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Entenda Melhor | Apontamentos Sobre o Terror no Cinema

por Luiz Santiago
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Talvez o terror seja o gênero cinematográfico mais aberto a variantes e subgêneros com padrões mais facilmente reconhecíveis, independente das abordagens que se faça deles. Os filmes com essa classificação misturam o suspense à capacidade humana de sentir medo de coisas que não apresentam ameaça lógica e real, apostando, em paralelo, em altas doses de ansiedade e possíveis fobias, o que torna essas obras inconfundíveis para o espectador. Mesmo os gêneros “aliados” ao terror, como o suspense e o thriller, possuem algumas sequências aterradoras, sempre ligadas ao assassinato ou algum tipo de violência, o elemento-base para o desencadear do enredo. Desde Barba Azul (Méliès, 1901), o assassinato como motivo dramático tem sido grandemente explorado nesse tipo de filme, ganhado versões que vão do sadismo à psicopatia e com tratamento cada vez mais apelativo ao longo das décadas.

Você tem medo de quê?

terror horror

Alguma dessas imagens te causam desconforto?

Medo, fobia, pavor, etc. Todos nós sabemos que para a psicologia — em resumo porco –, o medo é estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência. Historicamente, o medo permitiu que a nossa espécie evoluísse, afinal, se não temêssemos animais selvagens, por exemplo, provavelmente teríamos virado comidinha antes mesmo de chegarmos a Sapiens. Mas… e quando falamos de um medo de algo que não faz muito sentido, porque não apresenta perigo real; ou medo de algo que, a rigor, não existe? Ou medo de ter medo? Vamos fazer um teste? Dos termos e palavras abaixo, de quantas você tem medo?

SUFOCAMENTO  —  ATAQUE TERRORISTA  —  BARATA  —  FAZER PAPEL DE BOBO  —  O FUTURO  —  NÃO TER SUCESSO  —  COBRA  —  GUERRA NUCLEAR  —  FICAR SOZINHO  —  ESCURO  —  DIABO  —  ARANHAS  —  NÃO IR PARA O CÉU  —  FALAR EM PÚBLICO  —  VIOLÊNCIA URBANA  —  MORRER  —  MORTE DE ALGUÉM QUERIDO  —  AGULHAS  —  ELEVADORES  —  ALTURA  —  PALHAÇOS  —  AVES  —  CÃES  —  SEUS PAIS  —  DEUS 

Agora pare e pense: quantos filmes de terror que você conhece já utilizou desses temas (direta ou indiretamente) como padrão de susto em seus enredos? Você já reparou que o cinema utiliza migalhas ou padrões específicos desses medos comuns, destacando-os nos roteiros? E que esses roteiros estão aliados a algum elemento visualmente assustador, como uma máscara ou um ambiente escuro com algo que se move e nós não vemos? Olhe com atenção para cada uma das figuras abaixo e vejam o VAZIO que a máscara ou que a expressão deformada representa. Por que elas são assustadoras? Qual é a ameaça REAL que elas representam?

terror cinema

Há uma hipótese psicológica/comportamental chamada VALE DA ESTRANHEZA (uncanny valley) cunhada pelo professor de robótica Masahiro Mori em 1970 e retrabalhada no livro Robots: Fact, Fiction, and Prediction (1978), de Jasia Reichardt, que diz que toda réplica humanoide que age ou é constituída fisicamente de forma semelhante — mas não idêntica — aos seres humanos, com certeza causará repulsa. Existe um excelente artigo escrito em 1919 por Freud, chamado O Estranho e que toca no servo dessa questão (eu sugiro veementemente a leitura para quem gosta do tema). Vou reproduzir apenas um parágrafo aqui para que vocês possam pensar a respeito dessa ideia do “estranho” e do “vale da estranheza” que o cinema de terror aborda, valendo de nosso pobre aparelho psíquico. Segue:

[…] o estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar. Como isso é possível, em que circunstâncias o familiar pode tornar-se estranho e assustador, é o que mostrarei no que se segue. […]

A palavra alemã ‘unheimlich’ é obviamente o oposto de ‘heimlich’ [‘doméstica’], ‘heimisch‘ [‘nativo’] — o oposto do que é familiar; e somos tentados a concluir que aquilo que é ‘estranho’ é assustador precisamente porque não é conhecido e familiar. Naturalmente, contudo, nem tudo o que é novo e não familiar é assustador […]. Só podemos dizer que aquilo que é novo pode tornar-se facilmente assustador e estranho; algumas novidades são assustadoras, mas de modo algum todas elas. Algo tem de ser acrescentado ao que é novo e não familiar, para torná-lo estranho.

É como se Freud estivesse pensando em duas cordilheiras psíquicas, uma onde você se sente seguro e bem, porque conhece tudo ali; e outra onde você morre de pavor porque não conhece nada e tudo pode ser uma ameaça. No meio dessas duas cordilheiras, há um vale enorme, que REMETE a coisas da cordilheira da segurança, mas é novo o bastante para parecer com coisas da cordilheira do pavor. O cérebro praticamente entra em choque porque não sabe que sensações exatamente te fazer sentir. Daí a reação de rejeição, repulsa ou medo (às vezes disfarçado por um riso que acredita espantar essas emoções). Vamos para um exemplo prático. Assista ao vídeo abaixo:

Consegue perceber? Um androide (algo familiar, mas nem tanto) cantando I Feel Fantastic em um acompanhamento musical (algo familiar, mas nem tanto) numa estética de vídeos comuns, mas nem tanto. O resultado? Bem, esse mesmo que você está sentindo agora. Ou o mesmo que os produtores, diretores, roteiristas e toda equipe de um bom filme de terror procura se aproximar: trazer coisas do seu ambiente familiar mas adicionar o “nem tanto” a elas, profanando-as ou fazendo inúmeras outras coisas que as tornem estranhas (mas nem tanto) para você.

O Terror da Ambiguidade 

Vamos começar do simples: nós não gostamos e na maioria da vezes não sabemos lidar com ambiguidades. Não ter certeza se algo é do mal ou do bem, se vai ter fazer mal ou não, se é movido por “forças encapetadas” ou é só um truque do seu cérebro… tudo isso causa uma tremenda angústia e eleva o nosso nível de estresse em questão de segundos. Percebem como clássicos tal qual Nosferatu (1922) ou obras do nosso século como Exorcistas do Vaticano (2015) utilizam-se do mesmo caminho de GERAÇÃO DE MEDO através de uma atmosfera inicialmente sutil, que é o jogo de “é isso ou aquilo?“?. É evidente que quando a ambiguidade, o “não saber” está ligado ao horror, a nossa postura é tentar entender de imediato a questão e dar significado ao que vemos. Quantas vezes você já viu pessoas querendo fazer uma leitura racional, coerente e teórica de Um Cão Andaluz ou qualquer outro filme surrealista? A gente QUER SABER. Observe abaixo os quadros do artista polonês Jarosław Jaśnikowski e veja como o vale da estranheza + a ambiguidade podem caminhar juntos em qualquer arte.

terror, pintura surrealista

Defina a sensação que essas telas te passam.

Há teorias bem ou mal aceitas que tentam mostrar a nossa reação ao lidar com ambiguidades, desde a teoria da Dissonância Cognitiva, de Leon Festinger, até hipóteses evolucionistas ou que apontam para o auto-engano, a Síndrome de Wallace e por aí vai. É paradoxal, mas algumas vezes fugimos do medo e outras vezes procuramos nos enganar, mentir para nós mesmos (acreditar, mesmo sabendo que é mentira) para sentir medo, uma ação que se repete todas as vezes em que assistimos a um filme de terror. E o melhor de tudo é que nós sentimos!

Da Mitologia e Literatura Para o Cinema

Se olharmos para a formação original do terror como gênero, independente da arte ou mídia, cairemos no mesmo lugar, na mitologia e nas religiões como primeiras fontes de material bruto para as criações artísticas deste gênero, que a rigor só se ergueria como tal (com seus maneirismos e temas) no final do século 18, na literatura, com um pontapé bem grande dado pelo livro O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, o primeiro romance gótico da História. Pouco mais de 50 anos depois veio o primeiro grande horror clássico, pelas mãos de Mary Shelley, em 1818: Frankenstein. E o século 19 só estava apenas começando.

Foi após a publicação de Frankenstein que o interesse de diversos autores se voltaram para o sombrio, o macabro, o terror, não necessariamente como matéria bruta para suas publicações, mas com fio da meada ou atmosfera dramática. Assim, a seu modo, autores como Emily Bronte (O Morro dos Ventos Uivantes), Charles Dickens (O Sinaleiro e Um Conto de Natal), Herman Melville (Moby Dick), Nathaniel Hawthorne (A Letra Escarlate) incorporaram inúmeros elementos espirituais ou ingredientes da decadente tradição gótica em suas obras. O final do século ainda nos traria herdeiros dessa traição como J S Le Fanu (Uncle Silas), Sir Arthur Conan Doyle (aventuras de Sherlock Holmes), Wilkie Collins (The Woman in White), Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro), Edgar Allan Poe (praticamente toda a obra), Bram Stoker (Drácula) e, já misturando elementos de ficção científica, H.G.Wells, com A Ilha do Dr. Moreau.

livros de terror

E vejam que eu segui apenas uma vertente temática que mais teve influência para o cinema — ponto central desse artigo –, mas existiram muitas outras vertentes, mais leves ou mais pesadas, todas mostrando casos inexplicáveis, ambientes ou atitudes macabras, pessoas ou criaturas estranhas. Retirando dos mitos e da Bíblia muitos de seus ingredientes, essa literatura foi a inspiração básica para o cinema de terror em sua origem, também no final do século 19.

O Terror no Cinema: Primeiros Passos

Os “filmes de terror” encerram os mais impensáveis elementos do mundo fantástico (não raro apresentam criaturas e seres vindos do inferno ou das profundezas de algum lugar) e os inserem em uma narrativa que prende o espectador, fazendo-o também uma vítima do vilão — sobrenatural ou não. Essa exposição do indivíduo ao seu próprio medo¹ acrescido das criações do imaginário popular e também das superstições e psicologia de quem assiste ao filme é a grande estratégia provocativa do gênero. Caso o medo não exista por parte do espectador, o filme se encarrega de criá-lo através do clima sombrio da história, da trilha sonora e do trabalho da câmera, que sempre oculta propositalmente alguma coisa, para revelá-la no “momento-susto”.

Ao criar uma possível ameaça, os filmes de terror produzem um medo virtual, que se soma aos medos pessoais do espectador ou se torna o medo temporário dos mais destemidos e isso passa por zumbis, assassinos em série, espíritos, alienígenas, demônios, vampiros, lobisomens, bruxas, feitiçaria em geral, tortura, canibalismo, animais ferozes, deformações físicas, profanação de objetos considerados sagrados e por aí vai.

Mas… o no começo, como era? Bem, apesar de sempre haver divergências em relação a isso, a versão mais aceita hoje é que os primeiros filmes de terror foram curtas realizados na França pelo diretor-mágico Georges Méliès, sendo o primeiro desses filmes, O Solar do Diabo (1896), que você pode assistir abaixo.

Os anos 1900 e 1910 conheceram as primeiras adaptações de clássicos do século 19, como O Médico e o Monstro, adaptado para o cinema pela primeira vez em 1908 e Frankenstein, adaptado pela primeira vez em 1910. A França, o Reino Unido, os Estados Unidos e a Alemanha foram os países que mais se destacaram nessa primeira leva de filmes de terror, embora não fossem os únicos (Império Austro-Húngaro, Dinamarca e Japão também deram suas contribuições nesse período). Mas foi na Alemanha que, de pouquinho em pouquinho, uma nova forma de abordar a vida e enxergar o terror no cinema surgiu.

Em 1913, Stellan Rye dirigiu O Estudante de Praga, baseado em um conto de Edgar Allan Poe. Foi a verdadeira semente que faria germinar, especialmente a partir de 1919, o EXPRESSIONISMO ALEMÃO, cujo primeiro filme maduro e com todas as nuances do movimento bem exploradas apareceu um ano depois da assinatura do Tratado de Versalhes que deixava a Alemanha no chão após a I Guerra: O Gabinete do Dr. Caligari (1920). Dentre inúmeros outros filmes do movimento, destacam-se também O Golem e Nosferatu, ambos de 1922 e Figuras de Cera (1924). O terror ainda teria investidas bem distintas nos anos 1920, como no caso dos suecos A Carruagem Fantasma (1921) e Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos (1922) e dos americanos O Fantasma da Ópera (1925), O Mágico (1926), O Monstro do Circo (1927) e O Homem Que Ri (1928).

A robustez do gênero viria nos anos 1930, quando alguns estúdios investiriam pesado nessas produções, abrindo as portas das profundezes e deixando seus monstros tomarem as grandes telas, uma invasão que nunca mais cessou e vem se transformando constantemente ao longo das décadas.
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Outras Visões: O Terror da Morte

Já falamos da importância do assassinato para o impulso narrativo. Em Os Vampiros (1915), Louis Feuillade fez uso da fórmula ‘causa-efeito’ para compor o clima sombrio de cada episódio deste enorme filme, mesclando o terror ao suspense e ao thriller com base nos assassinatos ocorridos. Mas é efetivamente a Morte (mais como significado simbólico do que físico, ou seja, o temor, o ambiente, o definhar, o mundo macabro que a cerca, que dela deriva ou caminha para ela), e não propriamente dito o modo como ela se dá, que cria a atmosfera tenebrosa de uma obra de terror.

cabin-in-the-woods

É o ambiente (e as formas) que envolve a morte que conta.

Nos filmes de terror ou nas sequências de terror em filmes de outros gêneros, a morte ou tudo o que a envolve se torna a medula, independente do modo como se manisfeste. Abaixo, comentarei algumas diferentes representações e usos dramáticos da morte no cinema de terror. Os exemplos citados procuram se aproximar da “fonte original”, por isso, boa parte das obras (ou pelo menos as versões citadas) podem ser pouco conhecidas. Entretanto, não nos limitamos aos “primeiros usos”, usando também exemplos contemporâneos.

  1. A morte personificada, em contato com o homem: A Morte Cansada (1921), O Sétimo Selo (1957).
  2. A morte representada por um símbolo demoníaco ou através de um psicopata: Dr. Mabuse (1922), O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978), Jogos Mortais (2004).
  3. A morte como motivo espiritual, filosófico ou de possessão demoníaca (que não necessariamente tende a matar, mas sempre aterroriza e destrói a ordem): A Carruagem Fantasma (1921), A Hora do Lobo (1968), O Exorcista (1973).
  4. A morte representada por criaturas ou elementos da natureza: King Kong (1933), Os Pássaros (1963), Tubarão (1975), Anaconda (1997), Fim dos Tempos (2008).
  5. A morte corporificada por criaturas místicas: todo e qualquer “filme de vampiros” desde Nosferatu (1922).
  6. A morte associada a “criaturas humanas”, representando rejeição, preconceito, etc., mas não necessariamente morte física: O Fantasma da Ópera (1925), Frankenstein (1931), Monstros (1932).
  7. A morte associada ou executada através da magia e dos rituais satânicos: Haxän – A Feitiçaria Através dos Séculos (1923), À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), A Chave Mestra (2005).

Primeira observação: os espíritos podem ser bons ou ruins nos filmes de terror (ou qualquer outro que contenha espíritos, almas, etc.), e são a própria representação da morte, tendo uma gama de usos: Ghost (1990), Cidade dos Anjos (1998), O Sexto Sentido (1999), Os Outros (2001), Ju-On (2003), Atividade Paranormal e O Orfanato (2007).

Segunda observação: a franquia Premonição (inciada em 2000), criou o seu próprio “estilo” de exposição da morte, jogando com o conhecido lúgubre e a impossibilidade de mudá-lo. Salvo algumas alterações, o filme Efeito Borboleta (2004), caminha mais ou menos nesse mesmo sentido.

O Iluminado - Terror

Espíritos, ambiente macabro, psicopatia e morte.

Através dos diversos tipos de representação e uso dramático da morte, temos as muitas variáveis dos filmes de terror. Se não existe a morte, sua ameaça ou elementos que possam ir de perturbações psicológicas ao satanismo e/ou aparições de espíritos (que sempre intermeiam, sugerem ou acabam em morte), não há filme de terror, o que de certo modo deixa o gênero a mercê de clichês, exigindo bastante criatividade de roteiristas e diretores para não ser mais um do mesmo.
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Outros Terrores

É possível encontrarmos algumas abordagens interessantes e até muito boas nos filmes de “Terror B”. Nessa “categoria”, não poderíamos deixar de citar as produções do estúdio RKO (a despeito do domínio sobre o gênero que a Universal Pictures possuía), nos anos 1930-40, produções cuja sugestão do terror anteciparam, de certo modo, o que a indústria japonesa começou a fazer em ampla escala (destaque para ampla escala) a partir da década de 90, com enorme sucesso. Desse “terror sugestivo” e pontuado de elementos psicanalíticos podemos citar dois bons exemplos: Zaroff – O Caçador de Vidas (1932) e Sangue de Pantera (1942).

Mas o “Terror B” também é famoso por produzir obras nonsenses, hilárias e nojentas, difíceis de se esquecer, como os horrorosos exemplares de “ficção científica horrenda”, onde experimentos falham e o resultado são coisas de fazer embrulhar o estômago (sabem Re-Animator?).

Na mesma leva dos “B”, temos o famoso “filme de zumbis” A Noite dos Mortos Vivos (1968), que traz elementos já trabalhados à exaustão pela Universal Pictures no terror clássico e também por outras obras de diversos estúdios. O sucesso dessa abordagem gerou praticamente uma outra cadeia de produção de horror, com uma variedade absurda de composições como em Madrugada dos Mortos (2004), Meu Namorado é um Zumbi (2013) e Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi (2015).

Um capítulo à parte na história do horror começou a ser “escrito” em 1960, com A Máscara de Satã, de Mario Bava. O cineasta se demonstrou um grande articulador dos motivos hitchcockianos e com uma forte tendência ao surrealismo. Influenciado por Bava, em 1969, Dario Argento realizou sua estreia na direção com um filme que não só o colocou como um grande entendedor e manipulador da dinâmica hitchcockiana (tal qual Bava), como também o definiu como o criador de um sub-gênero do terror, o giallo, denominação italiana para filmes cuja temática sombria é pontuada por violência, mortes e forte suspense (denominação tirada da literatura, assim como o pulp para os noir americanos). Essa temática do horror, associada a uma rigorosa direção e uma estranha beleza estética fez do giallo e de Dario Argento grandes expoentes do macabro, com destaque para a Trilogia dos Bichos: O Pássaro das Plumas de Cristal (1969), O Gato de 9 Caudas (1971) e 4 Moscas no Veludo Cinza (1971).

Terror Trash

Terror + Trash + Comédia + Sci-Fi + o que você quiser…

Não é raro, no entanto, encontrarmos esses filmes “B” com propensão ao terror trash cult mais macabro. Exemplares desses horrores são Pink Flamingos (1972), The Rocky Horror Picture Show (1975), Palhaços Assassinos do Espaço Sideral e o mais engraçado e REALMENTE TRASH exemplo de todos: a Trilogia (!!!) dos Tomates Assassinos, iniciada em 1978.

A fase sangrenta do terror dos anos 1970, abriu as portas para o sadomasoquista que viria na década seguinte, em Hellraiser (1980). Posteriormente, o uso da violência e da sexualidade faria parte da produção em massa do mercado do terror, com destaque para o final do século XX e o século XXI.

Em 1980, Stanley Kubrick deu um novo uso ao “rio de sangue” em seu O Iluminado, adaptação do romance homônimo de Stephen King. A atmosfera de terror aí é fortíssima, mas nem só de muito sangue vive o gênero. Veja um filme como O Bebê de Rosemary (1968), por exemplo, que não tem uma gota de sangue e consegue criar uma sensação de pleno pavor e medo no público. Mais uma vez, o que vale é a atmosfera e a forma como a morte, sua ameça ou alusões são expostas pelo roteiro.

Hoje, o terror não é dos gêneros mais bem representados no cinema, embora alguns nomes interessantes volta e meia apontem no mercado como uma boa promessa ou premissa, vide o entrelaçar de terror com outros gêneros no intrigante Uma Noite de Crime (2013), que mesmo não sendo perfeitamente executado, mantém uma atmosfera bastante aceitável na mescla que se propôs realizar.

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Hoje, o terror precisa de uma urgente renovação. E enquanto isso não vem, assistimos à proliferação do sub-gênero “terror cômico”, que ao lado das infindáveis refilmagens, sequências, spin-offs e reciclagens baratas, nos colocam em um momento onde o gênero tem poucos representantes de qualidade memorável. Resta, ao menos, alguns terrores ou thrillers que ainda conservam uma boa dose de verdadeiro medo e qualidade cinematográfica acima da média, não nos deixando completamente órfãos desse gênero que nos mostra a nossa própria versão de O Médico e o Monstro, da projeção do que nunca fomos a um mar de possibilidades medonhas para o que podemos ser ou para o que pode existir e nos possuir. Ou amedrontar. Ou perseguir. Ou matar.

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.

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Notas

1-  Em 2008, Kiko Goifman realizou uma obra chamada FilmeFobia, película cuja base de sustentação é o medo exposto a quem tem medo.

2 – Não podemos nos esquecer de O Anticristo (2009), perturbadora obra de terror do cineasta dinamarquês Lars von Trier.

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