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Fora de Plano #47 | Vote em Mim… II

por Luiz Santiago
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PLANO CRITICO ELEIÇÕES 2018 VOTE EM MIM POLITICA
  • Em 2016 eu escrevi algo sobre as eleições, no Fora de Plano #24: Vote em Mim…. Dois anos depois, cá estou eu com outro “algo” sobre as fervorosas eleições de 2018. Leia por sua conta e risco.

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Alguém, algum dia, teve um Sonho. E este Sonho acabou com o mundo.

Um escritor famoso, de pseudônimo Sandj Ego Riz, escreveu essa frase no primeiro ano da Mortalha nas Bocas. Z19L87, único descendente do romancista, conserva um frame disso num antigo dispositivo de 2 séculos e meio, quando os nomes deixaram de existir e passaram a batizar com duas letras e quatro números as Crias da Multiplicação. Na Via Pia & Ateia, perante o Deus-Artigo, levantam-se bebês nascidos-como-nascem e oficializam-se os 720 anos de vida que têm pela frente, com obrigações de linguagens matemáticas, não-sociologia galáctica, multi-ideologia-cibernética, anti-política alienígena, tradição da espécie, devastação de territórios inimigos, reprodução obrigatória e eutanásia, exatamente no dia de seu 720º aniversário. Assim havia previsto o Sonho. E o Sonho era bom.

Por fora do cubículo PC2013, Z19L87 via passar as naves em direção ao Tabernáculo, o Poder Central. Seu turno noturno começaria dali a 6 minutos. O implante auricular dizia que até o fim do Ciclo B, as crias deveriam levar as Falsas Palavras de Liberdade ao Tabernáculo e delatar tudo ao Deus-Artigo. Há milênios as Colônias do Pomo de Adão funcionavam sob as melhores condições do Sonho. O Sonho que, nas palavras de SER, como era apelidado o proibido romancista, “acabou com o mundo“.

Para os descendentes, aquilo não fazia sentido. Em nenhum estágio da Pós-Espécie a prosperidade tinha sido tão grande. Os níveis de felicidade eram os melhores. As relações entre as crias exalavam harmonia. A paz (Categoria FORÇA) não sofria nenhuma alteração desde o extermínio das Ideias-Livres de V774104, no primeiro ano pós-Sonho. O mundo nunca fora melhor e mais pleno do que agora. Todos eram rigidamente iguais. Todos pensavam e escolhiam religiosamente as mesmas coisas. A Divina-República Si Vis Pacem, Para Bellum das Colônias do Pomo de Adão se expandia em ordem, sob a mão benevolente do Deus-Artigo.

Dois minutos. Z19L87 nunca se acostumava com aquilo. Chamavam de “turno noturno” e, nas palavras do Artigo Um, aquele era o seu trabalho. Turno noturno. Mas havia luz. Sempre havia luz.

Um minuto e meio. Uma forte descarga elétrica no ar. Sons. O trabalho de Z19L87 e de todas as crias das Colônias era transformar as informações do turno em algo que o Artigo Seis dizia ser “dados secretos”. Antes do Cercamento das Ideias Próprias, no ano 18, as Crias Sujas espalharam o boato de que aquele trabalho permitia que centenas de Sonhos (da mesma categoria que um dia o SER criticara num romance) pudessem destruir outros mundos. Mas Z19L87 não acreditava nisso. Ele era o valioso componente de uma urna eletrônica e seu trabalho era fazer com que outras crias tornassem os seus mundos tão prósperos, felizes, unificados e pacíficos quanto o da República que ele vivia. Sandj Ego Riz, pensou Z19L87, era um Extremista Sujo.

Um minuto. Seu transporte já estava pronto. O turno noturno iria começar. Ele tocou levemente o implante auricular e foi cumprimentado por uma Sonhadora voz: “Você está preparado para tornar os outros mundos um lugar tão bom quanto o nosso? Z19L87, bem-vindo ao dia das eleições!“.

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