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Crítica | 20.000 Léguas Submarinas (1954)

por Luiz Santiago
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Júlio (ou Jules) Verne lançou 20.000 Léguas Submarinas no ano de 1869, baseando-se em histórias e conhecimentos científicos de sua época e adicionando muitas doses de imaginação à saga do Capitão Nemo e seu submarino Náutilus, que na ocasião abordada na obra, tem três novos passageiros, o naturalista francês Professor Aronnax, seu assistente Conseil e o excelente arpoador canadense Ned Land.

Adaptado para o cinema pela primeira vez em 1907, por Georges Méliès, e depois por Stuart Paton em 1916, 20.000 Léguas Submarinas ganhou, em 1954, a atenção da Walt Disney Productions, que contratou Richard Fleischer, filho de um dos concorrentes dos estúdios Disney, como diretor, iniciando um dos projetos mais ambiciosos da empresa até então. Considerado um excelente técnico, bom diretor de atores e imaginativo com novas tecnologias, Richard Fleischer teve elogios do próprio Walt Disney, que quando perguntado se sabia de quem ele era filho, respondeu que sim e disse que ele era a melhor escolha para o trabalho.

Como acontece com toda obra que estreia uma nova tecnologia para um estúdio — e aqui tínhamos o primeiro longa em CinemaScope da Disney –, a produção se empenhou em contratar os melhores técnicos disponíveis para lidar com a novidade, que exigia de imediato um bom diretor, um bom fotógrafo — posto ocupado por Franz Planer, que já havia recebido indicações ao Oscar por O Invencível (1949) e A Morte do Caixeiro Viajante (1951) –; uma boa direção de arte, aqui assinada por Harper Goff e John Meehan (vencedor do Oscar na categoria por Tarde Demais e Crepúsculo dos Deuses) e uma boa equipe de efeitos especiais. O resultado não poderia ser mais positivo: a obra levou para casa o Oscar nas categorias de Arte, Efeitos e também uma indicação para a edição de Elmo Williams, que vencera o prêmio um ano antes, por Matar ou Morrer.

Como um filme de aventura e, principalmente, por ter sido feito na época em que foi feito, 20.000 Léguas Submarinas merece todo o respeito. Sua produção e execução são inteligentes, as locações nas Bahamas e Jamaica são muito bem aproveitadas — existem algumas barrigas na direção das cenas subaquáticas, na verdade, mas são poucas — e o desenho de produção para o exterior (construído deformado por conta dos efeitos da lente anamórfica na captura de imagens do CinemaScope) e interior do submarino Náutilus são excelentes. Há uma mistura intrigante de elementos visuais e também textuais dos filmes de pirata, dos filmes de batalha naval ou qualquer outra aventura marítima. Por este ponto, o longa nos garante uma ótima diversão e belas imagens para apreciar.

O problema, talvez, seja um braço ou um outro lado desse trabalho estético ou mesmo da necessidade de replicar os grandes momentos do livro. Ressaltemos a cena com a lula gigante, por exemplo. Tirando o fato de que ela precisou ser inteiramente refilmada, pois na primeira versão, o ataque acontecia com outras condições de tempo, o trabalho do diretor para entregar todas aquelas idas e vindas, ataques e contra-ataques do monstro resultou apenas em uma sequência encaixada à força na história (o que não acontece no livro). Durante todo o tempo, a exploração, o duvidoso conceito moral do capitão Nemo e sua complicada relação com o professor Aronnax, Conseil e Ned são os destaques da narrativa. Até a cena da colônia penal de Rura Penthe e a correria na Nova Guiné são bem colocadas no todo da trama. Mas a sequência com a lula gigante não recebe o mesmo tratamento.

SPOILERS!

Talvez pelo teor de “lição de moral” ou “lição humana” presente nas produções da Disney, o roteiro não é muito coerente com a composição psicológica dos personagens. Não que eles tenham várias facetas. O fato é que não são definidos de verdade, por receio do roteirista/produtores/estúdio, uma posição vista em Nemo e nos outros três personagens centrais, especialmente na reta final do roteiro. Em certo momento, o capitão parece ter esperanças, e existem “justificativas” para agir como age. Em outro momento, ele apenas condena todos a um “suicídio coletivo”, enquanto sua base na ilha é destruída e ele mesmo morre, após ser alvejado por uma bala. Esse comportamento bipolar atrapalha e diminui a força do personagem, mesmo com a ótima interpretação de James Mason para ele.

Com esperados momentos musicais — alguns orgânicos na trama, outros nem tanto –, uma hilária foquinha e uma relação muito boa entre Kirk Douglas e Peter Lorre em cena, 20.000 Léguas Submarinas encanta pelas imagens e diverte, mas não é um filme de roteiro fechadinho e personagens ou temática perfeitamente construídas. Mesmo assim, vale seu saldo final é muito positivo e com toda a certeza vale a sessão.

20.000 Léguas Submarinas (20,000 Leagues Under the Sea) — EUA, 1954
Direção: Richard Fleischer
Roteiro: Earl Felton
Elenco: Kirk Douglas, James Mason, Paul Lukas, Peter Lorre, Robert J. Wilke, Ted de Corsia, Carleton Young, J.M. Kerrigan, Percy Helton, Ted Cooper
Duração: 127 min.

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