Home FilmesCríticas Crítica | 4lgunxs Pibxs (2020)

Crítica | 4lgunxs Pibxs (2020)

por Frederico Franco
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Se Walter Benjamin entende que o cinema pode se tornar uma passagem para um novo mundo a qual o espectador não pertence, Perrone leva isso como mote de seu 4lgunxs Pibxs. Apropriando-se de um estilo found footage em seu sentido contemporâneo – lembrando a câmera de A Bruxa de Blair, por exemplo – o filme apresenta ao espectador passagens da vida de alguns adolescentes que vagam despretensiosamente por uma cidade com seus skates

As imagens do filme de Raul Perrone remetem a uma estética da memória, do pensamento, como se acompanhássemos um movimento nostálgico do cérebro do diretor. Contudo, o que cria tal efeito e quais o motivos da ideia central da nostalgia tornar-se insuficiente para a obra? Em um primeiro momento, o público é apresentado a uma mão que inicia o filme ao dar play nas imagens que virão a ser o filme. O que parece, nessa impressão primordial, é uma ideia da intrusão humana perante aquelas imagens, como Godard realiza em Número Dois. Esse conceito, no entanto, se perde, e a única proposição de uma invasão humana perante ao materialismo da imagem se dá a partir da montagem – esse recurso, contudo, é básico dos estudos do cinema e não representam, assim, um caráter de expressividade do diretor dentro do filme.

A maneira como o diretor constrói algumas imagens ao longo de 4lgunxs Pibxs cria um efeito curioso para o espectador. Apoiando-se em alguma teoria de imagens mentais, o diretor consegue criar uma espécie de fluxo de consciência que se constrói por meio de desconexas e vagas planos, como se simulasse o comportamento da memória. Imagens interrompidas abruptamente, dissonância entre o visual e o aúdio, frame rates que dão diferentes noções de movimento ao filme, são elementos bem utilizados por Perrone, adaptados de nomes como Alain Resnais e Gus van Sant.

O grande problema, aqui, é a quase padronização da mise en scène da obra. Enquanto os nomes acima, a partir de sensibilidade expressiva, conseguem dosar e modificar os elementos cinematográficos para a produção de novos sentidos, Perrone empaca em uma produção unidimensional. Ou seja: 4lgunxs Pibxs não se adapta, se mantém o mesmo, por mais que suas intenções mudem ao longo de sua duração. Ao invés de explorar novas tipos de provocações acerca das imagens memórias, o diretor opta por manter a mise en scène igual. 

Por mais que o filme falhe em despertar diferentes reações no espectador, a capacidade de Perrone em criar o senso de nostalgia é invejável. O tom onírico das imagens de um tempo que, hoje, parece muito distante, é fundamental para uma sensação de saudade que ataca o espectador. As aglomerações, os corpos juntos como se fossem apenas um, enquadrados próximos da câmera com um flair na fotografia, dão a ideia de que o panorama atual, representado pela mão do início do filme, imersa nas sombras, está longe daquilo que antes considerávamos trivial.

Perrone certamente tem méritos. Mas os méritos são levados à exaustão quando o diretor escolhe dar atenção apenas a esse efeito nostálgico e não à infinidade de outras ideias fluentes no filme.

4lgunxs Pibxs – Argentina, 2020
Direção: Raul Perrone
Roteiro: Raul Perrone
Duração: 68 min.

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