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Crítica | The Last of Us – 2X01: Dias Futuros

A reintrodução da saga de Joel e Ellie.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série e, aqui, de toda a franquia.

Recentemente, joguei e fiz a crítica do remake The Last of Us Part I, voltando para essa obra-prima anos depois da versão original. O final da história, com Joel mentindo para Ellie sobre o que aconteceu com os Vaga-Lumes, ressoa muito tempo depois que o game termina, seja pelo peso carregado por Joel, seja pelas consequências que algo assim pode implicar, o que é explorado em The Last of Us Part II (o qual teremos a crítica ainda esse mês). Assim, esse momento é muito bem adaptado como abertura da segunda temporada, dando pontapé a uma nova trama para a dupla, agora menos interessada na construção do relacionamento bonito e cheio de ternura entre eles, e mais num desmantelamento do laço de pai e filha de ambos, com desconfiança, culpa e muita raiva preenchendo as interações dos personagens.

É difícil de ver esse afastamento, ainda mais tão abruptamente e com uma elipse tão grande quanto o salto temporal de cinco anos para os dois vivendo em Jackson, Wyoming. Assim, Dias Futuros é um episódio inicial quase protocolar, com um texto simples e eficiente com a reorganização narrativa, a introdução de novos personagens e essa reformulação do relacionamento de Joel e Ellie, que, mesmo sendo inicialmente estranha, funciona por diversos fatores. O primeiro é a atuação dos dois, com Pedro Pascal encorpando um Joel mais brando e vulnerável, com um conflito interno muito claro em suas expressões, enquanto Bella Ramsey muda o tom de Ellie com certa organicidade, ainda engraçadinha e travessa em determinados momentos, mas com um ímpeto de rebeldia e de confusão bem claro – as referências à Nirvana e Pearl Jam não são por acaso.

Muito do que passa pelas interações de ambos é emprestado de conflitos até relativamente comuns, com Ellie incorporando aquela típica adolescente arrogante – apesar dela já ser adulta – de “sei de tudo” e de inconsequência dos seus atos, também passando por certas descobertas, em especial sobre sua sexualidade. Já Joel lida com a frustração dos hormônios com dificuldade, lembrando que o personagem não pôde passar por essa experiência com sua filha biológica. A questão é que o contexto por trás desse distanciamento é muito sombrio, criando ali uma casca dramática bem dura e cheia de camadas para vermos ao longo da temporada, principalmente quando certas revelações virem à tona. Vale ressaltar como o texto de Craig Mazin e Neil Druckmann segue dramaticamente maduro entremeio a caminhos narrativos meio batidos, encontrando força no coração da franquia: o relacionamento de personagens; seja na sua paciência com os protagonistas, com momentos de silêncio, pequenas explosões e muitos olhares reveladores, seja na introdução de novas figuras que agregam a essa dinâmica, com destaque para Dina (Isabela Merced, muito bem no papel), que é afável e irresponsável na medida certa, e a terapeuta Gail (Catherine O’Hara), uma adição interessante na adaptação, que cria um espaço de abertura para Joel que raramente vemos nos jogos, sem falar de um evento passado ali entre os dois que é complicadíssimo.

Talvez a edição pudesse ter um rigor melhor em algumas cenas ou a narrativa poderia ter um ritmo melhor em determinados núcleos, mas aprecio a queima lenta e o cuidado com interações, bem como de contextos desse espaço com os problemas internos da cidade, o papel de determinados personagens e o funcionamento do grupo, que está próximo de enfrentar uma grande ameaça (mais disso à frente). A direção calma de Craig Mazin e a trilha sonora sutil de Gustavo Santaolalla ajudam a suavizar o episódio dilatado, sempre com um tom minimalista nos momentos de conversação, com destaque para a cena da terapia, ambos elementos que trazem a mesma intimidade característica dos jogos. Outro ponto que vem do material original é o cuidado visual, não só nas ótimas locações ou no excelente design de produção, como na fotografia que traz aquela beleza natural melancólica que entrecorta a realidade desse universo, com destaque máximo para os shots das paisagens cobertas de neve.

O episódio de abertura também prepara os antagonistas, com a apresentação de Abby (Kaitlyn Dever) e um grupo de sobreviventes dos Vaga-Lumes. Fiquei surpreso com a escolha da adaptação de revelar as motivações de Abby logo de cara, algo que no segundo jogo foi tecido de maneira gradual e com uma abordagem instigante, mas não estou criticando negativamente, pelos menos não ainda. Enxergo a escolha como algo para delinear rapidamente o novo tom da narrativa, que evidentemente tem um encaminhamento sobre vingança, remorso e ódio, temas agressivos e densos que não fizeram tanta parte da jornada do primeiro ano. O grupo ainda fica relativamente escanteado aqui, mas já temos um gancho colocando-os na frente do que promete ser um conflito trágico, ainda mais se acompanhar os acontecimentos do jogo – confesso que gostaria de certas novidades por esse lado, mesmo entendendo caso os roteiristas prefiram ser mais fiéis.

E o horror, meus amigos? Ele está aqui também, se ainda em menor parte – torço muito para que essa temporada incorpore com afinco o exercício de gênero, que deixou a desejar no ano de estreia. O pequeno bloco é bem dirigido, começando pelo uso de elementos de jogabilidade, como a garrafa jogada para distração, o ataque de maneira furtiva e alguns ângulos de Mazin que lembram bastante a perspectiva em terceira pessoa do game, todos acenos bacanas, mas também escolhas estilísticas com personalidade. A sequência muda um pouco depois que Ellie cai do andar de cima, lembrando mais obras cinematográficas mesmo, onde vemos a ameaça se aproximando de Ellie, com a apresentação de um novo tipo de infectado tático e perigoso que abre certas portas curiosas para o trabalho visual da obra. Gostei do que vi, se ainda pouco.

Dias Futuros é um episódio de começo de temporada bem padrão, cheio de preparações e contextos, mas também sólido em sua reintrodução de Joel e Ellie, agora em posições e momentos extremamente diversos. O drama continua funcionando, mesmo que não seja tão brilhante, com destaque para o trabalho paciente e cuidadoso em revelar como os dois mudaram sem descaracterizá-los, bem como para as ótimas introduções das figuras novas que orbitarão a saga da dupla. Tudo que é estabelecido aqui promete bastante, passando pelos problemas na comunidade, a apresentação de novas formas dos monstros e as consequências dos atos de Joel, seja com os antagonistas à espreita, seja com a desconstrução do laço dele com Ellie.

The Last of Us – 2X01: Dias Futuros (Future Days) | EUA, 13 de abril de 2025
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Craig Mazin
Roteiro: Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced, Young Mazino, Rutina Wesley, Kaitlyn Dever, Robert John Burke, Spencer Lord, Tati Gabrielle, Ariela Barer, Danny Ramirez, Catherine O’Hara
Duração: 65 min.

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