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Lista | Christopher Nolan – Os Filmes Ranqueados

por Iann Jeliel
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Nolan

Amado por muitos, odiado por tantos. Christopher Nolan definitivamente é um diretor que mexe radicalmente com as emoções dos cinéfilos, melhor dizendo, com as razões? Obcecado pelo realismo, cientificismo e racionalismo, o diretor se tornou bastante popular por seu poder comunicativo com temáticas de senso comum, tratadas sob uma óptica que sempre busca ser mais complexa, seja por intervenções de montagem – sua especialidade como autor –, dilemas morais específicos, grandiosidade de conceitos ou surpresas ao final de suas histórias. No limiar entre o professor que quer explicar tudo o que cria e um ilusionista que manipula seu público constantemente na narrativa para provar seu ponto moral, Nolan definitivamente é um grande autor, para o bem ou para o mal.

Com a recente estreia de Tenet, seu mais novo filme, em plataformas digitais, eu (Iann Jeliel) me junto ao nosso glorioso editor Ritter Fan e aos colunistas Kevin Rick, Michel Gutwilen, Roberto Honorato e Davi Lima para polemicamente ranquear os onze filmes do polêmico diretor, do pior ao melhor. Por se tratar de uma lista conjunta, existiram alguns critérios para chegarmos a esse veredito (por ordem de prioridade):

  1. Somatório das notas. Cada participante mandou seu ranking com a nota dos filmes acompanhada, quanto maior o somatório, melhor a colocação;
  2. Somatório das posições. Em caso de empate no primeiro critério, os dois filmes disputariam o somatório dos números das posições dos rankings. O menor número (indicando o mais bem posicionado) levaria vantagem;
  3. Maior nota, mais vezes. Persistindo o empate, aquele que tivesse a maior nota individual presente na disputa por mais vezes levaria a vantagem.

Lembrando que nenhuma lista tem caráter definitivo, especialmente as feitas por mais de uma pessoa, que por si só já divergem entre si, portanto, deixem sua lista nos comentários! Abaixo, alguns comentários (meus) supérfluos sobre cada filme, mas você pode conferir uma opinião bem mais detalhada acessando nossas críticas, é só clicar no link em cada título.
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11° Lugar: Insônia

(17 Pontos)

Nem parece ser um filme do Nolan, ou é no mínimo estranho que um filme com uma montagem tão problemática pertença a sua filmografia. Isso porque os efeitos que ele normalmente usa na edição se reverberam na narrativa de alguma forma, e aqui soam completamente avulsos à história, que possui um suspense circular que pouco explora o embate moral de seus personagens. Robin Williams definitivamente não nasceu para ser vilão.
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10° Lugar: Tenet

(17 Pontos – Vantagem Por Posição)

O mais novo filme do diretor reúne todas as suas características, sem talvez a mesma inspiração ou encanto de antes. É um Nolan talvez descontente com as críticas feitas a suas últimas investidas mais melodramáticas que decidiu agora ser completamente frio na construção emocional de sua história e cada vez mais particular em suas grandiloquências. Certamente é o filme mais maluco do diretor, conceitualmente, em que suas explicações parecem tornar tudo apenas mais confuso, o que não deixa de ser coerente com a lógica inversa da narrativa, mas que deveria em sua investida consciente abraçar mais a cafonice do gênero ao qual pertence. Se leva a sério demais e definitivamente distancia muito o seu público com isso.
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9° Lugar: Following

(17,5 Pontos)

O potencial temático inicialmente posto não é explorado devidamente por esses desvios propostos de forma, sendo que a intenção da montagem deveria potencializar essas bases temáticas a reflexões mais profundas, ou assumir o filme em um exercício de gênero mais explícito, algo que nunca acontece. E olha que ele nem é tão acessível quanto outros filmes do cineasta mais a frente, no entanto possui essas mesmas fragilidades do diretor vindas dessas obsessões tecnicistas e racionais que acabam limitando ao invés de ajudar a própria criação.
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8° Lugar: Dunkirk

(18,5 Pontos)

O Nolan tecnicista obsessivo em sua máxima, no entanto não nova. A brincadeira de linhas temporais novamente aqui parece gratuita, embora seja um recurso válido e eficiente pensando no espetáculo visual. E isso Nolan entrega em um magnifico trabalho sonoro, especialmente. Contudo, há de se questionar se visualmente é tão grandioso quanto poderia e se a intenção não fosse, por que ser tão frio ao buscar ser intimista. Nesse limiar do espetáculo do íntimo, Nolan encontra a barreira do emocionalmente vazio, e quando tenta desfazê-la ao final para trazer o exercício de memória à tragédia, o tributo se torna artificial.
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7° Lugar: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

(20,5 Pontos)

É o Nolan se expondo, e com isso o fechamento da trilogia Batman acaba sob inúmeras irregularidades, mas ao mesmo tempo um sentimento anárquico (como bem descreve o Davi) de um cineasta racional se arriscando ao caos. Esse realismo contrastante com o nível de grandiosidade climática peca no excesso de duração e algumas breguices, mas brilha em um grafismo digital que faltava a esse Batman, fora os grandes momentos isolados, e no geral consegue fechar todos os arcos com coerência.
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6° Lugar: Interestelar

(21,5 Pontos)

Definitivamente é o filme mais exposto do Nolan, por isso é também seu maior divisor de águas, porque depende muito se você acredita em seu amor pela ciência ou não. Nenhum filme dele se entrega tanto ao emocional, mesmo que de forma organizada a explicações cientificas, ele está diretamente ligado ao senso de deslumbramento que o cineasta quer passar na sua viagem interestelar. Gostando ou não, é honesto e inegavelmente bonito se você acredita junto ao diretor que um dia o amor ao cientificismo nos trará inteligência suficiente para desvendar todos os mistérios do universo.
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5° Lugar: Batman Begins

(21,5 Pontos – Vantagem por Posição)

Costumo acreditar que o Nolan não se reinventa muito em sua filmografia, mas busca gêneros em que pode colocar seu estilo para ver o que que vai dar. O início da trilogia é a prova disso, é um filme de herói com a metodologia Nolan, e não Nolan se arriscando a fazer um filme de herói. Acaba que funciona, porque seu detalhismo e obsessão pelo realismo acabam por ser elementos diferenciais num gênero que ainda estava surgindo como tal e estabelecendo suas convenções que mais tarde olhariam para Nolan como uma das referências, junto a Raimi e Singer que ficariam num lado mais cartoon do gênero. Por ser tal encaixe, a ultra seriedade do diretor não despacha o fato de ser um filme de herói, na verdade, seu estilo ajuda a trabalhar arquétipos típicos do gênero e dar um ar maior de profundidade e relevância moral para seus arcos.
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4° Lugar: O Grande Truque

(23 Pontos)

De certo modo trabalha uma metalinguagem da forma do diretor dentro da história, uma metalinguagem que assume seu método como um grande truque de mágica, que lógico, precisa ser dividido em linhas temporais diferentes, ou melhor, dois personagens, mágicos, que vão se conflituando para ver qual cria o melhor truque. Ora, o grande lance aqui é a ironia, onde mágicos não deveriam teoricamente explicar seus truques, mas há um prazer em fazer isso nesse caso porque é o diretor mostrando como funciona seu método ilusionista, como a mão do ilusionismo do filme que estará nas entrelinhas preparando o verdadeiro “Grande Truque”.
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3° Lugar: A Origem

(23 Pontos – Vantagem Por Posição)

Conceitualmente é o mais vistoso filme do cineasta e ele parece se orgulhar disso, tanto que explica atropeladamente cada detalhe que o possibilita racionalizar o lúdico mundo dos sonhos. É inegável que o diretor é um bom didata, e nesse filme ele se assume como professor ao mesmo tempo em que utiliza as possibilidades da premissa para fazer uma mescla experimental de gêneros, potencializando a grandiosidade dos conceitos. Ainda consegue costurar isso numa dramática familiar certeira como integrador da mistureba de ideias em centro coerente de história. É seu projeto mais autoral, definitivamente bem original.
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2° Lugar: Batman – O Cavaleiro das Trevas

(26 Pontos)

Quando Nolan se permite ao caos ainda no controle. Ele evolui a estética do Begins e a eleva a outro patamar. Com um Coringa pronto e um universo bem-estabelecido, o diretor pode brincar com o psicológico do seu personagem em caóticas situações aleatórias que irão desafiar as regras do seu manto. O roteiro é imprevisível e implacável como seu vilão, que assume basicamente o protagonismo, tamanha a chamatividade de Heath Ledger numa das grandes performances da história do cinema. As consequências com ele em cena são postas em xeque frequentemente em larga escala, libertando o filme para um salto enorme na grandiosidade da ação. É um filme que remodelou o gênero pela identidade e se sobressaiu a ela, tornando-se um marco inesquecível para o cinema.
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1° Lugar: Amnésia

(26,5 Pontos)

Um filme contado de trás para frente é algo raro. Parece complexo, mas Nolan consegue estabelecer essa lógica sem ficar cronologicamente bagunçada, conversando com a premissa que brinca com nossa perspectiva de armazenamento de memória curta, tal como a condição de seu protagonista, Leonard, que não consegue lembrar o que acabou de acontecer minutos atrás. O intuito de Nolan é dificultar nossa compreensão da história da mesma forma que o protagonista sente dificuldade em desvendá-la por sua condição, o que causa um efeito curioso ao telespectador, que se vê diante de um quebra-cabeça montado por respostas que inevitavelmente já possui. A combinação funciona e funciona muito bem, criando um thriller inteligente, instigante e bastante criativo.

  • Lista originalmente publicada em 28 de julho de 2017, sendo atualizada com participação da visão da nova equipe para republicação.

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