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Sagas Marvel | Aniquilação

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Uma odisseia cósmica por excelência, Aniquilação se destaca por não perder tempo com personagens desnecessários e deslocados. Por estes, me refiro a heróis que nada adiantariam em uma escala galáctica. Portanto, se você espera ver o Homem-Aranha, Capitão América, Quarteto Fantástico e outros heróis desse naipe em Aniquilação, pode deixar suas esperanças de lado, pois eles estão muito ocupados lutando em uma certa Guerra Civil. Aqui, veremos somente os de fora da Terra, tanto heróis como vilões.

Na trama, vemos um ataque surpresa ao planeta Xandar, sede da Tropa Nova, pelo exército insectóide do Aniquilador, governante da Zona Negativa. A guerra ali iniciada, porém, se estende por diversos setores do universo, trazendo inúmeros personagens para dentro do conflito. Com isso, temos a divisão em sete revistas individuais: Prólogo (contando o início da guerra), Nova (focada em Richard Rider, o Nova original), Surfista Prateado, Super Skrull, Ronan, o Acusador, Aniquilação e Arautos de Galactus. Cada uma nos traz diferentes cenários de Aniquilação para, no fim, termos a união dos personagens em uma só narrativa.

Considerando a amplitude da saga em questão, esta crítica será dividida em partes. A ordem utilizada é a de leitura, trazendo eventos sequenciais.

Prólogo

(Março de 2006)
roteiro: Keith Giffen
arte: Ariel Olivetti

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Essa é a edição única que nos prepara para o cenário que veríamos a seguir, já nos dando uma visão de cada personagem central em Aniquilação, de Thanos a Ronan. Keith Giffen mantém o foco na Tropa Nova, que sofre com as primeiras levas do ataque repentino. Somos deixados tão no escuro quanto as vítimas e uma pequena porção da revelação só nos é dada no fim desta primeira edição.

Trata-se de uma quebra da ordem no universo representada claramente pela arte de Scott Colins e Ariel Olivetti, que utilizam o traçado antigo da tropa, praticamente o mesmo visual que vimos em 1979 nas edições #204 e 205 de Quarteto-Fantástico. Chega a ser destoante com o resto das imagens olhar para os cabeças-de-balde naquele tom amarelo chamativo. O propósito é evidente, aspecto deixado ainda mais claro na primeira revista de Nova.

Ainda na arte, não posso deixar de ressaltar o cuidadoso trabalho de profundidade realizado, que deixa o fundo desfocado, dando um toque cinematográfico à revista.

Giffen mantém esta primeira história de forma sucinta, nos apresentando à saga e já definindo a linha narrativa que veríamos a seguir. A revelação do vilão, Aniquilador, é bem colocada, já dando uma proximidade ao leitor, fator que se manteria nas outras revistas.

Nova

(Abril de 2006)
roteiro: Dan Abnett
arte: Kev Walker

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A mudança na arte é gritante quando comparamos o Prólogo com a primeira edição de Nova. Sim, tanto o desenhista quanto o colorista mudaram, mas não é só isso. Como dito anteriormente, o traçado reflete a mudança de paradigma da história – aqui não vemos um membro da Tropa Nova e sim um herói único, ele é Richard Rider e esta história o transformará em uma espécie de “Super Nova”. O roteiro de Dan Abnett e Andy Lanning, que se tornariam especialistas nos heróis cósmicos Marvel. mantém um foco constante nisso, utilizando personagens como Drax para a metamorfose do protagonista.

Richard, agora, é o único sobrevivente da Tropa Nova e é deixado com o objetivo de resgatar o WorldMind do povo de Xandar. Ao tirar a inteligência artificial de seu local, contudo, Rider absorve toda a Força Nova, ganhando poderes além de seus limites. A história progride com o herói se acostumando com suas novas capacidades, deixando de lado seu temor de utilizá-las e tornado-se claramente mais maduro e seguro de si.

Apesar do personagem central ser Richard Rider, contamos com a presença de outros importantes, que desempenham papeis relevantes ao longo da saga. É gratificante ver elementos semeados nestas primeiras páginas serem retomados nas últimas edições do arco, trazendo uma grande coesão para a trama como um todo. Se Aniquilação tem uma grande qualidade, esta é a forma como utiliza cada detalhe, desde personagens secundários, como o Quasar original, até futuros membros dos Guardiões da Galáxia.

Dentre esses, Drax ganha destaque, diferenciando-se da forma descerebrada que ganhara quando revivido por Kronos (leia mais sobre ele aqui). Na história, ele sequer se considera “O Destruidor”, algo que é constantemente lembrado pelos demais ao seu redor.

Em Nova vemos as primeiras ondas da aniquilação e o crescimento de Richard Rider, já prenunciando o tom que veríamos nas outras revistas, uma espécie de preparação para o cenário principal. É o tratamento individual antes do coletivo.

Surfista Prateado

(Abril de 2006)
roteiro: Keith Giffen
arte: Renato Arlem

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No lado do ex-arauto de Galactus encontramos uma abordagem diferente para a história. O Surfista busca encontrar o motivo por trás de toda aquela destruição e, no processo, acaba descobrindo o plano do Aniquilador de capturar todos os ex-arautos do Devorador de Mundos. Por aqui, a energia cósmica entra na jogada, tornando-se um elemento central dentro da narrativa da saga.

Embora o Surfista esteja em foco na revista, o roteiro adota uma visão mais geral de todo conflito. Somos transportados para as origens do universo, quando duas criaturas anciãs são liberadas de sua prisão no Kyln: Tenebrous e Aegis despertam, representando uma nova ameaça para os resistentes às hordas aniquiladoras. Não bastasse isso, Thanos ainda decide, por razões ocultas, se aliar ao Aniquilador, deixando o leitor sem qualquer esperança de ver um final minimamente feliz.

Keith Giffen retorna aqui como o roteirista, nos entregando uma trama que segue o mesmo tom de seu trabalho no Prólogo. Acompanhado do traçado mais bruto de Renato Arlem, caracterizado por tons mais escuros e bastante uso de sombras, a narrativa acaba saindo mais sombria. No fim, a tensão do leitor é firmada, embora Giffen ainda nos dê relances de positividade ao retratar uma evolução do protagonista, inserindo Galactus no esquema geral, ainda que este esteja temeroso com os eventos ao seu redor.

Super-Skrull

(Abril de 2006)
roteiro: Javier Grillomarxuach
arte: Gregory Titus

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O ponto mais interessante desta história do Super-Skrull é justamente a forma como o personagem é abordado. Ele é um vilão e o roteiro trabalha em cima disso. Suas perdas contra o Quarteto-Fantástico são levadas em consideração, trazendo para ele desonra diante de seu povo. Porém, como uma forma de aproximar o leitor deste protagonista, Greg Titus adota um traçado mais caricato, aliado de uma coloração em tons mais vivos. Infelizmente, tal escolha acaba nos afastando da tensão criada até então na saga, trazendo, inclusive, reações exageradas que beiram o ridículo.

O roteiro de Javier Grillo, porém, é bem conduzido, utilizando, em cada edição, narradores diferentes, dando uma sensação de diário à toda a trama. Aqui, vemos uma investida singular contra as forças do Aniquilador, um ataque a uma de suas principais armas, o Harvester of Sorrows, antes que este destrua o planeta onde vive seu filho (sim, Super-Skrull tem um filho). Por esta via, o texto garante uma maior profundidade ao personagem – ao mesmo tempo que é vilão, é herói e isso acaba refletindo em seu comportamento perante aos seus novos aliados, que consegue durante uma incursão à Zona Negativa.

Super-Skrull é um dos pontos altos de toda a saga, uma revista que funciona perfeitamente por si só. É a mais distante dos outros eventos de Aniquilação, mas, definitivamente oferece muito atrativos para o leitor, que é totalmente capaz de deixar passar alguns deslizes no roteiro e o traçado mais cômico das edições. Devo, aqui, ressaltar a última edição que adota uma narrativa mais acelerada, porém bem efetiva, que nos mantém presos a cada virada de página, com direito a um grande plot twist.

Ronan

(Abril de 2006)
roteiro: Simon Furman
arte: Jorge Pereira Lucas

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Acusado de traição pelo seu povo, o Acusador procura uma forma de limpar seu nome. A história se mantém separada dos eventos de Aniquilação até o fim de sua segunda edição e conta com diversos personagens notáveis, como Stelaris, Korath, Nebula e a futura Guardiã da Galáxia, Gamora. Ronan traz uma história interessante por não retratar, em nenhum ponto, o personagem como herói ou vilão. Ele é um homem que segue seus princípios, o que o torna bastante direto, sem floreios.

Esta característica se estende para a arte da revista, que adota tonalidades mais escuras e traços mais brutos. O roteiro se encaixa perfeitamente nestes trazendo cenas de ações nada menos que brutais, em especial a marcante luta entre Gamora e o Acusador. Chega a ser cômica a destruição causada pelos dois.

A revista, porém, comete seus deslizes nas constantes mudanças de perspectiva, que acabam por confundir o leitor, que é forçado a voltar páginas constantemente. Além disso, Ronan é o único protagonista, até então, a revelar um crescimento que soa artificial, como se forçassem uma progressão ao personagem, já que os outros o tiveram.

Aniquilação

(Agosto de 2006)
roteiro: Keith Giffen
arte: Andrea Di Vito

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Após quatro revistas nos mostrando os lados individuais de cada história, chegamos, enfim, àquela que une todos os personagens em uma única fronte. Aqui, deixamos os diferentes teatros da guerra para focarmos na resistência às tropas do Aniquilador. Nova, Drax, Ronan, dentre vários outros todos se unem em uma tentativa de sobreviver.

O foco inicial é em Richard Rider, o “Super Nova”, agora familiarizado com seus poderes e liderando as tropas junto de Peter Quill, conhecido anteriormente como o Senhor das Estrelas (mas sem qualquer poder), outro futuro membro dos Guardiões. A seriedade de Rider é combatida a cada quadro com a descontração e o senso de humor de Quill, química que mantém perfeitamente o ritmo inicial desta história. A arte, desta vez, fica nas mãos de Andrea Di Vito, que adota traços realistas, dando a necessária temática mais sombria da obra.

O que mais chama a atenção na obra é a forma como ela utiliza seus personagens, dando papel de destaque para todos que foram construídos ao longo das revistas da saga. Mesmo Drax e Thanos, que somente tiveram edições próprias nas prequels, contam com páginas dedicadas a eles, mantendo uma união entre todos os afetados por este arco galáctico. Vale ressaltar que, aqui, a guerra alcança outros patamares. Onde antes víamos apenas ataques esparsos, agora temos uma real batalha cósmica, algo que podemos sentir desde as primeiras páginas.

Como dito anteriormente, Aniquilação se destaca pela sua coesão e aqui vemos diversas sementes plantadas nas outras revistas ganhando vida, como os braceletes quânticos do Quasar original passando para Phyla-Vell, que adota o nome e poderes do finado Wendell Vaughn. Com isso, a leitura como um todo da saga se torna ainda mais gratificante, ao passo que não enxergamos como desnecessário nenhuma de suas subtramas.

A narrativa, novamente nas mãos de Giffen, segue de maneira coerente, encadeando bem os eventos com bons motivos por trás de cada ação dos personagens. Desses, o único que soa mal-trabalhado é Thanos, que poderia ter recebido maior foco em alguma edição. O resultado final, porém, não é prejudicado e consegue prender o leitor até as páginas finais que, por fim, encerram a ameaça do Aniquilador de maneira inesperada e dramática.

Arautos de Galactus

(Fevereiro de 2007)
roteiro: Christos Gage
arte: Jim Calafiore

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A Guerra acabou, mas ainda temos algumas páginas adiante. Arautos de Galactus funciona como um epílogo da saga, trazendo algumas consequências da guerra. Mais importante, contudo, é o restabelecimento de Galactus como uma força constante dentro do universo e o fim de uma das pontas soltas: Tenebrous e Aegis, introduzidos em Surfista Prateado.

Aqui entram os problemas no roteiro dessas duas revistas finais, mais especificamente na segunda edição. A forma como ambos os vilões são derrotados é, no mínimo, sem a menor criatividade, além de não fazer sentido dentro do que vimos durante a saga. Por exemplo, é estranha a incredulidade que Galactus passa para nós quando vemos o Surfista emergir vitorioso perante tal luta. Para piorar, ainda temos o Fallen One, que havia sido capturado, sendo completamente ignorado pela trama e sequer aparecendo novamente.

Arautos de Galactus encerra Aniquilação como o suspiro após um longo mergulho. Toda a ameaça se foi e não é criada mais nenhuma tensão no leitor. São páginas desnecessárias dentro da obra como um todo, mas que funcionam para criar o gancho com o que viria a seguir: Aniquilação: A Conquista.

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