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Crítica | 30 Dias de Noite

por Leonardo Campos
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No imaginário cultural e científico do século XIX, era de grandes transformações para a figura do vampiro, tais criaturas representam um passado extinguido, ou seja, tudo que o conhecimento racionalista reprime. A alegoria da luz como fonte de iluminação para as ideias trevosas de um passado remoto para a história do conhecimento é um dos melhores pontos na compreensão do avanço da tradição vampírica na cultura popular e no relacionamento intrínseco com as narrativas ficcionais que passaram pelo teatro, literatura, em prosa e poesia, para depois ir ao cinema e aos formatos de consumo subsequentes. Baseado na HQ de Steve Niles e Brian Templesmith, 30 Dias de Noite não deixa de dialogar com os elementos da extensa mitologia dos vampiros na história das sociedades. A falta de comunicação, o sucateamento tecnológico por meio da sabotagem, as trevas como ponto nevrálgico do desenvolvimento da ação após o surgimento do ominoso que se revela mais perigoso que o imaginado são pontos de articulação com toda essa “tradição”.

O projeto começou a ganhar vida e direcionamento cinematográfico depois que Sam Raimi, diretor também conhecido por empreender na cadeira de produtor, teve acesso ao material e apadrinhou a tradução do conteúdo em HQ para suporte audiovisual. Dirigido por David Slade, tendo como base, o roteiro escrito por Stuart Beattie, Brian Nelson e Steve Niles, 30 Dias de Noite é uma trama como desenvolvimento narrativo conectado aos elementos da linguagem do videoclipe ao retratar a história de Barrow, um vilarejo localizado no Alasca, espaço geográfico conhecido por passar um mês inteiro do inverno anual na mais completa escuridão, conceito ideal para o desenvolvimento de situações de horror. Para quem se lembra dos perigos noturnos e do avanço e retrocesso do relógio em Evil Dead – A Morte do Demônio, dentre tantos outros filmes do segmento, reconhece que a paisagem noturna pode ofertar material potencialmente dramático para o desenvolvimento deste tipo de enredo, principalmente quanto a temática é bem trabalhada.

Quando a situação diferenciada se estabelece na região, os moradores se deslocam, numa migração temporária. O último avião está prestes a sair e alguns acontecimentos inesperados impedem que uma parte dos desejos em se deslocar cumpra com seus agendamentos. O resultado é a estadia que sequer imaginam, será guiada por momentos de puro horror, catalisada após a chegada de um forasteiro na cidade. Os cães da região começam a aparecer violentamente mortos, com feridas assustadoras, além da sabotagem do único helicóptero das imediações. Os cenários vão gradativamente se modificando e os personagens começam a perceber que precisarão lutar vorazmente por suas vidas. A energia é também sabotada e consequentemente, os meios de comunicação, situação ideal para que os vampiros, monstros que antagonizam a narrativa, façam a farra demoníaca ao longo dos frenéticos e visualmente deslumbrantes 113 minutos de filme.

Dentre as subtramas, a de maior destaque é o desenvolvimento da história do xerife Eben Oleson (Josh Hartnett), em fase de separação com a sua esposa, Stella Oleson (Melissa George), personagem que depois de uma manobra que acaba se transformando num incidente de trânsito em seu deslocamento para o aeroporto, é obrigada a chegar na cidade. Ela terá de conviver novamente com o esposo em fase de dissociação matrimonial e passará a ocupar um posto central para a história cheia de outros personagens calculadamente expostos em cena para ser parte da trajetória sanguinária dos vampiros, criaturas da noite que atacam numa velocidade absurda e possuem um estilo muito peculiar de se comunicar e trajar. A chegada desses antagonistas e outros detalhes são explicados sem muito esmiuçar durante o filme, narrativa com informações suficientes para que compreendamos a situação “apocalíptica” enfrentada pelos personagens acuados numa zona distante, gélida e mergulhada na mais profunda escuridão.

Dinâmico e envolvente, 30 Dias de Noite não é um filme perfeito, haja vista alguns problemas de ordem dramática, em especial, no desenvolvimento pouco eficiente de determinados personagens. A ação dos vampiros também poderia ser melhor trabalhada, talvez, numa atmosfera talvez próxima da ideia de culto, com ajustes psicológicos para o melhor trabalho das necessidades dramáticas destas criaturas monstruosas. Mas isso são possibilidades para ampliar o filme, diferente de estratégias que atrapalhem os desdobramentos de sua história acima da média e conduzida muito bem por seu diretor com pouca experiência cinematográfica na ocasião de lançamento do filme, em 2007, material que ganhou uma sequência equivocada em 2010, 30 Dias de Noite – Dias Sombrios, trama com retorno de arcos dramáticos do antecessor e turbinada por uma condução narrativa mais genérica e menor não apenas no drama, mas no estilo.

Ademais, não podemos terminar uma análise para 30 Dias de Noite sem mencionar os seus aparatos estéticos, responsáveis por transforma-lo num filme respeitável no que diz respeito a forma como a narrativa se desenvolve cinematograficamente. Na maquiagem, Gino Acevedo entrega um bom trabalho não apenas na construção visual das criaturas, mas nas próteses que dão conta dos corpos que compõem a trilha de horror traçada pelos vampiros alocados nos espaços trabalhados pelos efeitos visuais da equipe de Dan Lemmon, setor bastante eficiente na criação de planos que tornam a direção de fotografia de Jo Willems sofisticada, adornada por elementos somados ao também funcional e adequado design de produção de Paul D. Austerberry. É uma equipe devidamente comprometido com o trabalho, conscientes da importância dos aspectos em questão para tornar a narrativa mais imersiva e conectada ao seu ponto de partida gráfico. Por fim, não posso deixar também de delinear o ótimo desempenho dos figurinos de Jane Holland e da condução musical proporcionada pela trilha sonora de Brian Reitzell, ambos certeiros.

30 Dias de Noite (30 Daysof Night/Estados Unidos, 2007)
Direção: David Slade
Roteiro: Steve Niles, Stuart Beattie, Brian Nelson, Steve Niles, Ben Templesmith
Elenco: Josh Hartnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Rendall, Mark Boone Junior como BeauBrower, Megan Franich, AmberSainsbury, NathanielLees, Joel Tobeck, Elizabeth Hawthorne, Manu Bennett, Billy Kitka, Andrew Stehlin, Craig Hall, Peter Feeney, John Rawls,Jared Turner, Kelson Henderson, Pua Magasiva, Abbey-May Wakefield, Grant Tilly, Rachel Maitland-Smith, Kate Elliott, Jacob Tomuri
Duração: 113 min

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