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Crítica | 007 Marcado Para a Morte

por Ritter Fan
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A “era Roger Moore” acabou na franquia 007 com 007 – Na Mira dos Assassinos, uma despedida razoavelmente digna para o mais palhaço dos Bonds e o que menos pessoalmente me agrada. Mas John Glen, que embarcou na direção em 007 – Somente Para Seus Olhos, continuou e conseguiu em 007 Marcado Para a Morte aquilo que vinha querendo fazer há tempos: um filme sério, que resgata as raízes do agente secreto mais famoso do cinema.

E ele definitivamente conseguiu.

Mas grande parte do crédito vai para Timothy Dalton, que já na época de lançamento de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes, havia sido cogitado para o papel (no lugar de Sean Connery), mas recusou-o por considerar-se jovem demais. Em 1986, quando foi contratado para 007 Marcado Para a Morte, ele já tinha 42 anos, mas conseguiu trazer de volta um 007 crível, talvez o mais “pé no chão” de todos até a atual “era Daniel Craig”.

Outra parte do crédito vai para uma espécie de revitalização da franquia determinada por Broccolli e sua Eon Productions, o que culminou com os veteranos roteiristas Richard Maibaum e Michael G. Wilson (esse último enteado de Broccolli) escrevendo uma obra que, ao mesmo tempo que remete aos melhores filmes da série, como 007 Contra Goldfinger e Moscou Contra 007, dá um sopro novo de vida a tudo o que foi feito antes.

James Bond (Timothy Dalton) é encarregado de tornar possível a defecção de um oficial da KGB, o General Georgi Koskov (Jeroen Krabbé). Durante a operação, Bond deixa de matar Kara Milovy (Maryam d’Abo), uma bela atiradora soviética, pois ele instintivamente acha que tem alguma coisa errada. Isso quase faz com que sua missão falhe, mas, ao final, ele é bem sucedido. No entanto, Bond continua com a pulga atrás da orelha e, quando M (Robert Brown) ordena que ele assassine o General Leonid Pushkin (o sempre bonachão John Rhys-Davies), pois Koskov havia passado a informação de que o general estava por detrás de uma operação chamada Matem os Espiões, ou Smiert Spionem (uma menção à agência soviética verdadeira chamada SMERSH), o agente secreto decide investigar com mais cuidado. A partir daí, ele pula de Viena para Tangier e de lá para o Afeganistão, em plena época de invasão soviética ao país (mais uma vez vemos a série de 007 antenada com a realidade geopolítica do mundo).

O roteiro, diferente do filme anterior, é bem costurado e as viagens internacionais de Bond são organicamente inseridas na trama. As maquinações, que também envolvem contrabando de armas e de drogas e um militar americano chamado Brad Whitaker (Joe Don Baker), podem até ser implausíveis, mas, de certa maneira, funcionam perfeitamente bem, sem qualquer soluço. Nós acreditamos que aquilo que estamos vendo é verdade, em um uso magistral da suspensão da descrença, algo que, hoje, os diretores acham que fica a cargo dos espectadores, mas que, na verdade, depende unicamente deles.

E a razão para isso é que sentimos o perigo pelo qual Bond passa. E sentimos suas emoções também. Timothy Dalton canaliza, ao mesmo tempo, Sean Connery e George Lazenby, o primeiro caracterizado por seu charme seco e violento e, o segundo, por suas emoções mais à flor da pele. Não fosse o indefectível flair aristocrático de Sean Connery, arriscaria facilmente dizer que Timothy Dalton é a mistura perfeita entre razão, frieza e emoção que sempre deveria ter caracterizado James Bond nas telas.

Mas o roteiro consegue inserir os “absurdos” que marcaram tão profundamente a série de 007 e talvez o maior deles seja a bem-vinda volta do Aston Martin, que não víamos desde 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, ou seja, nove filmes atrás. O modelo, agora, é o V8 Vantage, armado com mísseis, turbina e um utilíssimo esqui. Ver a sequência de perseguição com esse carro depois de tanto tempo com o horroroso Lotus Esprit é, sem dúvida, de arrancar sorrisos do rosto de qualquer um.

A música é também outro ponto alto do filme. É a última participação de John Barry na composição da trilha de um filme de 007 e ele faz um grande trabalho ao modernizar a música com batidas eletrônicas, além de ter ajudado a compor The Living Daylights junto com Paul Waaktaar-Savoy, do grupo norueguês A-ha, uma das mais famosas músicas-título da série. Mas Barry foi além e criou sua própria versão de The Living Daylights, rejeitada por Waaktaar-Savoy, mas que pontua brilhantemente todo o filme, juntamente com a já absolutamente imortal composição de Monty Norman.

Se 007 Marcado Para a Morte tem um defeito é não saber onde parar. As cenas de ação perfeitamente encadeadas uma atrás da outra e com duração cirúrgica, funcionam muito bem até o final da seqüência no Afeganistão (que, aliás, mostra um controle absoluto da montagem por Peter Davies e John Grover). Depois disso, com o filme já com duas horas de duração, há dois epílogos que acabam prolongando a ação para que todas as pontas sejam devidamente amarradas. Nesse ponto, o roteiro poderia ter sido mais econômico, talvez apenas narrando os acontecimentos off screen ou, melhor ainda, tornando-os parte integral da ação no Afeganistão.

No entanto, com tanta coisa boa acontecendo em 007 Marcado Para a Morte, especialmente de tantos anos da desconcertante “era Roger Moore”, é perfeitamente possível perdoar um pequeno escorregão no roteiro e abraçar calorosamente o retorno à forma do espião que todos nós amamos.

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