Home TVTemporadasCrítica | Bat-Família – 1ª Temporada

Crítica | Bat-Família – 1ª Temporada

Uma maravilhosamente caótica família!

por Ritter Fan
2,K views

Quando o supreendentemente divertidíssimo O Natal do Pequeno Batman foi lançado no final de 2023, ele já chegou com a promessa de que uma série animada viria em seguida. E isso ocorreu quase dois anos depois, mas não da maneira que eu esperava, ou seja, apenas uma efetiva continuação das aventuras de Damian Wayne, o Pequeno Batman (e não Robin, ainda bem) ao lado de seu pai Bruce Wayne, uma versão barbuda e relaxada do Batman depois que ele livra Gotham City de toda a vilania. Reinventando-se mais ainda sob a batuta de Mike Roth, a produção foi transformada em uma versão da Bat-Família, que considero uma das invenções mais ridiculamente exploradas nos quadrinhos, com um infinito número de integrantes que são basicamente clones uns dos outros, com raras reais exceções que só confirmam a regra.

Mas Roth, se já não havia feito mais do mesmo no longa animado que serviu para testar as águas da aceitação de sua pegada mais caótica e visualmente ousada para o Batman e seu filho, além do decrépito e corcunda Alfred Pennyworth e da preguiçosa gata Selina, com Luke Wilson, Yonas Kibreab e James Cromwell retornando para fazer as respectivas ótimas vozes, reinventa por completo a Bat-Família e cria sua própria versão acrescentando Claire Selton (Haley Tju), a Volcana, mas como uma menina punk raivosa de enormes cabelos ruivos que foi rejuvenescida para 12 anos e que perdeu memória de seu passado vilanesco em razão do Poço de Lázaro e que tem uma chama flutuante como amiga; Alicia Pennyworth (London Hughes), sobrinha de Alfred e amiga de infância de Bruce que é uma assistente social que dirige o centro de reabilitação de supervilões E*Vil; Ra’s Al Ghul (Michael Benyaer), avô de Damien, mas na forma de um espírito esverdeado com a aparência do Drácula que assombra a Mansão Wayne e, finalmente, o Dr. Robert Kirkland Langstrom, mais conhecido como Morcego Humano, aqui um guloso e barrigudo homem morcego que só sabe comer e beber, inconvenientemente interrompendo conversas. Não poderia haver uma família mais disfuncional que essa, mas as oportunidades para abordagens interessantes aumentam muito justamente por essa razão e, diria, tornou-se muito rapidamente minha versão favorita da Bat-Família, pois, se ela é inevitável, então que seja assim, totalmente ensandecida.

Percebe-se muito claramente que Roth sabe o que está fazendo. Não só suas escolhas inusitadas para a composição da nova família do Morcegão funcionam de imediato, como a manutenção do estilo artístico do cartunista britânico Ronald Searle, falecido em 2011, em que reinam corpos desproporcionais com torsos enormes e braços e pernas finas, penteados exagerados e normalmente tortos, feições extremas que contam com queixos e cabeças ou minúsculos ou gigantes e, no caso de personagens mais velhos, uma aparência que chega a ser asquerosa, mas no bom sentido, se é que me entendem, é o coração visual da série que conta também com as estruturas físicas exageradas, algo mais evidente na Mansão Wayne que parece uma catedral gótica. As recriações dos personagens dos quadrinhos que formam a nova Bat-Família são perfeitas, assim como são as versões dos vilões que aparecem na história, notadamente o grupo vilanesco fixo em reabilitação – que é uma extensão da Bat-Família – formado por Rei Tut (Fred Tatasciore), tirado diretamente da série de 1966, Chapeleira Triste (Natalie Palamides), criada exclusivamente para a série como a filha do Chapeleiro Maluco (Aristotle Athari) e que não quer seguir a carreira do pai, Cascavel em versão feminina (Kaitlyn Robrock), Mariposa Assassina (Diedrich Bader) e Giganta (também Tatasciore), que só aparece como pés e tornozelos enormes.

Em termos narrativos, Roth também acerta em cheio criando episódios independentes do tipo “caso da semana”, que, porém, são conectados por uma história única em segundo plano sobre o roubo de um MacGuffin de posse das Indústrias Wayne por parte de diversos vilões clássicos que retornam pontualmente e que converge e é resolvida nos dois episódios finais que trazem de volta o Coringa (David Hornsby também retornando do longa). Ou seja, é possível apreciar a série sem maiores preocupações com amarras mais fortes do que uma ligação razoavelmente tênue que serve para trazer algumas revelações interessantes e momentos catárticos que ajudam no desenvolvimento tanto do pequeno Damien, aprendendo a ser responsável, quanto do Batman aprendendo a ser pai e, mais do que isso, patriarca de uma grande família. Cada episódio tem roteiro muito azeitado que dá um mínimo de ordem ao caos mesmo quando Damien, ajudado pelas filhas gêmeas de Harvey Dent, que, como vocês podem imaginar, são dois lados de uma mesma moeda, liberta parademônios de Apokolips nos Laboratorios S.T.A.R. ou quando o Pequeno Batman faz dupla com o Morcego Humano, usando a identidade super-heroística de Homem-Morcego Humano, para solucionar o roubo de cartas colecionáveis em que seu pai se recusa a se envolver inicialmente.

Brincando – e também ironizando e satirizando – a cada vez mais inchada Bat-Família dos quadrinhos, Mike Roth faz uma excelente recriação desse conceito tão amplamente explorado que tem o potencial de agradar tanto os pequenos quanto os já adultos, fãs do Batman e de seus agregados há décadas, mostrando que, com um pouco de vontade de realmente ousar narrativa e visualmente, aquilo que parece desgastado pode ganhar nova vida. Mas é importante ter a mente aberta para artes diferentes (apesar de tecnicamente clássicas se levarmos em conta a inspiração em Searle) e uma animação que preza a infinita energia cinética do Menino-Morcego e os demais que gravitam ao seu redor acima de tudo, com o Homem-Morcego sendo essencialmente um coadjuvante, ainda que importante, sem dúvida, que graciosamente abre espaço para os demais de sua família brilharem. Que essa Bat-Família não só retorne, como cresça em direções ainda mais imprevisíveis!

Bat-Família – 1ª Temporada (Bat-Fam – EUA, 10 de novembro de 2025)
Criação:
Mike Roth, Jase Ricci
Showrunner: Mike Roth
Direção: Sam Spina, Kat Morris, Aleks Sennwald
Roteiro: Jase Ricci, Han-Yee Ling, Moujan Zolfaghari, Shakira Pressley, Libby Doyne, Matt Price
Elenco: Luke Wilson, Yonas Kibreab, James Cromwell, Haley Tju, London Hughes, Michael Benyaer, Bobby Moynihan, Fred Tatasciore, Diedrich Bader, Kaitlyn Robrock, Cynthia Kaye McWilliams, Natalie Palamides, Lori Alan, Aristotle Athari, Reese Lores, David Hornsby
Duração: 253 min. (10 episódios)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais