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Crítica | 300: A Ascensão do Império

por Iann Jeliel
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300: A Ascensão do Império

300 é um filme que nasceu fadado ao mal envelhecimento. A estética carregada digitalmente de Zack Snyder, só se sustenta se ter sido feita por ele mesmo. O aspecto vídeo-clipesco até recriava a fabula das páginas dos quadrinhos de Frank Miller num efeito de artificialidade temporariamente estimulante, por ser acoplado na unidade total do longa. Por mais que o Snyder fosse bastante pragmático a época, utilizando a estilização somente quando a favor da narrativa, sem inserir pormenores dramáticos além do conto épico mitológico centrado nos carismáticos heróis de esparta, não deixa de ser, principalmente numa revisita, um filme visualmente cansativo. Se com o Snyder já era, imagine com quem meramente tenta replicá-lo, sem qualquer traço de autoridade, tentativa de modernização ou dosagem na mão do estilo.

300: A Ascensão do Império, faz diversos malabarismos para tentar recriar o sentimento de grandiosidade do antecessor na estética do Snyder, mas não só, não consegue, como tenta e falha igualmente na contagem da história. Dizem as línguas, que está deveria ser uma adaptação do spin-off Xerxes, quadrinho também idealizado por Frank Miller. Uma história realmente interessante de propor uma continuidade, ponte para desbravar um pouco mais o caráter mitológico e político daquela Grécia digital. De fato, existe, em algum momento na criação atmosférica – também puxada do anterior – essa tentativa ampliar esses horizontes na estética para construção de um mundo com mais possibilidades para além do qual foi apresentado de quadros das páginas das HQ’s.

No entanto, o filme abandona essa expansão e ao invés de focar na narrativa de ascensão do imperador – só passando superficialmente sobre –, propõe de novo, um embate de gregos em desvantagem (dessa vez atenienses), contra persas em ampla vantagem, só que desta vez guiado por personagens pouco carismáticos e num cenário naval. Narrativa repetida essa, que é usada como guincho para três temporalidades, de eventos antes, durante e após os eventos do filme original. Ao encabeçar esse recorte maior, a continuação entra no território de tentar um maior desenvolvimento dos personagens, para além da construção da situação. A tentativa visava potencializar o confronto em termos emocionais. Duas coisas, que definitivamente o Snyder não sabe trabalhar bem isoladamente nos seus roteiros, mas ao menos, involuntariamente rendeu uma boa antagonista.

Artemísia (Eva Green) é um grande acerto, não pela personagem, que no fim das contas, é uma vilã extremamente genérica, mas pela caracterização e motivação minimamente trabalhada pela atriz, trazendo a sua presença imponente necessária em cena. Do outro lado, no entanto, Temístocles (Sullivan Stapleton) é um protagonista chato, se resumindo a explicar seus planos no meio de discursos de glória que não empolgam, além de trazer parceiros com dramas próprios que ocupam tempo demais de tela e ninguém se importa. De novo, aquela historinha do pai e filho na guerra, sério? Seria bem mais interessante focar nos pormenores do luto da rainha Gorgo (Lena Headey), que faz breves aparições relevantes, mas que assim como o Xerxes (Rodrigo Santoro) deveria ser o brasão dessa nova história, sendo definitivamente escanteados.

Para não ser injusto, os conectivos entre todas as temporalidades levam a melhor cena do filme, que dá para dizer ser todo o terceiro ato de batalha final. A ação no decorrer não chega a ser ruim, a emulação de Noam Murro é ajeitadinha, mas carece da falta de um elemento de verossimilhança. O sangue falso jorrado em tela quase como se fosse tinta esparramada de um quadrinho demora a se tornar crível e chama mais atenção do que a elaboração da ação por si. É somente com a junção dos núcleos que ela vai empolgar, também trazendo o momento de maior inspiração de Noam Murro em explorar visualmente as possibilidades do cenário aquático em um plano sequência devidamente bem orquestrado.

Ademais, os referidos elementos assertivos não tornam 300: A Ascensão do Império menos vazio. Não que, não existisse aqui, algum potencial para uma boa continuação, só que onde tinha, não foi devidamente aproveitado, dando lugar a uma história morosa que demora demais para engrenar e valer a pena como o bom entretenimento violento do primeiro filme.

300: A Ascensão do Império (300: Rise of an Empire | EUA, 2014)
Direção: 
Noam Murro
Roteiro: Zack Snyder, Kurt Johnstad (Baseado na graphic novel de Frank Miller)
Elenco: Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Hans Matheson, Callan Mulvey, David Wenham, Rodrigo Santoro, Jack O’Connell, Andrew Tiernan, Igal Naor, Andrew Pleavin, Ben Turner
Duração: 102 minutos

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