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Plano Polêmico #12 | A Criatividade Morreu?

por Luiz Santiago
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IMPORTANTE: Embora eu cite diversas formas de produção cultural, o meu maior foco de análise para esse artigo será o cinema e a TV.

Você já se perguntou alguma vez por que Hollywood e outros polos cinematográficos ao redor do mundo estão completamente afogados em um Oceano de roteiros não originais em andamento? Já se perguntaram por que tantas séries de TV antigas estão ganhando novas versões, continuações, spin-offs e sequências? Por que existem tantos discos de compilação na indústria fonográfica ou por que tantos velhos e novos cantores andam às voltas em regravações de sucessos de décadas anteriores? Por que as editoras de quadrinhos andam zerando universos e fazendo reboot atrás de reboot, disfarçando intenções e recontando histórias de origem a perder de vista? Por que se encontram tantos livros seriados ou novelizações de alguma obra televisiva ou cinematográfica qualquer? Você já se perguntou se a criatividade morreu?

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Eu Sou a Diva Que Você Quer Copiar
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Vamos arrancar o band-aid de uma vez: ORIGINALIDADE NÃO EXISTE. Especialmente em produção artística. Faça uma descrição detalhada de qualquer temática que você quiser e tente buscar ocorrências disso na história. Você vai encontrar Nabokov fazendo algo que Heinz von Lichberg já tinha feito. Shakespeare fazendo algo que Tito Mácio Plauto já tinha feito. Godard fazendo coisas que o Cinema Avant-Garde dos anos 1920 já tinha feito. Dalí fazendo um recorte temático de Hieronymus Bosch. Tarantino fazendo tudo de todo mundo.

Nem os cartazes escapam!

Nem os cartazes escapam!

A criação humana, desde que se tornou conhecida de seus pares, impediu que o homem fizesse algo que já não havia sido feito. Há uma excelente abordagem a respeito desse tema (adicionando diferenciações entre originalidade, plágio e criptomnésia) que Oliver Sacks fez para o The New York Review of Books em 2013. O Texto se chama Speak, Memory e está disponível para leitura no site do NYRB, aqui.

Copiar, refazer o antigo com cara de novo, com novas tecnologias e novos pontos de vista não é algo nosso. Em 1916 Thomas Dixon Jr. dirigiu um filme chamado The Fall of a Nation, que era uma sequência de O Nascimento de Uma Nação, de D.W. Griffith, feito um ano antes. Em 1919 John Ford dirigiu um remake de The Three Godfathers, de 1916. E eu poderia seguir com a lista de refilmagens e sequências de diversas eras e movimentos do cinema que tínhamos no período clássico ou pré Nova Hollywood para mostrar que isso não é algo novo. Todavia, se olharmos a lista de produções de então, percebemos de imediato que as “novas ideias” (que genericamente chamamos de “originais”, embora já tenhamos em mente a problematização da palavra) superavam e muito as “velhas ideias”. Até mesmo as adaptações, no caso do cinema, eram escolhidas com maior critério.

Com isso em mente, excluímos as acusações de fatalismo e frases como “você não conhece o belíssimo e original cinema das Ilhas Salomão para falar que não existe originalidade no cinema”. Se for pra contar filmes obscuros, distribuídos nos becos e alcovas, vistos unicamente em festivais (e olhe lá) ou que nunca saem do papel, a sétima arte seria o sonho molhado de todo crítico e cinéfilo. A TV não precisaria reviver arquivos, heróis, cidades cheias de abetos ou as horas de um dia cheio de ação para ganhar dinheiro e satisfazer um nicho de público. As editoras não precisariam publicar o diário do amigo do vizinho do primo de segundo grau do porteiro do prédio da cunhada da prima da amiga do Rei Manezinho XVIII da Imbecilância ou de um blogueiro que conta as agruras de sua primeira vez. Mas a gente sabe que bem por aí que as coisas funcionam, ao menos na maioria esmagadora das situações.

Como assim "estão de volta?". Que ano é hoje?

Como assim “estão de volta?”. Que ano é hoje?

Para cada ArtistaGrande Beleza e Divertida Mente no cinema; para cada Breaking Bad, Utopia e Mad Men na TV, existem 50 filmes e séries que mal tocam a superfície de algum conteúdo, que não se preocupam em apresentar novas formas de trabalho dentro do que já se conhece naquele gênero específico, enfim… para cada produção inteligente de grande destaque, temos 95 filmes e séries para pessoas com QI de samambaia alcançando as maiores audiências possíveis. A questão não é que não se faz mais “bons filmes”. A questão é que se faz cada vez mais blockbusters ruins (e que se grife os RUINS, porque existem bons blockbusters). A questão é que esses blockbusters ruins tem marcado semanas ou meses no topo das bilheterias, impedindo que filmes de menor apelo ganhem espaço, desencorajando, em parte, os grandes estúdios a produzir material novo, porque o material superficial dá muito mais dinheiro, assim como todo o tipo de continuação e coisas da mesma família. Uma situação parecida também atinge a TV, que além de séries-bomba, está recebendo o retorno de séries (algumas muito boas!) que fizeram sucesso no passado, o que nos faz perguntar: a gente realmente precisa disso? Por que não investir mais em ideias novas?

E para vocês avaliarem melhor o tipo de obra cinematográfica que vem ganhando destaque ao longo dos anos, compilei abaixo os dados por década do BOX OFFICE HITS para os 10 maiores, dos anos 1920 até a atualidade. Analisem vocês mesmos e tentem chegar a uma conclusão.

As 10 Maiores Bilheterias por Década

1920

1 O Grande Desfile Original
2 A Última Canção Adaptação
3 Os 4 Cavaleiros do Apocalipse Adaptação
4 Ben-Hur Adaptação
5 Horizonte Sombrio Adaptação
6 Em Busca do Ouro Original
7 Os Dez Mandamentos Adaptação
8 Os Bandeirantes Adaptação
9 Asas Original
10 O Cantor de Jazz Adaptação

1930

1 …E O Vento Levou Adaptação
2 Branca de Neve e os Sete Anões Adaptação
3 O Mágico de Oz Adaptação
4 Frankenstein Adaptação
5 Aventuras de Tom Sawyer Adaptação
6 King Kong Original
7 A Mulher Faz o Homem Original
8 Anjos do Inferno Original
9 Ingagi Adaptação
10 A Cidade do Pecado Original

1940

1 Bambi Adaptação
2 Pinóquio Adaptação
3 Canção do Sul Adaptação
4 Fantasia Original
5 Os Melhores Anos de Nossa Vida Adaptação
6 Os Sinos de Santa Maria Original
7 Duelo ao Sol Adaptação
8 Por Quem os Sinos Dobram Adaptação
9 Forja de Heróis Adaptação
10 Sargento York Original

1950

1 A Dama e o Vagabundo Adaptação
2 As Aventuras de Peter Pan Adaptação
3 Os Dez Mandamentos Adaptação
4 Ben-Hur Adaptação
5 A Bela Adormecida Adaptação
6 A Volta ao Mundo em 80 Dias Adaptação
7 This Is Cinerama Original
8 O Maior Espetáculo da Terra Original
9 O Manto Sagrado Adaptação
10 Cinderela Adaptação

1960

1 A Noviça Rebelde Adaptação
2 101 Dálmatas Adaptação
3 Mogli – O Menino Lobo Adaptação
4 Doutor Jivago Adaptação
5 A Primeira Noite de um Homem Adaptação
6 Mary Poppins Adaptação
7 Butch Cassidy Original
8 Minha Bela Dama Adaptação
9 007 Contra a Chantagem Atômica Original
10 Funny Girl – A Garota Genial Adaptação

1970

1 Star Wars Original
2 Tubarão
Adaptação
3 O Exorcista Adaptação
4 Grease: Nos Tempos da Brilhantina Adaptação
5 Golpe de Mestre Original
6 Os Embalos de Sábado à Noite Original
7 O Clube dos Cafajestes Original
8 The Rocky Horror Picture Show Adaptação
9 O Poderoso Chefão Adaptação
10 Superman: O Filme Adaptação

1980

1 E.T. – O Extraterrestre Original
2 Star Wars: O Retorno de Jedi
Continuação
3 Star Wars: O Império Contra-Ataca Continuação
4 Batman Adaptação
5 Os Caçadores da Arca Perdida Original
6 Os Caça-Fantasma Original
7 Um Tira da Pesada Original
8 De Volta Para o Futuro Original
9 Indiana Jones e a Última Cruzada Continuação
10 Indiana Jones e o Templo da Perdição Continuação

1990

1 Titanic Remake
2 Star Wars: A Ameaça Fantasma
Pré-Sequência
3 Jurassic Park Adaptação
4 Forrest Gump: O Contador de Histórias Adaptação
5 O Rei Leão Versão de Rei Lear
6 Independence Day Original
7 O Sexto Sentido Original
8 Esqueceram de Mim Original
9 MIB: Homens de Preto Adaptação
10 Toy Story 2 Continuação

2000

1 Avatar Original
2 Batman: O Cavaleiro das Trevas
Continuação/Adaptação
3 Shrek 2 Continuação/Adaptação
4 Piratas do Caribe: O Baú da Morte Continuação
5 Homem-Aranha Adaptação
6 Transformers: A Vingança dos Derrotados Continuação
7 Star Wars: A Vingança dos Sith Pré-Sequência/Continuação
8 O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei Continuação/Adaptação
9 Homem-Aranha 2 Continuação/Adaptação
10 A Paixão de Cristo Remake/Adaptação

2010 – 2015

1 Os Vingadores Adaptação
2 Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros
Continuação
3 Vingadores: Era de Ultron Continuação/Adaptação
4 Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge Continuação/Adaptação
5 Jogos Vorazes: Em Chamas Continuação/Adaptação
6 Toy Story 3 Continuação
7 Homem de Ferro 3 Continuação/Adaptação
8 Jogos Vorazes Adaptação
9 Frozen: Uma Aventura Congelante Adaptação
10 Harry Potter e as Relíquias da Morte 2 Continuação/Adaptação

Percebam que com o passar dos anos, o nível de adaptações foi decaindo de obras mais sérias para obras de menor esforço e que poderiam facilmente ser dividida em partes ou ganharem uma franquia. Olhando para esse estado das coisas, será que ainda existe alguém que sustente a tese de que “sempre houveram mais filmes de baixa imaginação ou conteúdo e hoje é exatamente a mesma coisa, só que, por estamos no presente, achamos que o passado era melhor“? Olhem novamente a lista das maiores bilheterias mundiais e vejam os filmes que constam entre os 10 mais vendidos. Será mesmo que a reclamação de que FALTA CRIATIVIDADE é apenas loucura de Cassandras com falso alarme? Pense nisso. E dê uma olhada no infográfico abaixo.

filmes remakes refilmagens
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Motivos e O Caso do Cinema Brasileiro
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A grande pergunta é: por que? Por que tudo o que é velho virou novo (de novo)? Se antes tínhamos esse sentimento mais ligado ao mundo da moda, agora podemos percebê-lo em qualquer área que supostamente deveria ser criativa. E a despeito de toda a tecnologia, as novas gerações não conseguem perceber que estão sendo abastecidos com “arte requentada”. Mas voltemos a pergunta: por que? As respostas óbvias seriam:

  • Porque dá muito dinheiro.
  • Porque os investidores de grandes estúdios ficam mais confortáveis em investir em coisas que SABEM QUE O PÚBLICO VAI CONSUMIR EM MASSA.
  • Porque estamos em uma era em que tudo é baseado em algo ou está ligado ao universo de alguma outra coisa.
  • Porque todo mundo presta mais atenção se a base for algo já conhecido.
  • Porque remakes, continuações e expansões de universos do passado sempre funcionam financeiramente (RISCO BAIXO + PRODUTO FÁCIL + ALTA AUDIÊNCIA = ALTO RETORNO $) e, em alguns casos, artisticamente.
A culpa também é nossa: se conhecemos o produto previamente, prestamos mais atenção em tudo de "novo" que se faz com ele.

A culpa também é nossa: se conhecemos o produto previamente, prestamos mais atenção em tudo de “novo” que se faz com ele.

Nesse caso, as conclusões apocalípticas e, em alguns casos apressadas, são perfeitamente perdoáveis e compreensíveis, vocês não acham? Vamos olhar para o nosso quintal um pouco.

Se você já ouviu ou já disse a seguinte frase: CINEMA BRASILEIRO É RUIM, certamente já encontrou pessoas que concordassem ou discordassem dela. E no segundo caso, você com certeza já ouviu ou leu a seguinte resposta: “você diz isso porque não conhece o cinema brasileiro“. Agora vamos pensar um pouco: a pessoa que diz que a sétima arte brazuca não é boa, está completamente errada? A conclusão é apressada/precipitada, mas olhe bem para o nosso cinema e para os nossos meios de distribuição. Quais são os produtos mais consumidos e conhecidos do nosso público? Quantas pessoas você conhece que já viram O Som ao Redor, Tatuagem ou Branco Sai, Preto Fica? Quantos brasileiros já viragem Estamira e Terra Deu, Terra Come? Agora considere o mesmo público e pergunte quantos já viram O Candidato Honesto? De Pernas Pro Ar? Meu Passado Me Condena?

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Uma das faces do nosso cinema. Já viu esse? Consegue perceber a mesma ideia diluída em novelas, programas de TV e outras obras nacionais?

O problema se torna ainda mais grave quando você tem distribuidoras de altíssimo poder econômico que se empenham em produzir pastiches inferiores até às nossas chanchadas dos anos 30 a 50 (que pelo menos possuíam, na maioria dos casos, nuances sociais bem interessantes) e dificultam a produção e a distribuição de bons filmes. Você tem ideia do quão difícil é para os diretores ligados ao Polo Cinematográfico de Recife produzirem seus filmes? Ou para a Casa de Cinema de Porto Alegre ou qualquer outro polo que prima por produtos de qualidade lançarem uma nova obra? O Brasil tem um pedaço de cinema excelente que é relegado a alguns festivais e, em alguns casos, nem apoio para Home Video tem! O assunto é complexo e merece uma boa discussão, no entanto, o que fica é aquilo que todo mundo conhece. Eu duvido que se obras como Lavoura ArcaicaO Lobo Atrás da PortaCasa Grande e Dzi Croquettes fossem melhor distribuídas e divulgadas que Divã 2, Vestido Pra Casar e Até que a Sorte nos Separe essa opinião e o valor dado ao nosso cinema seriam os mesmos de hoje. Como mudar?

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Dinheiro é o Único Fator?
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A única coisa que nos consola de nossas misérias é a diversão. E no entanto é a maior de nossas misérias. Porque é ela que nos impede principalmente de pensar em nós e que nos põe a perder insensivelmente. Sem ela ficaríamos entediados, e esse tédio nos levaria a buscar um meio mais sólido de sair dele, mas a diversão nos entretém e nos faz chegar insensivelmente à morte.

Pascal

A fogueira ganha mais lenha quando olhamos para o fator da GERAÇÃO QUE CONSOME a cópia da cópia da cópia e insiste em gastar dinheiro com “velhas novidades” toda vez que elas surgem. Por que será que isso acontece? Uma das explicações seria a do fator “nostalgia dos adultos de hoje”. Para boa parte das pessoas que veem coisas da sua infância, adolescência ou juventude voltarem a ser novidades, consumir e até desejar esses retornos, remakes, reboots, adaptações, cópias, etc., é algo normal. É evidente que os estúdios, canais de TV e todo tipo de produtora e distribuidora já percebeu isso. Mexer com a imaginação dos adultos, fazendo-os lembrar de décadas anteriores de suas vidas é dinheiro garantido.

Em algum lugar, nesse exato momento, algum "roteirista" está escrevendo um filme sobre um desses brinquedos.

Em algum lugar, nesse exato momento, algum “roteirista” está escrevendo um filme sobre algum desses brinquedos.

E juntamente com esse fator, temos mais óbvio de todos: os novos tempos e as novas tecnologias mudaram a nossa forma de enxergar as coisas. O que é “velho” muitas vezes é visto com maus olhos, com algum preconceito ou desdém. Se não tem CGI não é bom. Se é preto e branco, não dá pra assistir. Filme silencioso, então? Nem pensar!

Se juntarmos as peças, entraremos no mundo de Pierre Lévy, quando falou sobre o virtual e o SIGNIFICADO QUE A IMAGEM TEM PARA NÓS. Somos nós, o tempo inteiro, o alvo e a demanda dessa falta de criatividade. A produção requentada das várias áreas artísticas estão fazendo o óbvio: mexendo com aquilo que para nós tem significado, valor, sentido. Em seu excelente O Que é Virtual?, Pierre Lévy lança uma luz sobre o assunto. Deixarei abaixo um trecho do livro e um pequeno vídeo que ilustrará melhor essa parte de nosso diálogo. Mas antes, algo que exemplifica esse desligamento total da nova geração com o “antigo”. Não se espante se abrir a internet algum dia e ler que estão fazendo um remake de O Grande Ditador.

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Um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação mas também os corpos, o funcionamento econômico , os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a constituição do “nós”: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual… Embora a digitalização das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, trata-se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informatização.

Nós procuramos entretenimento. Temos prazer em sair um pouco da realidade. E sabemos que ao nos entretermos, vamos gastar dinheiro ou nos endividar. O que as produtoras precisam fazer é identificar se naquele momento específico estamos receptivos a determinado tipo de produto. E se não estivermos, sabemos que não é difícil para o marketing, em tempos digitais, moldar o nosso gosto. E penso que aqui cabe a pergunta do ovo e da galinha: é a procura por produtos ruins ou “requentados” que gera a oferta desse tipo de produto ou é a oferta que molda a procura por coisas assim?

Estamos cada vez mais forçados e um emburrecimento, empobrecimento, minimização da qualidade de roteiros ou obras criativas em qualquer área cultural ou esse ciclo irá se quebrar mais dia menos dia? Por que ele é mais intenso hoje do que foi em outras épocas? Será por conta da tecnologia? Mas se a tecnologia, a facilidade de divulgação através de inúmeras telas (e aqui vai um apelo: leiam A Tela Global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna, de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy) e todo aparato de fácil comunicação é responsável por isso, então como isso terá fim? Destruir a tecnologia é que não vamos, correto?

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Vivemos amparados pelo conceito de Jean Baudrillard de que + INFORMAÇÃO – CONTEÚDO = ENTRETENIMENTO, um estado das coisas que acaba por refletir uma sociedade saturada e que finge importar-se com tudo, ficando cada vez mais incerta das cosias. “A revolução contemporânea é a da incerteza”, já dizia o filósofo. Não é à toa que o entretenimento de massa hoje, por mais vazio que seja, mostra alguém atormentado por algo, uma aura sombria parece pairar sobre quase tudo. Vide os filmes de super-heróis da atualidade.

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Quem sou eu, onde estou, pra onde vou?” , pergunta o personagem em uma comédia escrachada ou um super-herói num blockbuster qualquer.

E para fechar esse bloco de “outros motivos”, gostaria de trazer à tona, rapidamente, o conceito de INDÚSTRIA CULTURAL, de Theodor Adorno e Max Horkheimer. Basicamente, os autores estabeleceram que a princípio, a produção artística tinha um significado particular em si, mas à medida que se descobriu o apelo monetário em torno dela, houve a passagem da arte para a mercadoria. Em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, escrito um pouquinho antes do ensaio Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer, Walter Benjamin já apontava para o império da cópia e reprodução para venda de tudo o que já se havia consagrado e para coisas com algum potencial de consagração. Copiar dá dinheiro e fama para o bom copiador. Ou para a mídia que reproduz qualquer coisa, inventando um significado para aquilo. Isso explica porque um montão de obras antes consideradas ruins tornaram-se cult da noite para o dia e copiadas a perder de vista.

E se vocês quiserem acrescentar um pouquinho mais de conteúdo à questão da imagem, seu papel, força, mutação e impacto para a humanidade, sugiro a leitura de Introdução à Análise da Imagem, de Martine Joly.
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SOS

tudo e a copia da copia da copia

Ao tratar de um assunto como esse é muito fácil nos depararmos com conclusões meio apocalípticas do tipo “estamos condenados, nada vai mudar” ou mesmo defesas de que “isso é o presente e temos que aceitá-lo“.

Nem tanto ao céu, nem tanto à Terra. Mas a pergunta que vem a calhar nesse momento é: nós realmente precisamos de mais entretenimento raso? Não é hora de começar a consumir e cobrar a produção de coisas que forneçam um pouquinho mais do que piadas sobre peidos, peitos, putas, pintos…?

O cinema, a TV, a literatura, a música, o teatro… todas as artes se transformaram ao longo dos séculos. Todas conheceram obras ruins e períodos fracos. Mas em nenhum outro momento da História essas artes se mantiveram tão lucrativas com tão baixo nível de criatividade… Nós precisamos de algo novo, mesmo que esse novo seja “apenas” brincar de forma intensa com um drama pessoal como em Whiplash; mesmo que seja desafiar a lógica e brincar com o cinema como em Birdman; mesmo que esse novo seja fazer caricaturas vivas de homens como em O Grande Hotel Budapeste; mesmo que esse novo seja um flash da realidade como em The Square; mesmo que esse novo seja mostrar conflitos humanos complexos como em Praia do Futuro; mesmo que esse novo não seja, de fato, novo, mas que seja criado para divertir e não empreender uma campanha contra os neurônios de quem assiste.

O que vocês acham disso?

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