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Lista | The Handmaid’s Tale – 2ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Luiz Santiago
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Nota da Temporada

A 2ª Temproada de The Handmaid’s Tale provou-se um verdadeiro teste para os seus produtores. Após o inesperado e estrondoso sucesso da temporada de estreia, a série precisava mostrar força e relevância, fazendo valer todas as expectativas nela depositadas até então. E como era de se esperar, a reação passou por todos os lugares, dos positivos aos negativos. Acusações de “pornô de tortura“, “violência gratuita“, abandonos da série… de tudo teve. Foi uma temporada que tentou lutar contra a estagnação, perdeu algumas batalhas (especialmente as finais!) mas acabou vencendo o bastante para se manter boa e uma das melhores hoje em exibição. Mesmo com o final questionável, as expectativas permanecem altas e… nos vemos na 3ª Temporada! Abaixo, segue a minha classificação pessoal para os episódios deste segundo ano. Não se esqueça de também deixar a sua lista pessoal nos comentários!

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12º Lugar: The Word

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A direção de Mike Barker, especialmente na parte final do episódio, foi algo para ser aplaudido de pé. O diretor segurou como ninguém o ritmo para os diferentes blocos de tensão, chegando ao ponto onde o resgate viria e… bem… quebrando novamente o ritmo para a execução de um mal caminho do texto, com a permanência de June. Penso que a próxima temporada nos dará lampejos que como essa união de Martas aconteceu, nos bastidores, e o que será de June a partir de agora. Eu espero muitíssimo que ele não volte para a casa do Waterford e que faça a sua “jornada de vingança” (ele ficou para isso, certo?) a partir de um QG secreto, sei lá. Rogo para que os desequilíbrios de concepção da segunda parte dessa temporada não retornem no terceiro ano. Este segundo foi bom, mas com uma questionável visão de mudança. A vida segue, porém. Que venha a queda de Gilead…

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11º Lugar: Postpartum

2X12

Se é para apresentar cliffhangers que não têm impacto narrativo a curto e médio prazo, então qual é o motivo de mostrá-los? Este é um dos pontos que torna esse roteiro problemático em pelo menos metade do tempo. Existem uma grande porção de questões ignoradas ou “resolvidas” às pressas, servindo a um propósito de “fechamento de arco” que não é satisfatório. Notem, por exemplo, a terrível e dolorosa punição de Eden, por adultério. A personagem entrou na série como uma potencial ameaça, foi mais ou menos mantida para esse propósito, inclusive com incursões no roteiro para olhares furtivos e frases suspeitas, tudo isso para, no fim, ela ir procurar amor nos braços do infame Isaac e se manter no propósito pessoal, tendo aquele final muito, muito difícil de se assistir.

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10º Lugar: First Blood

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A sensação de completude vai sendo conquistada aos poucos, pelo roteiro, e o espectador sofre um pouco com isso. Por um lado, é compreensível que o texto tenha que ir por um caminho mais “monótono” da vida de June. O propósito aqui é não fazer com que sua retomada de consciência e ações críticas pareçam abruptas, o que de fato seria um problema. Mas diante desse modelo geral, o que temos é um capítulo lento demais, onde pouca coisa realmente importante para a série acontece. o que não significa que os conflitos apresentados sejam ruins.

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9º Lugar: Baggage

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O fato de ter maior presença da protagonista e muitas coisas do passado em cena pode irritar alguns espectadores. Este é um ponto inconciliável de opinião, dado o propósito narrativo, mas ainda assim vale convidar a todos a pensarem um pouco sobre como é necessário um backgroundque justifique, amplie e até explique como as coisas chegaram a este ponto. O mural que June cria, no período em que passa no The Boston Globe é um começo disso, mas as cenas familiares e a ideia de algo que “estava sempre ali, mas a gente não viu” grita e torna a ligação com o nosso mundo legítima, como abordei de maneira mais profunda em June / Unwomen. Aqui, cercada por uma fotografia cinza e em planos longos, June está à beira de mais um capítulo de desastres. Nós sabemos que as mulheres grávidas em Gilead não necessariamente são maltratadas (bem… não como são as não-grávidas), então fica a dúvida sobre o que deve acontecer com June a partir de agora. Será acorrentada, como a mulher que vimos no início da temporada? Voltará a ser Offred? O futuro volta a ser amargo e enraivecedor. Como acontece em todo lugar onde as liberdades são tomadas, escapar não é uma coisa fácil. Os algozes que pregam a tal ideologia do “isso é melhor para todos” ou “a gente sabe o que é melhor para você” farão o que puderem para garantir isso.

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8º Lugar: After

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E como sempre, as mudanças afetam até mesmo os que estão no centro do poder. Aqui, Serena (reparem: eu usei o “R”!) se coloca em uma posição que provavelmente causará problemas, ou seja, a de liderança. Ela derrubou um Comandante, com a ajuda de Nick, e agora senta-se à mesa de Fred, enquanto dá a June a tarefa de editorar o novo documento para a base de segurança em Gilead. E com o mesmo gancho do dispositivo em destaque no outro episódio (o clique da bomba, causando destruição), temos aqui o clique da caneta, que deverá registrar um novo passo para esta sociedade. O quanto isso irá avançar, ainda não sabemos, mas a construção disso no presente roteiro, como consequência do ataque, foi muito bem feita e deliciosa de se assistir. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

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7º Lugar: Seeds

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Pesa negativamente aqui a interação com alguns momentos das Colônias ou mesmo a colocação desse bloco aqui no episódio, que serviu apenas para mostrar algo que poderia facilmente ter vindo em um capítulo inteiramente ali ambientado, com uma história sólida, melhor pensada para nos levar para algum lugar. O projeto fotográfico, porém, permanece em alta, assim como todas as atuações do elenco. Essa fusão de mundos e a possibilidade da chegada de algo novo — que pode ser qualquer coisa, a essa altura — me lembrou muito um dos meus poemas favoritos, Exausto, de Adélia Prado, que deixo como reflexão final para vocês, assim como a pergunta: o que acham das opiniões sobre abandonar a série pelo caminho que ela estava (ou está) tomando, mesmo considerando só o começo da temporada?

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

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6º Lugar: Smart Power

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A visita de Waterford ao Canadá era algo que nos intrigava. Com o ritmo que as coisas iam no começo desse segundo ano, só tínhamos a perspectiva de que uma aproximação diplomático-econômica entre Gilead e o “lugar de esperança” fosse tirar a única opção momentânea de fuga para as pessoas que viviam na ditadura fundamentalista onde antes eram os Estados Unidos. Mas as coisas caminharam para um rumo bem diferente. Aqui, o roteiro de Dorothy Fortenberry representa muito bem a ideia política de “Smart Power” (tentativa de equilibrar poderes bélicos e ações de força com alianças e contratos diplomáticos, além de apoio do maior número de forças possíveis) e, ao mesmo tempo que desenvolve o que pode ser uma quebra pessoal em Serena (tudo em relação a ela é nebuloso — ou talvez seja eu mesmo, que não confio na personagem), levanta suspeitas para o que pode acontecer com June. Em relação à visita internacional, não dá para ignorar a cena entre ela e o embaixador dos Estados Unidos (filmada com o primor de um flerte passivo-agressivo). Isso mesmo. Os EUA ainda existem e, ao que tudo indica, é apenas o território do Havaí.

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5º Lugar: Other Women

2X04

Mergulhado em uma trilha sonora falsamente confortável, em tons fotográficos verdes, difusos e com contrastes belíssimos de luz do Sol durante o chá de bebê, o segundo ato deste episódio é ao mesmo tempo um mergulho na desesperança e na ambiguidade pelo que virá. Notem que Tia Lydia fez questão de separar as mulheres no diálogo com sua Aia mais difícil. June e Offred. Até quando isso vai ser um ponto de separação na série, não sabemos, mas todo o pensamento negativo que eu tinha em relação ao retorno de June para Gilead foi desmontado por um capítulo repleto de excelentes discussões, tendo ainda uma breve e inquietante conversa entre os Comandantes sobre uma “visita ao Canadá“. Gilead tem planos de expansão? A pergunta “o que fazer quando não se tem mais esperança?” nunca fez tanto sentido.

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4º Lugar: Women’s Work

2X08

Prezando pela iluminação focal, interna, a fotografia de Women’s Work é um presente bem embrulhado para o espectador. Como as pequenas esperanças que se acendem de maneira individual, em um único espaço — e depois se espalhando para muitos outros, deixando “os de fora” olhando, perplexos, sem saber exatamente o que fazer –, Fred vai acendendo abajures, contemplando sua luz, assim como Serena e June. E tudo isto em um episódio onde uma Marta médica é chamada para atender uma criança e onde Janine reata os laços com sua bebê, que ao raiar do dia, com todo o simbolismo de uma “nova página” que isso pode trazer, está bem, deixando Tia Lydia estupefata. A passagem da dor, do constrangimento e do ódio para a beleza de uma criança num momento de doçura com a mãe, foi uma das mais belas formas de se terminar um episódio. Na maior quietude possível, os roteiristas conseguiram armar a enorme pira de uma enorme fogueira. Uma das maneiras mais inteligentes e sutis de “criar um monstro” que eu já vi em uma série.

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3º Lugar: The Last Ceremony

2X10

A relação com a simbologia religiosa está encoberta de horrores gerados pelo extremismo dessa mesma religião (temática, aliás, frequente na série) e que chega, a meu ver, em seu melhor tratamento no show, até aqui. Resta saber se a “traição de Judas” está representada naquilo que acontece com Nick ou se isso está ligado a uma outra abordagem temática, que deve traçar o caminho para o fim da temporada. Uma certeza temos: as muitas “últimas cerimônias” aqui, foram como ritos de passagem bem escritos, bem dirigidos e interpretados de maneira soberba – até a atriz mirim Jordana Blake dá seu showzinho de atuação! Resta saber para o quê esse ritual está nos levando. Assim, nosso coração não aguenta…

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2º Lugar: June / Unwomen

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Estabelecendo um cenário de encontros, lutas e recolocações, a 2ª Temporada de The Handmaid’s Tale começa sem piedade alguma. E incrivelmente cada vez mais real para nós. Este é o tipo de história que incomoda tanto pelo conteúdo, quanto pela óbvia semelhança que tem com práticas já correntes em nosso mundo. Há sugestões vindas da trilha sonora, do memorial, do episódio de Friends que June assiste, do corte de cabelo, da queima de roupa e das ações até então “menores” de revidar contra o sistema que nos conecta com essa realidade, alertando e convidando a pensar. Em um mundo onde surgem cada vez mais pessoas e grupos políticos achando que o Estado deve intervir em tudo e na vida de todos — “para um bem maior” — e que o controle de expressões pessoais e do corpo deve ser tutelado porque “você não sabe o que é melhor para você, mas o Estado e a religião sabem“, The Handmaid’s Tale é uma sirene em volume máximo. O horror, desta vez, não está apenas na “brincadeira da ficção“. Não é “tudo de mentirinha“. Não desta vez.

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1º Lugar: Holly

2X11

Não é nada espantoso que June tenha tido o merecido momento solo, no nascimento da filha, uma demonstração de agressão (a loba em June) e de recuo diante do lobo no caminho. E para coroar isso, a própria estrutura de entrega do texto aqui foi atípica em toda a série, deixando claro um modelo narrativo e até de encadeamento do drama que os PHE e alguns espectadores vêm se esquecendo pouco a pouco: o conto, exatamente como nos promete o título do programa. Como em todo conto, as viradas dramáticas precisam destacar o narrador, especialmente se estamos falando de algo novo para ele. Pois aqui está. A história da maternidade segundo o Conto da Aia.

p.s.: eu quero deixar registrado que me emocionei muito na cena do parto e que fiquei extremamente feliz que Holly tenha nascido em um ambiente onde apenas sua mãe estava. Fora do ritual de Gilead. Sem a cerimônia. Um bebezinho que chega ao mundo quebrando padrões sociais em uma ditadura. Uma verdadeira lobinha.

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