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Crítica | “÷ [Divide]” – Ed Sheeran

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Depois de + ou Plus (2011) e X ou Multiply (2014), Ed Sheeran lança o seu terceiro álbum de estúdio, ÷ (pronuncia-se DIVIDE), a melhor realização do cantor em sua carreira, até o momento. Ele também assina a produção musical e executiva do álbum, acompanhado de nomes Benny Blanco (que no período em que trabalhou neste disco também esteve em projetos com Justin Bieber, The Weeknd e Maroon 5), KillBeatz, Steve Mac, Johnny McDaid, Will Hicks e Labrinth.

Um primeiro ponto a ser levantado é o fator de semelhança ou recorrências musicais (líricas) e estilísticas (quanto à forma/gênero e produção) que Divide tem em relação aos álbuns anteriores do cantor, especialmente com Multiply. Quem acompanha carreiras de artistas na música ou mesmo no cinema, sabe muito bem o peso que a IDENTIDADE possui nessas discografias ou filmografias, e que sempre existirão elementos recorrentes, preferências e caminhos confortáveis para o artista em questão.

O incômodo pode vir quando o espectador ou ouvinte percebe que determinada obra tem todos os ingredientes possíveis para assumir um maior risco, mas finca o pé quase que unicamente na fórmula com a qual está acostumado, algo que acontece em parte com Ed Sheeran aqui. Evidente que Divide é o mais bem acabado de seus lançamentos e com uma produção limpa, sem exageros eletrônicos e novamente fortalecido pelas letras do compositor. Mas esse “medo” de um salto, que para alguns deverão ter peso maior do que o que foi apresentado, não gerou um álbum ruim. Claro que fica a vontade de ver o cantor usar o talento que tem para ir adiante, mas notem o quanto ele conseguiu polir imperfeições musicais anteriores nas atuais canções e exibir sua vez de maneira mais pavoneada e em momentos certos, considerando a faixa e a mensagem.

Em entrevistas, Sheeran disse que cada momento de Divide funcionaria como um Universo independente e que não haveria uma linha central para todo o disco, o que acho que era apenas medo dele em afirmar algo mais uno e o público distraído não encontrar tal unidade. Mas ela existe sim. Neste terceiro disco, o cantor fala sobre relacionamentos (pessoais, familiares, amorosos) em todos os momentos de sua vida e, a cada fase ou problema com esses contatos, temos uma canção rápida, lenta, feliz, triste, irônica ou mesmo uma confissão, começando de um inesperado folk rap chamado Eraser, com direito a violão declamativo de matriz flamenca e ótimo refrão evocando os raps melódicos dos anos 90.

A abertura forte mostra o quão exigente foi o cantor na produção — e isso deve ser sentido no disco todo, embora tenha pontuais falhas, como o final de New Man, expondo algo parecido com mixagem de um mal DJ… ou até coisas pequenas, que podem parecer chatice de crítico, mas realmente incomodam porque estão em um produto bom, como os “ye ye ye” no final de Hearts Don’t Break Around Here, que são um verdadeiro elefante branco na faixa — e o restante do disco mostraria que uma marca já bem estabelecida e conhecida pode parecer ainda mais atraente, se redecorada. A relação do público com isso sai da esfera de qualidade técnica e entra na esfera pessoal, o que deve dividir as pessoas: uma parte não perdoará Sheeran por “se tornar formulaico” e outra, na qual estou inserido, consegue ver coisas muito boas e sim, até novas, nesse território que tão bem conhecemos do cantor.

Os hits lançados em janeiro de 2017, e que foram campeões dentre os mais tocados no mundo, Castle on the Hill (balada biográfica, bela e familiar para o cantor) e Shape of You (com percussão de matriz africana — a marimba aqui é o grande destaque e adiciona um tom exótico e ao mesmo tempo tão familiar para nós brasileiros –, bons elementos de dancehall, e, acima de tudo, totalmente fora do Universo original de Sheeran) são excelentes canções e formam um grande contraste entre si, agradando possivelmente a públicos diferentes. Em outra linha, temos composições como Dive, que exibem bastante a capacidade do cantor em tons altos e, grata surpresa, uma que explora os tons graves de sua tessitura, Happier.

É nesse ponto que eu volto à afirmação de que Divide é um disco que merece atenção, além de ser gostoso de se ouvir. Sheeran tem uma voz que se segura bem e não se torna enjoativa, já que ele é bastante talentoso e sabe fazer uso de sua extensão e usar a música e a letra a seu favor, imprimindo mais força ou delicadeza mesmo em um verso ou estrofe de uma mesma canção. Vejam, por exemplo, a emoção de uma faixa como Perfect e sua dobradinha temática, How Would You Feel (Paean). Piano, orquestra, voz e o romantismo da letra também trazem um Ed Sheeran diferente, se adequando à mensagem que cada uma passa. O mesmo ocorre com a rica Galway Girl, que mescla rap, música tradicional irlandesa (em compasso levemente modificado) e linha de violão pop simples, tornando a faixa uma das mais bem pensadas em termos de musicalidade (ao lado de Shape of You, se adicionarmos a função harmônica do refrão de muitas vozes).

Parecendo uma encarnação mais simpática de Jack Johnson em What Do I Know? (cuja sequência final dos refrões me lembraram muito a musiquinha “huuummm huuummm huuummm” entoada em O Lobo de Wall Street) e com uma emocionante faixa final Supermarket Flowers (escrita usando a metáfora de um anjo para sua avó recém-falecida, com eu-lírico assumindo o ponto de vista de sua mãe) Divide se mostra um sólido disco, mostrando que Ed Sheeran está pronto para sair da casinha. Trata-se de um disco bastante pessoal, emotivo e cativante, que marcou grande número de vendas já no dia de seu lançamento e deve servir, se o cantor realmente quiser mostrar amadurecimento, como degrau para uma outra fase de sua carreira.

Aumenta!: Shape of You
Diminui!: 
Minhas canções favoritas do álbum: Shape of You  e  Eraser

÷
Artista: Ed Sheeran
País: Reino Unido e Estados Unidos
Lançamento: 3 de março de 2017
Gravadora: Asylum, Atlantic
Estilo: Pop, Soul, R&B, Hip-Hop

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