Tédio. Confusão. Bastidores questionáveis. Assim é a travessia de Olhos Famintos 3 na cultura contemporânea. Dirigido e roteirizado por Victor Salva, contando com a produção executiva de Kirk Shaw, Stan Spry e Tom Luse, este é o terceiro capítulo da franquia iniciada em 2001 e se passa entre os eventos do primeiro e do segundo filme. A trama segue o Sargento Tubbs (Brandon Smith), que, cético em relação à existência da criatura, une uma equipe de policiais para formar uma força-tarefa com o objetivo de eliminar o Creeper, uma aterrorizante criatura alada e carnívora. Durante os últimos dias de voracidade do Creeper, Tubbs e sua equipe enfrentam o desafio de descobrir os mistérios por trás da origem macabra dessa criatura. A missão não é apenas uma luta pela sobrevivência, mas também uma busca por respostas que possam ajudá-los a derrotar o ser maligno de uma vez por todas. O filme que em seus primeiros momentos promete uma combinação de suspense e ação, aprofundando a mitologia já estabelecida da franquia, naufraga em sua história sem coesão e repetição de fórmulas.
Victor Salva, cineasta condenado por pedofilia no final da década de 1980, foi alvo de críticas intensas pelo conteúdo do filme, que é visto como uma minimização do abuso sexual infantil. Na produção, Gabrielle Haugh interpreta uma jovem que foge de casa alegando abuso por parte de seu padrasto, mas o roteiro inclui diálogos que sugerem uma justificação para os atos do abusador, como um personagem que declara que “o coração quer o que o coração quer”. Essa abordagem chamou a atenção pelo desrespeito ao tema sensível do abuso infantil, especialmente dado o histórico do cineasta, que foi condenado em 1988 por abusar de Nathan Forrest Winters, ator mirim que trabalhava em seu filme Palhaços Assassinos. Tal histórico ajudou no cancelamento do filme, bem como na tentativa do público de punir o realizar de passado questionável.
Salva cumpriu apenas 15 meses de uma pena de três anos e, após sua liberação, continuou a trabalhar na indústria cinematográfica, dirigindo diversas produções, incluindo Energia Pura, que foi lançada por um estúdio associado à Disney. A decisão da Disney em contratar Salva gerou significativa controvérsia, uma vez que a empresa é historicamente alinhada ao entretenimento infantil e, portanto, suscetível a críticas por empregar um profissional com um passado criminal tão grave. Esse contexto se amplifica à medida que o público e críticos se questionam sobre a responsabilidade das indústrias culturais em relação aos comportamentos de seus criadores e o impacto que tais ações têm na sociedade. Salvaguardadas as devidas proporções, essa história externa é mais assombrosa que qualquer passagem do desastroso Olhos Famintos 3.
Como já mencionado, a sequência é ambientada entre os eventos do primeiro e do segundo filme, Com uma duração de 100 minutos, a narrativa apresenta uma direção de fotografia visualmente interessante, a cargo de Don E. FauntLeRoy, e uma trilha sonora razoável de Bennett Salvay. Contudo, esses elementos, embora intrigantes, não contribuem para nos distrair da incoerência da narrativa, que enfrenta desafios em sua construção e desenvolvimento, deixando a experiência do público um pouco aquém das expectativas presentes nos filmes anteriores da série. Tudo fica ainda pior com o lançamento de Olhos Famintos: Renascimento, uma trama ainda pior que essa sequência, focada num processo de reinicialização da franquia.
Olhos Famintos 3 (Jeepers Creepers 3, EUA – 2017)*
Direção: Victor Salva
Roteiro: Victor Salva
Elenco: Meg Foster, Jonathan Breck, Chester Rushing, Gabrielle Haugh, Brandon Smith, Jarell Houston, Anna Jacoby-Heron, and Stan Shaw
Duração: 100 min.