Home LiteraturaConto Crítica | Doctor Who: A Lança do Destino, de Marcus Sedgwick

Crítica | Doctor Who: A Lança do Destino, de Marcus Sedgwick

por Luiz Santiago
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Equipe: 3º Doutor e Jo Grant
Espaço-tempo: Londres, 1973 / Uppsala, Suécia, 22 de março de 141

Escritor, músico e ilustrador britânico nascido em 1968, Marcus Sedgwick tem uma notável carreira literária, com diversos prêmios recebidos por seus livros e um apreço muito grande por parte dos leitores. Desde seus primeiros livros, Floodland e The Dark Horse o autor parece ter um gosto por lugares pitorescos, algo que podemos ver claramente em sua representação geográfica no conto A Lança o Destino, que escreveu para a coleção de obras lançadas em comemoração aos 50 anos de aniversário de Doctor Who, em 2013.

Diferente do primeiro conto da série, adaptado em um “navio fantasma” nas nuvens; e do segundo conto, ambientado no limite do Universo conhecido, o ápice da trama de A Lança do Destino se passa em Uppsala, Suécia, no ano 141 da nossa era.

A história começa com o Terceiro Doutor e Jo Grant indo a um museu. Prontamente, o Time Lord deixa claro que eles não vão unicamente apreciar antiguidades, mas roubar um item do local. O tal item é uma lança chamada Gungnir, ou, a lança mágica de Odin, ou ainda, a Lança do Destino (Lança Sagrada ou Lança de Longino), mais conhecida por ser a lança que perfurou Jesus durante a crucificação.

 

Um fato curioso é que, segundo relatos, esse centurião de nome Longino e que perfurou Jesus, abandonou o Exército Romano, converteu-se e se tornou um Santo (não canônico) da Igreja Católica! Aqui no Brasil ele é mais conhecido como “São Longuinho”, aquele que ajuda as pessoas a encontrarem objetos perdidos e que recebe os três pulinhos como gratidão…

Bem, essa lança utilizada por Longino se perdeu no tempo mas, como toda relíquia ou todo objeto ligado a algo religioso, recebeu atribuições milagrosas. No ano 141 ela estava nas mãos de um viking muito famoso e era objeto de desejo de ninguém menos que O Mestre. A trama parece um pouco confusa, mas na verdade é simples: o objeto estava na Suécia no século II d.C., e em um museu de Londres no ano de 1973, quando o Doutor e Jo tentaram roubá-la, sem sucesso.

Segundo os Senhores do Tempo, essa lança é um “Nexo Físico-Temporal” (NFT) ou Physical Temporal Nexus (PTN), um artefato bastante poderoso que nas mãos erradas pode causar grandes malefícios para o Universo.

As referências utilizadas por Sedgwick são realmente interessantes e a interações entre os personagens é ótima, mas, em termos narrativos, alguns pontos parecem estranhos demais. A trama poderia ser até mais instigante se a TARDIS se materializasse no momento da crucificação, mesmo levando em consideração a falta de exatidão dos calendários sobre ela. Contendo uma referência do início do século I e a trama ocorrendo no norte da Europa no século II, há perda de força na história, mesmo que ela seja bem contada, o que torna os eventos na Suécia ao mesmo tempo interessantes pelo teor mitológico envolvido, mas distante de algo ainda maior: o “poder” da lança vinda dos eventos ocorridos no Gólgota.

À parte essa estranheza de localização, vale dizer que Marcus Sedgwick faz um bom trabalho em relação aos acontecimentos centrais, mantendo o leitor atento durante todo o desenrolar dos fatos e trazendo indicações interessantes para a própria mitologia da série. O encontro do Primeiro Doutor com o vikings em The Time Meddler não permitiu muita conversa ou interação entre eles, de modo que neste contexto, mesmo que prejudicial à credibilidade ou poder da trama (levando em conta a tal lança do destino) foi interessante ver os ‘verdadeiros’ Thor e Odin num mesmo espaço e interagindo com Jo e o Doutor. Só senti falta de Loki nessa história toda.

Referências ao Brigadeiro Lethbridge-Stewart, a Bessie, o calhambeque amarelo e à UNIT, além da presença do Mestre, tornaram o conto muito fiel ao mundo em torno do Terceiro Doutor, um ponto positivo para a história.

A Lança do Destino nos traz uma aventura icônica, cheia de referências históricas e bom humor. Uma pena o autor ter optado por um ambiente de pouca força simbólica na história, algo que, se fosse mais exato e com menos intermediários envolvidos (o colecionador — que no final das contas acaba nem sendo explicado — a exposição no Museu; os Vikings; Jesus) poderia fazer desta história uma das melhores dessa série de contos de aniversário.

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Marcus Sedgwick fala sobre o projeto

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