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Crítica | The Last of Us – 2X06: O Preço

Pai e filha.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série e, aqui, de toda a franquia.

Como esperado, O Preço é um episódio inteiramente de flashback, mas não apenas de um único bloco, e sim de vários momentos ao longo dos anos, começando com uma visão da infância de Joel e Tommy com seu pai Javier (Tony Dalton, de Better Call Saul), passando por várias situações diferentes nos aniversários de Ellie, e chegando nos eventos que antecedem o ataque a Jackson, dessa vez mais pela perspectiva de Joel. Um capítulo até maior do que os anteriores, O Preço condensa diversos momentos do passado para dar contexto e peso dramático para a jornada de Ellie depois de matar Nora, incluindo uma adaptação inteligente da descoberta da jovem sobre o que aconteceu com os Vaga-lumes, que na série não precisa voltar para Salt Lake City. Em termos estruturais, é um pouco estranho ter uma abordagem narrativa assim faltando apenas mais um episódio para o final da temporada, mas analisando por si só, o sétimo episódio é ótimo.

Vou ser um pouco mais breve aqui do que em críticas anteriores, porque penso que a análise é simples. Dirigido e co-escrito por Neil Druckmann, criador dos dois jogos, o texto é claramente uma celebração do material original, não só na fidelidade de diversas cenas e diálogos, mas também na forma como evoca os melhores temas da franquia: uma história íntima focada em personagens e em reações a situações impossíveis do cenário pós-apocalíptico. Logo de início, temos uma abertura que dá o tom de trauma geracional e de conflitos familiares, revelando o background abusivo e que de certa forma justifica alguns impulsos violentos de Joel, mas que, principalmente, revela sua vontade de ser um pai melhor e um protetor (qualidade essa que aflora a implacabilidade do personagem). O bloco no museu é super simpático nesse sentido, com muitas sequências cheias de ternura no desenvolvimento do laço entre Joel e Ellie.

Os dois são ótimos nessas cenas. Pedro Pascal consegue trazer o lado carrancudo de Joel, mas adiciona uma afabilidade que existe em menor tamanho no jogo. Bella Ramsey mostra o quanto é carismática e divertida, realçando que ela é, sim, uma ótima atriz, principalmente quando o roteiro não lhe dá rasteira. Entre a cena do violão, as partes no museu e até a aborrecência de Ellie, o texto é singelo e a direção de Druckmann é delicada e paciente o suficiente para deixar o relacionamento deles respirar, crescer e repousar com a audiência. A sequência imaginativa de Ellie voando para o espaço é representativa do interesse do episódio em ser meigo e em retratar uma belíssima interação entre pai e filha. Mesmo nesses momentos, porém, vemos a dúvida de Ellie pairando, com o distanciamento entre eles crescendo e o drama borbulhando até explodir no núcleo com Eugene (Joe Pantoliano).

Transformar a revelação em um evento espelhado foi uma ótima sacada da série, podendo se desviar de uma jornada até o hospital para manter o escopo menor do episódio e da direção, além de trazer um novo conto cruel que expõe o que há de pior e melhor em Joel. Seu instinto de proteção, mas também sua frieza; sua habilidade de entender esse mundo, mas também sua forma de ser um exemplo desse mesmo mundo. Mesmo sem infectados, a sequência da morte de Eugene é aterrorizante e de certa forma melancolicamente bela na maneira que Joel leva o personagem mentalmente para sua esposa. A mentira, o confrontamento e a total falta de remorso de Joel levam à excelente sequência do penúltimo encontro dos dois, que para mim sempre serviu como uma despedida bonita para a dupla, sem deixar aquela sensação deles terminarem completamente afastados antes do ataque de Abby e companhia. Talvez seria corajoso deixar Ellie se sentir culpada, mas a ideia de que eles estavam começando a reconstruir seu relacionamento tão bonito traz um requinte de crueldade ainda maior para a morte de Joel.

Penso que a cena em si não merece elogios o suficiente. O diálogo é afiado, o contexto é sombrio, o arco até a sequência é bem construído e a dramaturgia é do mais alto escalão, com Pascal e Ramsey sugando um do outro o maior nível de emoção possível – sério, quem ver isso aqui e disser que Ramsey não sabe atuar, tá vendo alguma coisa errada. Como o título do episódio não deixa enganar, O Preço é justamente sobre o custo das ações, principalmente de Joel, mas, agora, de Ellie também, com uma abordagem inteligente que descarta a ação para dar palco ao drama. O quanto essa jornada irá custar para Ellie, teremos que aguardar. No mais, tenho muitos receios de que o capítulo final dessa temporada vai ser corrido ou insatisfatório dado o desenho da história até aqui, mas esse episódio em si é uma ode às melhores qualidades desse material, é uma bela despedida para Joel (e para o Pascal) e dá muita substância para tudo que veio antes e tudo que vai acontecer depois.

The Last of Us – 2X06: O Preço (The Price) | EUA, 18 de maio de 2025
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Neil Druckmann
Roteiro: Neil Druckmann, Halley Gross, Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced, Young Mazino, Rutina Wesley, Kaitlyn Dever, Robert John Burke, Spencer Lord, Tati Gabrielle, Ariela Barer, Danny Ramirez, Catherine O’Hara, Jeffrey Wright, Alanna Ubach, Tony Dalton, Joe Pantoliano
Duração: 60 min.

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