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Lista | Mayans M.C. – 1ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Temporada:

  • spoilers.

O aguardado spin-off de Sons of Anarchy chegou com uma temporada inaugural de 10 episódios que, mesmo começando de maneira claudicante, sentindo o terreno e tentando fazer todas as conexões possíveis com sua irmã mais velha, não demorou quase nada para ganhar sabor próprio e completa – ok, quase completa – independência em relação ao que veio antes. Kurt Sutter e Elgin James, capitaneando o projeto, beberam da fonte original, mas criaram algo completamente novo e, diria, a julgar por essa 1ª temporada, mais ambicioso do que a história de Jax Teller, família e amigos.

Diferente de SoA, que focava mais no topo da pirâmide da gangue de motoqueiros, agora os holofotes são direcionados à base, com Ezequiel “EZ” Reyes, apenas um prospect dos Mayans, no centro do palco. Um rapaz brilhante que potencialmente tinha uma vida de sucesso pela frente, ele fora preso pelo assassinato de um policial em condições misteriosas que são abordadas a conta-gotas ao longo da narrativa, e saíra mais cedo ao fazer um acordo com o DEA para desbaratar o Cartel Galindo (o mesmo que aparece em SoA), o que exigia que ele passasse a fazer parte do clube de motociclistas Mayans, na cidadezinha de Santo Padre, na fronteira entre os EUA e o México. Irmão de Angel, já membro do clube e filho de Felipe, um homem de passado misterioso e traumático, EZ serve como um condutor narrativo muito eficiente, especialmente considerando que ele tem amarras também diretamente com Miguel Galindo, o patriarca do cartel, já que o amor de sua vida, Emily, tornou-se a esposa dele depois que EZ a afastou quando foi encarcerado.

Somente essa costura já mostra o quão complexa é a série, mas há mais, muito mais. Mergulhamos profundamente nas maquinações de Miguel também, sempre aconselhado pelo fiel – de seu jeito – Devante e com Emily, aos poucos, depois do sequestro de seu filho, envolvendo-se nos negócios escusos do marido. Aliás, o sequestro em si foi maquinado pelos grupo rebelde Los Olvidados, apresentado como uma milícia extremamente organizada que tem como objetivo derrubar o Cartel Galindo. Mas a história verdadeira é muito mais insidiosa, muito mais interessante, e ela envolve, ainda, o nefasto e inteligentíssimo promotor federal Lincoln Potter, pinçado brilhantemente de SoA pelos showrunners e que entra para engrossar ainda mais o caldo e precipitar eventos que amarram a temporada de uma maneira lógica, além de permitir a rearrumação do tabuleiro para a vindoura 2ª temporada, que recebeu luz verde  para a produção em razão da elevada audiência da série nos EUA.

Mayans M.C. é um filho de Sons of Anarchy, não restam dúvidas. Mas é um filho precoce, independente e profundamente perturbado. Se esse começo nos diz alguma coisa, é que o futuro da série não parece que será menos do que sensacional.

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Tradicionalmente em nossas coberturas por episódio de temporadas, elaboramos nosso ranking dos episódios, que segue abaixo. Concordam? Discordam? Têm sua própria lista? Mandem seus comentários e vamos conversar! E não se esqueçam de clicar nos links para lerem as críticas de cada um deles.

10º Lugar: Búho/Muwan

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Se a montagem paralela inicial é interessante em sua tentativa de criar suspense, ela parece jogada e aleatória demais, considerando que as investigações do Cartel Galindo sobre Los Olvidados tinham acabado de ser intensificadas. O roteiro de Sean Tretta e Andrea Ciannavei perde a chance de construir algo que realmente traga sensação de perigo e a montagem fica sendo apenas um artifício estilístico vazio que reempacota a situação do grupo rebelde como sendo financeiramente periclitante ao ponto de nem mais terem comida, uma completa novidade que cai de pára-quedas na história. Afinal de contas, muito ao contrário, Los Olvidados havia sido apresentado como um contingente anti-cartel extremamente organizado e eficiente, usando tecnologia e estratégia para minar o comércio ilegal de drogas de Miguel. Do jeito que o episódio os enquadra, eles agora são um bando de desesperados que se financiam com as mesmas drogas que combatem (o que faz menos sentido ainda do que sequestrar o bebê de Emily e Miguel, diga-se de passagem) e cujo plano de fuga de seu acampamento no deserto é menos organizado do que quando um camelódromo sofre uma batida policial nos centros urbanos brasileiros.

9º Lugar: Perro/Oc

1X01

Como todo episódio piloto, era necessário estabelecer os pilares sobre os quais a série será construída e isso o roteiro que Sutter co-escreveu com Elgin James faz bem, mesmo considerando todas as intrincadas relações e revelações a que somos apresentados nessa hora inicial. Mesmo assim, é visível uma certa desconexão narrativa, como se o diretor, a cada final de sequência, “apagasse” o quadro negro e começasse novamente. Outra analogia seria como ver um belíssimo bólido de corrida pronto para disparar, mas engasgando quando dá partida. Sei que pode parecer exagero, mas Perro/Oc é mais feito de pedaços de um  ou dois episódios do que de um episódio completo, pensado como uma coisa só do começo ao fim. Personagens diferentes entram e saem sem muita cerimônia, com referências forçadas (precisava mesmo colocar Gemma naquele flashback?) e um ritmo claudicante e espasmódico que vão além do que um episódio inaugural deveria ir.

8º Lugar: Escorpión/Dzec

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Mesmo com foco quase integral no sequestro, o roteiro ainda tem tempo de introduzir novas sub-tramas, especialmente a de El Coco (Richard Cabral) e sua irmã (ou seria filha?) no mercado de pornografia e sua mãe prostituta. Se Sons of Anarchy era como a classe média dos clubes de motoqueiros, Mayans lida com um estrato social menos abastado, em que as diferenças sociais e econômicas são ainda mais contundentes e dolorosas. A abordagem do showrunner parece querer desnudar essa outra camada, sem medo de lidar com temas difíceis e polêmicos. Outra breve linha narrativa lida com um pouco mais do passado de EZ, com um mini-flashback em que vemos sua mãe morta (ou quase) sendo levada em uma ambulância oito anos antes, algo que provavelmente tem conexão com o assassinato que ele cometeu.

7º Lugar: Murciélago/Zotz

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Emily é, para mim, o maior destaque aqui. A mãe que perdeu o filho não descansa e se recusa a desistir, mesmo com seu próprio marido jogando contra. Mas, para conseguir o que mais deseja, ela precisa fazer o que sua sogra alerta como sendo algo que terá um preço terrível: mergulhar no submundo de seu marido e, com isso, aceitá-lo. Seu plano para reverter o cenário de conflito do Cartel Galindo contra Los Olvidados é a guerra de guerrilha, mas ela, para todos os efeitos, é uma amadora que mantém-se inocente diante da efetiva realidade do que seu marido faz. A eficiente sequência final na procissão em Santa Madre reúne todo o conceito por trás de Mayans M.C., com a dicotomia do profano e do sagrado envolta em traição e morte. Será muito interessante ver a jornada de Emily, se ela se afastará e procurará ajuda de EZ ou, como desconfio, abraçará de vez o lado sombrio que está escondido atrás dos ternos bem cortados, do Rolls-Royce último tipo e da mansão hollywoodiana de seu marido.

6º Lugar: Cucaracha/K’uruch

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De toda forma, agora o tabuleiro enevoado e antes impossível de Kurt Sutter e Elgin James começa a ficar claro, com uma visão de todo muito melhor. Se o cartel realmente encetar um acordo com Los Olvidados, então a traição de Angel e de seu grupo dissidente deixa de ser traição e uma unicidade nos Mayans dá sobrevida a eles. Claro que isso não resolve a traição de EZ (a relacionada com o DEA, pois ele é duplamente traidor, só para não esquecermos), mas pelo menos torna a coisa mais direta, mais “fácil” de raciocinar. No entanto, estamos ainda no episódio 7, com mais três ainda por vir, ou seja, há ainda muita água para passar debaixo dessa ponte e o que agora perdeu um pouco a complexidade pode ganhar outros contornos muito facilmente, até porque tenho para mim que Devante será contra o acordo e tentará influenciar Miguel de acordo.

5º Lugar: Serpiente/Chikchan

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Serpiente/Chickchan é uma traição envolta em uma desonestidade, dentro de uma cilada pontilhada por doses generosas de fingimento, falsidade e deslealdade, tudo embrulhado em uma emboscada. É como pegar todas as reviravoltas de todos os filmes policiais dos últimos cinco anos derramados e organizados em pouco mais de uma hora de televisão da mais alta categoria, uma verdadeira aula de como se contar uma história perfeitamente lógica dentro da estrutura estabelecida em uma série.

4º Lugar: Uch/Opossum

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Continuando imediatamente após os eventos aterradores no final de Murciélago/Zotz, Emily, hospitalizada, recebe a visita secreta – mas não tanto – de EZ, preocupado com ela. É a primeira oportunidade que ele tem de começar a trazê-la para seu lado, como Jimenez pedira. Mas não há tempo e a sequência é toda construída para gerar a tensão necessária entre o protagonista e Miguel, que o chama para uma “conversa” intelectual no exato lugar que ele planeja comprar para dar impulso à economia da região, algo que EZ diretamente – e inevitavelmente – correlaciona com a missão de Michael Corleone na Trilogia O Poderoso Chefão. A segunda oportunidade que o Prospect tem é ao final, quando, ao reverso, Emily o procura para desabafar sobre o aborto que fizera de vingança, em uma atitude asquerosa pela qual ela acha que está sendo castigada agora.

3º Lugar: Cuervo/Tz’ikb’uul

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Digo isso porque Cuervo/Tz’ikb’uul (eita palavrinha complicada essa, hein?) é um season finalepeculiar que não foi criado para deixar o espectador boquiaberto o tempo todo, com sequências atrás de sequências típicas de um encerramento apoteótico. Apesar de conter uma breve sequência chocante, o episódio é muito mais um epílogo dos eventos que se desdobraram ao longo de Rata/Ch’o e Serpiente/Chikchan do que um clímax e isso é bom quando bem feito – o que, claro, é o caso aqui -, pois rearruma e deixa pronto o tabuleiro para a vindoura 2ª temporada.

2º Lugar: Rata/Ch’o

1X08

A tranquilidade como tudo acontece entre os Galindo e Potter tem um ritmo próprio que Peter Weller (sim o RoboCop original que vem se aventurando na direção de televisão desde os anos 90 e foi responsável por mais de uma dezena de episódios de Sons of Anarchy) aproveita ao máximo, extraindo de Ray McKinnon aquela atuação irritante ao extremo que tínhamos nos esquecido o quanto era boa. Mas esse jogo é insidioso, sujo e desnuda uma política asquerosa de manutenção do status quo no tráfico de heroína na fronteira entre México e Estados Unidos que realmente dá raiva imaginar que muita coisa é de fato inspirada em fatos históricos. O tal do “bem maior” acaba tornando necessária esse tipo de chantagem e tentativa de manobrar um cartel assassino como o de Galindo.

1º Lugar: Gato/Mis

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E como a cereja no bolo que é esse absoluto inferno em que todos se encontram ao final do episódio, eis que surge Lincoln Potter (Ray McKinnon), o promotor que obsessiva e brutalmente investigou o SAMCRO em Sons of Anarchy. Seu aparecimento ali no final, naquele tom ameaçador, é o equivalente a acender um rastilho de pólvora para fazer tudo explodir ao longo dos quatro episódios finais da temporada.

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