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Crítica | Psicopata Americano: Do Livro às Telas

Esteticamente simples, mas repleto de informações interessantes.

por Leonardo Campos
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Transgressora e imponente, apesar de sua leitura com fluência nada fácil no quesito ritmo. Oriunda de um escritor que começou em 1985, mas publicou sua obra-prima apenas em 1991. Assim é a história por detrás de Psicopata Americano, livro de Bret Easton Ellis, narrativa que chocou tanto o público de sua época e enfrentou o que hoje chamamos de cancelamento. Parte integrante do imaginário no âmbito da literatura, nos anos 2000, diante de sua tradução para o cinema, tendo Christian Bale como o infame protagonista Patrick Bateman, essa história ganhou ainda maior projeção e se tornou candidata ao posto de clássico moderno, acendendo interesses de produtores contemporâneos para uma releitura audiovisual que provavelmente apresentará um clima de atualidade ainda mais hedionda que a versão veiculada no começo do século XXI. Com assassinatos pornográficos, subtexto acerca das ameaças do masculino diante das mudanças globais que se desdobraram desde o fim da Segunda Guerra Mundial e debates em torno da psicopatia, tendo em sua figura ficcional central, elos curiosos com a imagem social de Donald Trump dos anos 1980, eis um livro que se tornou filme e ainda em 2025, parece ter muito mais coisas a dizer em suas possibilidades reflexivas e interpretativas.

Com pouco mais de 40 minutos, Psicopata Americano: Do Livro Para as Telas é um documentário de estrutura narrativa estética simples, sem qualquer atrativo visual, um elemento pecaminoso para uma produção que versa sobre um protagonista hedônico aos extremos. Mas, ainda assim, seu desenvolvimento traz pontos interpretativos interessantes para a nossa compreensão acerca do legado e impacto cultural do livro, posteriormente traduzido para o cinema e capitaneado por uma diretora, cineasta embasada em um roteiro também assinado por uma figura feminina. É uma história de desafios, obstáculos e caminhada complexa, interessante não apenas para cinéfilos, mas para os interessados em tópicos culturais diversos. Com depoimentos de alguns poucos envolvidos nos bastidores, num paralelo com personagens reais que viveram a cultura dos anos 1980 em sua maior intensidade, por isso, explicam que o livro é fidedigno na exposição do contexto em que Patrick Bateman se insere, o documentário se apresenta como uma eficiente aula de cinema e crítica cultural.

Dirigido por Mary Harron, Psicopata Americano é um caso notável de tradução literária que provocou debates significativos sobre violência, consumismo e a moralidade da sociedade moderna. Embora a adaptação preserve muitos temas e elementos da obra de Ellis, Mary Harron optou por cortar ou alterar diversas passagens de violência extrema e sexual do livro. A decisão de reduzir a brutalidade gráfica permitiu que o filme se concentrasse nas questões de práticas sociais e na crítica ao capitalista, sem que a violência extrema ofuscasse a mensagem principal da história. O livro é narrado em primeira pessoa por Patrick Bateman, proporcionando uma visão íntima de sua psicologia perturbada. No filme, Harron mantém essa perspectiva em várias cenas, utilizando uma narração em off que permite ao público entrar na mente do protagonista, mas também joga com a ambiguidade, fazendo com que Bateman questione sua própria sanidade.

A estética do filme, dirigida por Harron e com direção de arte cuidadosa, reflete o apelo da cultura dos anos 1980. O design de produção e o figurino enfatizam o consumismo excessivo e a superficialidade da sociedade. O uso de cores e a representação dos ambientes de luxo em Nova York servem para criar uma ambientação que ressoa com a crítica que Ellis faz à sociedade. Christian Bale trouxe uma interpretação assertiva de Patrick Bateman, equilibrando charme, narcisismo e uma presença ameaçadora. Seu desempenho captura a dualidade do personagem, permitindo que o público veja tanto o homem superficial e obcecado por status quanto o psicopata subjacente. A performance de Bale é central para o entendimento da complexidade de Bateman. Nesse processo, a tradução enfrentou críticas e controvérsias, especialmente em relação ao conteúdo violento e sexual.

A decisão de Harron de suavizar algumas das cenas mais extremas ajudou a garantir uma classificação mais leve, o que, por sua vez, tornou o filme mais acessível a uma audiência maior. No entanto, as escolhas de tradução também geraram debates sobre a censura da arte e a representação da violência. Harron enfatiza as interações superficiais e a falta de real conexão entre os personagens no filme, refletindo o comportamento narcisista de Bateman e a cultura da era. As relações dele com figuras como Evelyn (Reese Witherspoon) e seus colegas de trabalho são retratadas como vazias, reforçando a crítica ao materialismo e à falta de autenticidade nas interações sociais. Em linhas gerais, Psicopata Americano é uma crítica à masculinidade tóxica, um tema profundamente explorado tanto no livro quanto no filme. A representação de Bateman como um produto de uma cultura que valoriza a potência masculina e o sucesso financeiro ressalta as consequências destrutivas dessas ideologias. O filme, assim como o livro, levanta questões sobre o que significa ser um homem em uma sociedade consumista.

A adaptação de Harron utiliza humor ácido e ironia para explorar a absurdidade da vida de Bateman e a hipocrisia da elite. Esta abordagem permite que certos momentos carreguem uma crítica mordaz à sociedade dos anos 1980, criando uma sensação de desconforto que desafia o público a refletir sobre a relação com a violência e o consumismo. Embora o livro apresente muitos detalhes gráficos de violência, o filme usa essas cenas de forma mais sugestiva. As tomadas de violência são, em muitos casos, apresentadas de maneira estilizada, reforçando a ideia de que a verdadeira monstruosidade de Bateman não reside apenas em seus atos, mas na desumanização que está intimamente ligada ao consumismo que ele encarna. Após o seu lançamento, Psicopata Americano se tornou um clássico cult. A maneira como Mary Harron interpretou e adaptou o material original não só trouxe à luz questões sobre a moralidade e a individualidade, mas também influenciou a forma como obras literárias são adaptadas para a tela, levando a uma discussão mais ampla sobre representação e mensagem em adaptações cinematográficas. Revista em 2025, a narrativa demonstra uma atualidade de arrepiar.

Psicopata Americano (American Psycho) — Estados Unidos, 2000
Direção: Mary Harron
Roteiro: Mary Harron, Guinevere Turner
Elenco: Halsey Solomon, Chris Hanley, Edward R. Pressman, Mary Harron, Guinevere Turner
Duração: 45 min

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