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Crítica | Star Wars: Visions – 3ª Temporada

Faltou visão.

por Ritter Fan
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O conceito de uma antologia de curtas animados apenas inspirados no Universo Star Wars é excelente e a primeira temporada de Star Wars: Visions, com nove obras produzidas por sete estúdios japoneses é a melhor prova disso. Sem continuidade, sem personagens conhecidos, sem preocupação com linha temporal e sem um único universo, ou seja, as rédeas foram completamente soltas para permitir total liberdade às mentes criativas brincarem com a vasta “caixinha de areia” que é essa tão adorada propriedade intelectual. E o que já era excelente conseguiu ficar melhor ainda com o lançamento de uma segunda temporada com o mesmo número de curtas, mas produzidos por estúdios de nove países diferentes (contando com um da própria LucasFilm), permitindo ainda mais variedade estilística e narrativa, com uma bem vinda pluralidade étnica. Para o terceiro ano de Visions, porém, a Disney reverteu à ideia original, entregando os projetos novamente para estúdios japoneses, quatro deles utilizados na primeira temporada, o que considero um retrocesso, especialmente porque, dos nove curtas novos, três são continuações, o que começa a mostrar menos vontade de ousar e mais de jogar seguro, de repetir o que deu certo originalmente, algo que seria muito mais apropriado na forma de séries derivadas, deixando Visions reservado para as concepções completamente originais, como um laboratório de ideias.

O Duelo: Retribuição é o primeiro curta na ordem oferecida pelo Disney+ e é, também, a primeira das continuações, uma escolha natural em razão de O Duelo original, da primeira temporada, ter sido um dos mais admirados curtas de Visions, um que ganhou até mesmo uma HQ one-shot e uma obra literária de qualidade. No entanto, a segunda parte da jornada do Ronin acompanhado de seu fiel astromech R5-D56, apesar de manter o nível alto da animação “rascunhada” em preto e branco, com cores apenas nas luzes artificiais, é uma típica continuação hollywoodiana em que aquilo que era sutil e lindamente simples, torna-se um festival de exageros, com o protagonista enfrentando o Grande Mestre, o líder de uma seita Jedi batizada de Cruzados. É sabre de luz demais, personagens demais, cenários demais para história de menos e aquilo que fazia o Ronin ser especial se perde nesse dilúvio visual. Por seu turno, A Nona Jedi: Filha da Esperança, que é sequência das desventuras de Lah Kara de O Nono Jedi, que considerei o mais fraco dos curtas da temporada original, eleva um pouco o nível da história, levando a jovem padawan para uma gigantesca nave perdida em um cinturão de asteroides em que ela, ao lado do pequeno androide Teto, tem uma pequena jornada de autodescoberta. Não é nenhuma maravilha, mas é um avanço nessa história que, conforme foi anunciado, será objeto de uma série spin-off. Também na seara das continuações, há Os Perdidos que conta com a padawan Jedi fugitiva F de A Noiva Aldeã em uma história sobre fugitivos de um planeta destruído pelo Império tendo que se entregar para evitar a destruição deles, enfrentando seu antigo mestre no processo. É, como na primeira vez, uma animação de qualidade dentro da temática de tensão entre o lado sombrio e o lado da luz.

A Canção das Quatro Asas é uma frenética animação que parece tentar encapsular toda a Trilogia Original de Star Wars em poucos minutos ao nos apresentar à princesa Crane e seu astromech R9-TR2, que ela chama de Tor-Tu, em uma speeder bike com side car em um planeta gelado semelhante a Hoth tendo que salvar um último sobrevivente fofo de um vilarejo que, de quebra, é sensitivo da Força e enfrentar o gigantesco maquinário do Império, aqui nada menos do que dois AT-ATs e um gigantesco Sandcrawler dos Jawas, só que modificado para ser um instrumento de mineração de combustível. É ação sem parar, quase sufocante, que exige toda a suspensão da descrença que o espectador puder dispensar, mas que acaba sendo suficientemente simpática para prender a atenção. Na linha de episódios em que Jedi/Sith e a Força são elementos subsidiários, há também Os Caçadores de Recompensa, que coloca a caçadora de recompensa Sven, treinada pelo grupo assassino Basham que ela subsequentemente traiu, aceitando trabalho de uma corporação aparentemente benevolente que consiste em capturar insurgentes, o que, obviamente, revela-se como um plano maligno da corporação em um roteiro que dolorosamente telegrafa tudo o que vai acontecer, mesmo que apresente um droide interessante, com dupla personalidade, digamos assim, uma original, de médico, e outra modificada, de assassino tresloucado. A Contrabandista é o terceiro curta nessa mesma linha sem a Força em primeiro plano que coloca uma contrabandista, que é a versão feminina e mais jovem de Han Solo, na missão de levar um jovem príncipe procurado pelo Império e sua protetora Jedi para um planeta distante, em uma versão comprimida de Uma Nova Esperança que poderia funcionar melhor se toda a atmosfera de segredo e mistério não fosse defenestrada quase que imediatamente.

O Tesouro de Yuko é uma animação que, diria, faz esforço demais para ser simpática, com o pequeno Yuko, de cabelo colorido e que vive em uma fazenda de umidade como a de Luke Skywalker no começo de Uma Nova Esperança, sendo cuidado por BILY, um droide em formato de urso de pelúcia gigante que ele considera sua única família, tendo sua paz quebrada por outra criança de cabelo colorido, mas que trabalha para Fox-Ear e sua gangue que tentam achar o tesouro que teria sido deixado pelos pais de Yuko. É bonitinho, mas não passa do padrão clássica da “família que escolhemos” com o ar de Star Wars. Por seu turno, o visualmente muito bonito A Ave do Paraíso coloca mais uma padawan em perigo tendo uma jornada existencial de autodescoberta depois que ela perde a visão em combate com uma Sith e cai de um precipício. Ela precisa lutar contra sua impulsividade e contra o lado sombrio para encontrar o equilíbrio necessário ao longo de cinco dias trabalhados em cinco pequenas partes do curta, com a narrativa fazendo de tudo para deixar ambíguo se ela afinal está viva ou morta ou alguma coisa entre vida e morte, mas falhando em fugir da filosofia de botequim. Por último, há Sombrio, o único curta das três temporadas de Visions que não tem diálogos e, diria também, o único que foi produzido com a equipe inteira em estado puro de lisergia, já que ele é uma viagem visual que se encaixa com a trilha sonora, com nove animadores diferentes animando nove sequências que são intercaladas de um Stormtrooper ferido reconciliando memórias, sua vida, passado e presente, sombras e luz. É, sem dúvida alguma, o mais experimental dos curtas até agora e o que mais ousa visualmente, entregando muita psicodelia, mas pouca substância.

Das três temporadas de Star Wars: Visions até agora, essa terceira é a única que decepciona. Apesar de alguns bons momentos e algumas boas ideias, o conjunto dos nove curtas acaba sendo bem inferior em comparação ao que foi oferecido anteriormente, como se os estúdios tivessem trabalhado acorrentados, sem nenhuma liberdade efetiva para chutar o pau da barraca, talvez com exceção do David Production, responsável por Sombrio, que parece ter compensado as correntes com muitas drogas. Ainda é um prazer assistir obras “soltas” inspiradas pelo Universo Star Wars, mas o que antes era puro prazer audiovisual está começando a se tornar mais do mesmo. Talvez seja o caso de novamente tentar espalhar o projeto por estúdios de animação do mundo todo e não somente do Japão.

Star Wars: Visions – 3ª Temporada (EUA/Japão, 29 de outubro de 2025)
Direção: Takanobu Mizuno (3X01), Hiroyasu Kobayashi (3X02), Naoyoshi Shiotani (3X03), Junichi Yamamoto (3X04), Masaki Tachibana (3X05), Hitoshi Haga (3X06), Masahiko Otsuka (3X07), Tadahiro Yoshihira (3X08), Shinya Ohira (3X09)
Roteiro: Jumpei Mizusaki (3X01), Yoji Enokido (3X02), Naoyoshi Shiotani (3X03), Hiroshi Seko (3X04), Natsuko Takahashi e Mika Tanaka (3X05), Takahito Oonishi e Hitoshi Haga (3X06), Masahiko Otsuka (3X07), Tadahiro Yoshihira e Makoto Uezu (3X08), Shinya Ohira (3X09)
Elenco: vários
Estúdio:
Kamikaze Douga, ANIMA (3X01), Project Studio Q (3X02), Production I.G (3X03), Wit Studio (3X04), Kinema Citrus (3X05 e 3X06), Studio Trigger (3X07), Polygon Pictures (3X08), David Production (3X09)
Duração: 187 min. (nove episódios)

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