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Crítica | Em Chamas (Jogos Vorazes #2), de Suzanne Collins

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Em Chamas é o segundo livro da bem-sucedida trilogia da autora americana Suzanne Collins sobre um futuro distópico onde os Estados Unidos não mais existem e, em seu lugar, há um país em frangalhos chamado Panem formado por 12 colônias controladas com mão de ferro pela riquíssima Capital. Todo ano, cada distrito tem que oferecer dois tributos (um menino e uma menina entre 12 e 18 anos) para competir em arenas em que só um sobrevive.

No entanto, como vimos em Jogos Vorazes, a primeira parte da saga, Katniss Everdeen, tributo do 12º e mais pobre distrito, consegue, com suas ações, dar uma rasteira nas regras, fazendo com que seu par – Peeta Melark – volte junto com ela sãos e salvos para sua colônia.

Em Chamas começa logo em seguida, focando no aspecto da manipulação da imprensa mais fortemente ainda que no primeiro livro. Afinal de contas, se os Jogos Vorazes têm como função inibir impulsos de rebelião das colônias, então seu resultado tem que ser literalmente “esfregado na cara” de cada uma delas. Para isso, Katniss e Peeta são obrigados a fazer o Tour da Vitória que é fortemente televisionado e ele começa pelo Distrito 11, exatamente o Distrito da menina Rue, cuja vida Katniss tenta em vão salvar durante os jogos.

Sua chegada ao Distrito 11 é celebrada pelos moradores com o assobio da música que ela usara para se comunicar com Rue e com braços estendidos com três dedos juntos na mão para marcar o respeito ao que Katniss inadvertidamente se tornara: um símbolo de esperança. É claro que tal ato de desobediência civil é tratado com o maior grau de violência possível pela Capital, o que, logicamente, só contribui para aumentar as tensões.

Mas o Presidente Snow, sinistro comandante-mor da Capital, toma a questão como pessoal e parte para lidar com Katniss e, de quebra, com todos os demais tributos vitoriosos de outras versões dos jogos. Mesmo com todos os esforços de Peeta e da própria Katniss para arrefecer os ânimos exaltados dos moradores da maioria dos distritos, o fato é que o Presidente Snow sabe que está perante uma situação irreversível que exige, na cabeça dele, medidas drásticas imediatas.

E, para isso, ele manobra a terceira edição do Massacre Quaternário, que ocorre a cada 25 anos nos Jogos Vorazes, para fazer da 75ª edição uma edição em que os tributos de cada distrito sejam ex-ganhadores de jogos anteriores, independente da idade. Nada como matar dois coelhos com uma cajadada só, não é mesmo? E ainda manobrando a imprensa para transformar o que pretende realmente fazer em mais uma edição comum do tal Massacre.

Com isso, Suzanne Collins consegue nos remeter naturalmente novamente à estrutura do livro anterior, sem repetir exatamente a mesma história. Katniss entrou na edição anterior dos Jogos Vorazes por sua escolha, para salvar sua irmã Primrose. Agora, o Presidente Snow quer esmagar a resistência ainda débil que se forma e o símbolo representado por Katniss, usando os jogos mais uma vez. No entanto, com veteranos de jogos anteriores como competidores, sobreviver fica muito mais difícil.

O interessante da narrativa de Collins é que não só ela faz essa volta aos jogos parecer realmente algo crível e aceitável como, durante os próprios novos jogos, em uma floresta servida por um enorme lago de água salgada, ela faz parecer que tudo é realmente novo e original, certamente bem mais trabalhado que a primeira arena, o que impede o dejà vu. Da mesma forma, ela é bem sucedida ao introduzir novos personagens importantes, especialmente os tributos Finnick Odair, de 24 anos, Mags, mentora de Finnick, de 80 anos, a louca furiosa Johanna Mason e a dupla de geninhos Beetee e Wiress. Todos eles, mesmo que superficialmente, dentro do que é possível em um espaço de pouco mais de 400 páginas (na versão em português), são suficientemente bem trabalhados de forma a levar dúvidas e incertezas aos leitores. Seriam eles possíveis aliados ou novos vilões? Os desdobramentos e surpresas da narrativa vão se encaixando muito bem e, dessa vez, os aspectos de ficção científica da trilogia ficam muito salientes.

Mas é claro que Em Chamas é um “livro do meio”. Ainda que Collins saiba efetivamente encerrar a história de forma satisfatória, ela, diferente do primeiro livro, deixa gigantescas pontas soltas que só serão resolvidas no terceiro. Fica o mistério sobre o Distrito 13 que, conforme aprendemos, foi dizimado há 75 anos pela Capital gerando os Jogos Vorazes e o que exatamente acontece com Katniss ao final de Em Chamas. No entanto, considerando que Collins imaginou contar sua história em três grandes capítulos, essa sensação de falta de resolução no segundo é mais do que natural.

Assim como o primeiro livro, Em Chamas até pode ter como alvo os chamados “jovens adultos” (nada mais do que uma forma “marketeira” de chamar os adolescentes), mas ele oferece mais camadas do que muitos dos demais livros nessa mesma categoria. As implicações políticas, sociais e de liberdade e manipulação da imprensa, que são mais profundamente abordadas nesse segundo capítulo, certamente gerarão, naqueles que souberem extrair as lições, muitas conversas interessantes com os amigos. Tomara que o livro também gere curiosidade sobre as fontes que Collins bebeu para escrever sua obra, clássicos como 1984, O Senhor das Moscas e outros.

Em Chamas (Catching Fire, EUA, 2009)
Autora: Suzanne Collins
Editora (nos EUA): Scholastic Press
Editora (no Brasil): Rocco
Páginas: 413

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