um arco de histórias, sendo logo trocada por outra.

Amazing Spider-Man #111 – “To Stalk A Spider!”: Estreia de Gerry Conway como roteirista. Os desenhos dessa edição são de John Romita.

A estreia do jovem Gerry Conway (inicialmente sob supervisão e conselhos de John Romita), na Edição nº111 da Amazing Spider-Man (agosto de 1972), trazia Gibbon e Kraven como vilões, e mostrava que o novo roteirista da casa tinha talento e criatividade para suceder Stan Lee. Claro que se tratava de um estilo diferente, menos literal e mais imediato, menos racional e mais impulsivo e emotivo. Mas a qualidade desse novo roteirista era indiscutível. A edição seguinte, Spidey Cops Out! tornou-se uma pérola imediata, com uma tremenda história do Aranha contra Dr. Octopus, e em outubro, na Edição nº113, surgiu um novo vilão no páreo, o Cabeça de Martelo.

Levando em consideração que a verdadeiramente épica história do Homem-Aranha estava por vir, e se olharmos em retrospecto, perceberemos que a injeção de sangue novo na Marvel fez muito bem à editora e trouxe sequências de eletrizantes revistas.

Para chegarmos ao grande evento da Amazing Spider-Man nº121 e 122, faremos uma relação das revistas que se seguiram as já citadas no parágrafo acima. Chamamos a atenção do leitor para a quantidade de eventos bombásticos e novos vilões que se encadearam no período. Caso o leitor não se interesse por essa cronologia de eventos, pode pular a aba de anexos abaixo. Alertamos que isso não prejudicará em nada a leitura a seguir.

Publicações

Nov., 1972 – #114: Gang war, schmang war! What I want to know is… who the heck is Hammerhead?
Roteiro: Gerry Conway
Arte: John Romita
A história é continuação da revista nº113. O Homem-Aranha deve impedir que Dr. Octopus e Cabeça de Martelo tomem conta da máfia e criminalidade novaiorquinas. O legal dessa edição é que os vilões também lutam entre si.

Dez., 1972 – #115: The Last Battle!
Roteiro: Gerry Conway
Arte: John Romita
Fechamento do arco da história anterior. Batalhas pelo submundo, ação de intervenção da tia May e histórias paralelas muito bem ligadas.

 

Jan., 1973 – #116: Suddenly…The Smasher!
Roteiro: Stan Lee e Gerry Conway
Arte: John Romita
Surgimento de um novo vilão: Smasher. Na campanha leitoral do prefeito Richard Raleigh, surge um gigante esmagador na cidade de Nova York. A edição vem com pequenas tramas familiares e românticas envolvendo Gwen Stacy e tia May.

Fev., 1973: #117: The Deadly Designs Of The Disruptor
Roteiro: Stan Lee e Gerry Conway
Arte: John Romita
Primeira aparição de Richard Raleigh como o novo vilão Disruptor. Consideramos essa edição superior à anterior, principalmente pela trama mais encorpada com revelações e reviravoltas muito interessantes. Aqui também aparece o criador do Smasher, Dr. Thaxton.

Mar., 1973: #118: Countdown to Chaos!
Roteiro: Stan Lee e Gerry Conway
Arte: John Romita
Número repleto de ação e acontecimentos de tirar o fôlego. A “parceria” entre Disruptor e Smasher continua. Entre tempestades e perseguições, temos enfim a morte dos dois vilões e a mudança da campanha eleitoral de Nova York.

Abr., 1973: #119: The Gentleman’s Name Is the Hulk! e Mai., 1973: #120: The Fight and the Fury!
Roteiro: Gerry Conway
Arte: John Romita
A única que basta ser dita sobre essas edições é: o Hulk é o vilão. Fim de papo.

 

Mai., 1973: #120: The Fight and the Fury!
Roteiro: Gerry Conway
Arte: Gil Kane e John Romita
Fechamento do mini-arco aberto na edição anterior. Uma das melhores edições dessa cronologia.

 

 

Uma Nova Era

Os autores desse texto consideram as Edições nº121 e nº122 da Amazing Spider-Man (em conjunto) duas das mais importantes revistas da história do Homem-Aranha. Para que o leitor possa entender melhor a nossa posição, pedimos que leia as reviews de ambas as edições, A Morte de Gwen Stacy e A Cartada Final do Duende. A partir delas, percebemos que o caminho para um novo momento da história das HQs fora aberto. A morte de Gwen Stacy é considerada por muitos (disputando com a nova série do Lanterna Verde e do Arqueiro Verde da DC Comics) o marco que põe fim à Era de Prata (1956 – 1970) e dá início à Era de Bronze (1970 – 1979) dos quadrinhos. Essa nova Era seria marcada por uma linha de histórias mais adultas, cada vez mais violentas e pontuadas por questões sociais, políticas, morais, éticas e até filosóficas.

As mudanças as quais nos referimos já começam a acontecer na revista seguinte, a edição nº123 da ASM. A aparição de um personagem negro, Luke Cage, é um bom exemplo disso. Algo a ser destacado é que dessa edição para frente, a arte da Amazing Spider-Man não contaria mais com a parceria Gil Kane & John Romita nos desenhos. A entrada de Ross Andru, na edição nº125 (outubro de 1973), é o aceno definitivo para uma nova época. John Romita, no entanto, continuaria a fazer as capas da revista do Homem-Aranha pelo menos até o início da década seguinte. Nesse meio tempo, sua ocupação como Diretor de Arte da Marvel lhe dava amplitude para interferir e remodelar alguns heróis, bem como guiar a identidade artística da editora.

O interessante é que as histórias de Gerry Conway e a arte do novato Ross Andru agradaram ao público. A parceria não se furtaria em criar as mais estapafúrdias possibilidades, como o affair entre tia May e o Dr. Octopus, o arahamóvel (esse realmente hilário, uma invenção com um toque do Tocha Humana) e as ótimas aparições de vilões como Chacal, Tarântula, e claro, o segundo Duende Verde, o drogado, depressivo e ex-amigo de Peter Parker, Harry Osborn. O final de Harry como Duende Verde II é patético, já que ele não carregava a esperteza do pai para ser um vilão a altura do Homem-Aranha, porém, antes de ser internado em uma clínica psiquiátrica, ele causa uma considerável bagunça para ser arrumada, inclusive com uma declaração pública (embora pouco acreditada) de que Peter Parker era o Spider-Man.

Amazing Spider-Man #144 – “The Delusion Conspiracy”: Roteiro de Gerry Conway e Arte de Ross Andru.

Outro evento importante desse período é uma armação do Chacal que vai criar um clone de Gwen Stacy, gerando um arco de três revistas (ou quatro, se considerarmos a comemorativa ASM #150) que ficaram conhecidas como “a primeira saga do clone“, que foi também a última revista dessa primeira temporada de Gerry Conway na ASM. Nessa edição, não só Stacy é clonada como também o próprio Peter Parker, e quem reaparece nessas histórias, depois de um bom tempo, é o professor Miles Warren, o clonador perturbado e obsessivo que assume o papel de cientista maluco, algo muito em par com a tendência sci-fi da época. Em 1976, outro acontecimento da revista entraria para a  história: o embate entre Homem-Aranha e Superman. Após anos de negociações com a DC Comics, a Marvel conseguiria fazer uma publicação do herói mais popular da casa com o herói mais popular da casa concorrente. Era a primeira de muitas parcerias entre as editoras.

Tempos Difíceis 

O grande problema das HQs seriais é que durante um tempo o leitor se depara com histórias incríveis, repletas de novidades e escritas com qualidade impressionante, mas sempre que atingem o ponto máximo de eficiência artística, o caminho dessas revistas é geralmente  a queda. Foi exatamente o que aconteceu com a Amazing Spider-Man. O período final de Stan Lee e todo o período de Gerry Conway nos roteiros da revista foi de grande popularidade e sucesso de crítica por parte do público. Todavia, com a saída de Gerry Conway em 1975, embora a revista mantivesse o número de vendas, a qualidade foi caindo aos poucos. O sucessor de Conway, Len Wien (que criou Colossus, Monstro do Pântano, Noturno, Retalho, Tempestade e Wolverine) tinha um excelente currículo, mas dificilmente fazia algo brilhante, e acabou não dando certo como roteirista fixo.

Os bons momentos de Wien à frente da revista foram as batalhas em que apareceram as personagens que ele mesmo criara, como Wolverine e Noturno, e principalmente o arco com o terceiro Duende Verde (o psiquiatra de Harry Osborn), nas edições #176 a #180 (1978). Paralelo à Amazing, a Marvel lançava uma terceira revista mensal para o herói: Peter Parker: The Spectacular Spider-Man (iniciada em dezembro de 1976).

Já no final da década de 1970, a Amazing Spider-Man começou a ser jogada para o escanteio, em detrimento de publicações como os X-Men. Embora o número de vendas permanecesse praticamente o mesmo, as críticas às histórias de Len Wein (que na verdade foi um grande escritor de HQs, apenas não deu certo na ASM) foram muitas, e ele acabou saindo da revista e também Marvel, voltando para a DC Comics. Assume o seu lugar outro grande escritor que não acertaria a mão como roteirista da ASM, Marv Wolfman (na edição #182, em julho de 1978). Outra troca acontece em 1979, mas dessa vez, na equipe artística. Ross Andru, que agradara muito fazendo os desenhos da revista, dá lugar a Keith Pollard. O período que se segue foi marcado por uma estéril e interminável sequência de revistas sem nenhum atrativo emocional ou impacto para a própria mitologia do cabeça de teia. Outra troca ocorreria em 1980, com a saída de Marv Wolfman e a entrada de Dennis O’Neil, um gigante do ramo que também (a bruxa estava solta!) não daria certo na condução do roteiro do Homem-Aranha.

Um Novo Tempo

Depois dos terríveis dissabores pelos quais passou, a Amazing Spider-Man voltou a ser uma publicação de qualidade. Em janeiro de 1982, Roger Stern estreava como roteirista da ASM e seu parceiro criativo nos desenhos era John Romita Jr. (o lendário filho de uma lenda!). A incursão de novas personagens foi o principal elemento de abertura dessa nova fase. Um novo Universo surgia para o aracnídeo, deixando para trás alguns vícios narrativos que acabavam tornando a revista refém de sua própria mitologia. Excelentes arcos de histórias e tramas paralelas aparecem e fazem dessa fase um novo ponto alto na história da revista.

Amazing Spider-Man #224 – “Let Fly These Aged Wings!”: Estreia de Roger Stern como roteirista da ASM. Os desenhos são de John Romita Jr.

A Edição nº238 da Amazing Spider-Man (março, 1983) já nasceu um clássico. Nela, um novo vilão chamado Duende Macabro aparece pela primeira vez. Os desenhos de Romita Jr. são um show à parte e a história é das mais instigantes dessa nova fase. A produtiva e excelente parceria Stern-Romita Jr. sofreu um golpe em 1984. A Edição nº250 (março, 1984) é a última vez em que os dois trabalham juntos. A besteira do Editor-Chefe Jim Shooter em insistir um uniforme negro para o lançador de teias (ideia encomendada para servir à saga Guerras Secretas, que ele então escrevia) foi o motivo que fez Stern pedir demissão, e o mesmo fez Romita Jr.. Entregue às pressas para Tom DeFalco, a Amazing entrou em um novo momento, tendo agora Ron Frez nos desenhos. Essa fase é marcada pelos vilões mafiosos, todos advindos do submundo do crime.

O que se segue a esse momento, já no ano de 1987, é uma bagunça de entrada e saída de roteiristas e desenhistas. O problema é demasiado patético, porque lida com o orgulho de DeFalco em não aceitar a visão de Stern para a resolução do arco do Duende Macabro. Resultado: uma enorme briga nos bastidores da editora que culminou com a saída de DeFalco e breve passagem de Peter David nos roteiros. O Duende Macabro se tornou um tema proibido na Marvel, um vilão cuja identidade secreta gerou aquela que foi uma das mais mais tensas brigas editoriais da revista.

Depois da reformulação da equipe, David Michelinie se torna o novo roteirista da Amazing, e John Romita Jr. volta para a sua segunda temporada na revista. Na primeira edição que fazem juntos, ASM #190 (julho, 1987), Michelinie e Romita Jr. chocam a legião de fãs do cabeça e teia e lançam a centelha do que seria o grande evento dos quadrinhos em 1987: o casamento do Homem-Aranha.

Amazing Spider-Man #290 – “The Big Question”: Roteiro de David Michelinie e desenhos de John Romita Jr.

Amazing Spider-Man #292 – “Dark Journey!” – Momento do “Sim” de MJ, na última tira da revista. O texto é de David Michelinie e os desenhos de John Romita Jr.

O casamento aconteceu na Amazing Spider-Man Annual #21 (1987), e ainda daria muito o que falar. Enquanto as bodas aconteciam e as polêmicas em torno do casamento se espalhavam, nas edições #293 e 294 da ASM, publicou-se uma história adulta, tensa e violenta, A Última Caçada do Kraven. A fim de não haver disparidade cronológica entre as revistas do Homem Aranha, A Última Caçada se fez presente nas 3 frentes (ASM, Web of Spider-Man e Peter Parker: The Spectacular Spider-Man).

Depois disse, era preciso que um arco de história se dedicasse a mostrar Peter Parker vivendo como um homem casado. David Michelinie escreveu um arco de três histórias sobre a lua-de-mel do cabeça de teia com interferências do vilão Puma. Nesse período, há também uma reformulação nas outras duas revistas do HA. A Web of Spider-Man passou de revista de histórias excepcionais para uma revista de importância cronológica. Já a Peter Parker… teve seu nome alterado para The Spectacular Spider-Man, e continuou garantindo as melhores histórias do Homem-Aranha na época.

Entre março e maio de 1988, a Amazing Spider-Man trazia um arco com um novo vilão, o Venom, e também um novo desenhista, Todd McFarlane, cujo desenho traria um novo padrão para o Aranha. É desse período, e já com Tom DeFalco (olhem só!) no cargo de Editor-Chefe, que o cruzamento de histórias entre as revistas da Marvel se tornariam algo muito frequente e um importante chamariz de vendas. A alta qualidade da dupla David Michelinie e Todd McFarlane também ajudou bastante, porque as revistas da Amazing conheceram um novo período de boas vendas e críticas. O embate entre o Duende Verde II e o Duende Macabro II é um dos grandes números da época.

Com a explosão de popularidade de Todd McFarlane na Amazing, a Marvel resolveu dar-lhe uma revista, onde assumiria não apenas os desenhos, mas também o roteiro: a Spider-Man. Seu lugar seria ocupado por Erik Larsen, que conseguiu adaptar bem seu estilo aos traços populares e estilo de McFarlane. Do período de Larsen nos desenhos da Amazing, destaca-se o arco do Sexteto Sinistro (iniciado em fevereiro de 1989), dessa vez sem o Kraven (morto), substituído pelo Duende Macabro II, agora já sendo um demônio, depois do pacto que fez com o diabo.

Na próxima e última edição desse Entenda Melhor, falaremos sobre as décadas de 1990, 2000 e 2010.

Por Guilherme e Luiz Santiago

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