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Crítica | 17 Quadras

por Luiz Santiago
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Logo no início de 17 Quadras, o espectador pode ler o seguinte: “Em 1999 o cineasta Davy Rothbart conheceu Emmanuel Sanford-Durant e seu irmão “Smurf” num jogo de basquete, no sudoeste de Washington, DC. Com o crescimento da amizade, Davy começou a filmar o dia a dia deles, e logo Emmanuel, Smurf e família passaram a pegar na câmera também. Juntos, eles continuaram filmando os últimos 20 anos. A história de Sanford-Durant, com mais de mil horas de filmagem, começa no bairro onde moravam em 1999, apenas 17 quadras atrás do capitólio“. E é justamente isso que este documentário se propõe a nos apresentar: a história de uma família através dos anos.

Existem alguns elementos de raça e de classe que, desde cedo, precisam ser abordados aqui em 17 Quadras. O primeiro deles é a visão compartilhada que Davy Rothbart, um cineasta branco, adota no decorrer da narrativa, ao documentar uma família negra. Como ele mesmo expõe na introdução do filme, uma parte desses arquivos foram feitos por alguns dos documentados, e essa mescla de visões torna o filme um curioso apanhado de vivências, sorrisos, crises, tristezas e superações que os Sanford tiveram, cada um desses pontos tendo uma abordagem diferente, do registro de emoção ou cenas cotidianas a entrevistas e cenas de contexto. Nem sempre a montagem consegue uma passagem orgânica entre um bloco e outro, às vezes parecendo que, entre esses pontos, seria necessário um maior contexto, embora isso não gere grande problema para a linha narrativa (ou seja, o espectador não se perde).

Pela quantidade de coisa filmada durante vinte anos, é claro que o processo de montagem foi hercúleo, não só em termos de escolher o que entrava ou não para o corte final, mas também no sentido de elencar eventos que indicassem essa passagem do tempo, o amadurecimento das pessoas e o peso de alguns acontecimentos na vida de cada um. Pelo fato de mostrar as imagens cruas, apenas com letreiros indicando o ano e o local em que aquele bloco se passa, o cineasta consegue fazer com que o público se aproxime bastante desses indivíduos, e isso tem um grande peso na esfera emocional, às vezes dando a impressão de que estamos assistindo a uma luta cotidiana que pode ser nossa ou estar bem ao nosso lado, na rua da frente, na mesma cidade.

Eu comentei antes que a questão racial e a questão de classe são elementos intrínsecos ao filme, e isso nós podemos perceber em vários momentos da projeção, desde a questão da violência urbana e do tráfico de drogas na periferia, até questões ligadas à habitação, educação, emprego e exercício da justiça. Em 17 Quadras, somos convidados a contemplar 20 anos de amadurecimento, perdas e ganhos de uma família. Isso pode trazer diversas linhas de reflexão, das mais filosóficas (sentido da vida) até as que estão ligadas a temas sociológicos e culturais. O final esperançoso é capaz de nos arrancar um grande sorriso ao ver que, após a tempestade, enfim, a bonança se apresentou para essas pessoas.

17 Quadras (17 Blocks) — EUA, 2019
Direção: Davy Rothbart
Roteiro: Davy Rothbart, Jennifer Tiexiera
Elenco: Emmanuel Durant Jr., Akil ‘Smurf’ Sanford, Cheryl Sanford, Justin Sanford, Denice Sanford-Durant
Duração: 96 min.

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