Home QuadrinhosArcoCrítica | Ultimate Homem-Aranha (2024) – Vol. 3: Negócios de Família

Crítica | Ultimate Homem-Aranha (2024) – Vol. 3: Negócios de Família

Novas revelações.

por Kevin Rick
77 views

O terceiro volume de Ultimate Homem-Aranha é o momento em que Jonathan Hickman e Marco Checchetto resolvem empurrar de vez Peter Parker e seus aliados para a beira do abismo. Se os dois primeiros volumes funcionavam como uma preparação entre um delicado equilíbrio entre vida familiar e as primeiras fagulhas de conflito no submundo, aqui o tom se torna mais urgente, mais barulhento, mais próximo de uma ópera de vilões e ameaças reais. O título do arco não é à toa: Negócios de Família (no original, Family Business) não trata apenas do núcleo Parker em casa, mas também da noção de que toda escolha do herói, todo deslize, todo inimigo derrotado, cobra um preço íntimo que recai sobre a mesa do jantar, algo que elogiei nos volumes anteriores na forma como vinha sendo insinuado e construído.

A abertura, marcada pela caçada de Kraven, já deixa claro o caminho. Hickman usa o vilão como catalisador, alguém que não precisa de grande motivação além da própria obsessão pelo “troféu” definitivo. O que poderia soar como repetição de um conflito clássico ganha aqui um tom diferente porque o alvo não é um adolescente cheio de energia, mas um homem adulto com família para proteger. O sequestro de Peter e de Harry para a Terra Selvagem cria um deslocamento interessante, tanto narrativamente quanto visualmente, com a selva selvagem, desenhada por Checchetto em páginas de respiração larga e grandes detalhes, se tornando um bloco de sobrevivência divertido de ler. Até gostaria de ter visto um pouco mais da caçada, de páginas de ação e de uma participação/peso maior de Kraven, mas é um início que apresenta, até agora, o momento de maior sufoco para essa versão do teioso.

Na sequência, a HQ muda radicalmente o ritmo com uma reta final mais intimista, voltando para onde vinha brilhando com as dinâmicas familiares. A família Parker decide tirar um tempo, como se quisesse recuperar o ar antes da próxima batalha. É um capítulo que, em outra série, poderia ser descartável, mas aqui se revela essencial. Ao trazer a ameaça do Homem-Areia em pleno cenário de férias, Hickman mostra que o perigo sempre encontra frestas. A beleza desse interlúdio não está na luta em si, mas no que ela revela: a insegurança do casal, o medo silencioso das crianças e o desconforto de Peter ao tentar conciliar a fantasia de normalidade com a vida que ele insiste em viver atrás da máscara. O team-up com seu filho também alude ao título do arco e prenuncia perigos com o personagem, como vemos no ótimo gancho do arco (também sigo desconfiado do simbionte).

Quando parece que a trama poderia ficar repetitiva, Hickman dá um passo lateral e resgata Mysterio de maneira engenhosa. Em vez de um vilão solitário com truques de palco, temos uma rede, um legado de ilusão que se conecta com o eixo jornalístico que a série vinha costurando desde o início. E é nesse contexto que Gwen Stacy ganha protagonismo, não como relíquia romântica do passado, mas como peça central em um tabuleiro de inteligência, manipulação e segredos. Essa releitura de Mysterio como sistema, e não indivíduo, atualiza o personagem e amplia as possibilidades para o futuro, apesar de eu ainda não ter comprado totalmente a premissa (vinha gostando bem da Gwen “apenas” como uma empresária impiedosa). Veremos como esse salto de mitologia agrega à essa série e até ao selo como um todo, considerando que a organização pode afetar todos os planos do Maker.

O Rei do Crime segue emergindo como maestro invisível, não pela presença física constante, mas pela gravidade que impõe às ações de todos os outros. Gosto muito das curtas passagens do vilão aqui, tanto em sua conversa com Ben Parker e J. Jonah Jameson, transformados em uma dupla improvável de investigação, que encontram aqui o verdadeiro cenário dos fios que vinham puxando. Não sei ainda como o Sexteto Sinistro vai se encaixar depois das ações de Kraven, mas o gancho deixa no ar que o grupo vai infernizar a família Parker sob o comando de Fisk. 

Felizmente, o coração do terceiro volume continua sendo Peter Parker em sua versão mais frágil e mais madura. A força da HQ está em retratar não apenas o super-herói, mas o pai, o marido, o homem que precisa lidar com a ideia de que suas escolhas nunca são apenas dele. Cada cena de ação é ecoada em casa; cada vitória tem o gosto agridoce de um risco renovado. E, nesse sentido, MJ se consolida como uma das melhores versões da personagem em décadas: parceira estratégica, empresária inteligente e mãe atenta. Ela não existe como muleta emocional, mas como força ativa que reposiciona os rumos da narrativa e que tem um poço de carisma sempre que brilha nas páginas. 

Visualmente, Marco Checchetto segura a série em alto nível, em especial seu trabalho estupendo na Terra Selvagem. Quando David Messina entra, a qualidade cai um pouco, mas o artista segue segurando a onda nos intervalos entre as grandes edições, sempre intervindo quando o roteiro repousa um pouco mais no lado familiar. É verdade que o volume sofre de alguns problemas. O avanço rápido de certos vilões, a ascensão quase instantânea de algumas ameaças e a resolução acelerada de conflitos complexos podem dar a sensação de que a série corre mais do que deveria, mas Hickman trabalha com muitas peças em pouco espaço e, inevitavelmente, algumas se perdem no caminho. Ainda assim, o saldo segue bastante positivo.

O final entrega exatamente o que o título prometia: um negócio de família. Não apenas pelo risco que paira sobre os Parker, mas porque a própria estrutura da HQ mostra que cada decisão de Peter é um eco que atinge aqueles que ele mais ama, incluindo na forma como seu filho agora já está se espelhando no herói, como um sidekick que parece ter saído das “famílias da DC”. Ao mesmo tempo, fora do lado mais autocontido, o arco deixa portas abertas para situações que podem influenciar a narrativa maior em The Ultimates.

Ultimate Homem-Aranha (2024) – Vol. 3: Negócios de Família (Ultimate Spider-Man – Vol. 3: Family Business) | EUA, 2025
Contendo: Ultimate Spider-Man #13 a 18
Roteiro: Jonathan Hickman
Arte: Marco Checchetto, David Messina
Cores: Bryan Valenza
Letras: Cory Petit
Editoria: C.B. Cebulski, Will Moss, Michelle Marchese
Editora: Marvel Comics
Páginas: 160

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais