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Crítica | 9-1-1 – 3ª Temporada

Tsunamis, pessoas inconsequentes, assaltos e roubos.

por Leonardo Campos
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Na ocasião das análises das duas temporadas anteriores de 9-1-1, um dos principais destaques das reflexões era a importância do trabalho em equipe. Desta vez, ao esboçar as primeiras observações sobre o terceiro ano da série, o tópico em questão ainda a prática das tarefas destes profissionais que fazem a diferença ao atuar em conjunto, de maneira ensaiada e dedicada, tendo como adicional um dos elementos que movimentam a estrutura da produção desde o começo, agora ainda mais coeso: o ideal de família. É a sensação de pertencimento que permite maior carga emocional aos episódios e, consequentemente, a execução bem-sucedida dos mirabolantes casos que os bombeiros, médicos e atendentes precisam lidar cotidianamente. Ao longo dos 18 episódios da temporada, os personagens continuam a aprender que o trabalho realizado em equipe ajuda na administração mais ampla de problemas que geralmente não funcionaria da mesma forma se resolvido individualmente, pois aqui, habilidades específicas dão conta de etapas idem, dentro do painel de conflitos em incêndios, acidentes de trânsito, desastres ambientais, parte integrante dos textos escritos, em sua maioria, por Kristen Reidel e David Fury, comandados por Jennifer Lynch, Bradley Buecker, Chad Lowe, David Grossmann, Jann Turner, dentre outros, responsáveis pela manutenção do nível da temporada.

Membros unificados, aprendizagem diante das habilidades alheias e satisfação coletiva ao contemplar os resultados favoráveis de celeumas aparentemente sem jeito. Essa é grande lição de 9-1-1, uma série com os inevitáveis exageros dramáticos para se estabelecer ainda relevante e avançar em número de temporadas, programa que precisa continuar chocando com os casos mais absurdos para manter os seus espectadores sem a sensação de “eu já vi isso antes” comum em nossa cultura avida por novidade. Quem se lembra dos casos resolvidos no anterior, deve se recordar que tínhamos um braço preso num tubarão, um professor que despenca num recipiente gigantesco de uma fábrica de chocolates e o individuo racista que se engasga com algo bastante peculiar. Agora, podemos contemplar dois episódios inteiros dedicados ao tsunami que devasta Los Angeles e ceifa numerosas vidas, além de colocar outros tantos personagens em risco de morte. Um audacioso roubo envolvendo obras de arte e reféns não pede o envolvimento de habilidades específicas de bombeiros e médicos, mas reforça a importância das habilidades policiais para além da arma empunhada para disparar tiros.

Analisar cenários, observar comportamentos e agir com inteligência emocional. Tudo isso pode parecer ficcional demais, mas é a prova contundente do exercício profissional exímio que faz dos personagens de 9-1-1 um grupo de figuras ficcionais admiráveis. A ação física está sempre presente, focada na manutenção da emoção em doses generosas, tendo em vista manter os interessados em aventura e adrenalina com os seus anseios devidamente gerenciados. Há, por sua vez, bastante trabalho racional, justaposto com os recursos anteriormente mencionados para permitir que os “emergencistas” possam lidar com dois cortadores de árvores, em serviço para a prefeitura, ameaçados por uma mulher que reclama da postura nada ambientalista e resolve agir por conta própria, ou o pai irresponsável que sobe numa patinete e decide ir para a casa com o filho numa velocidade bastante radical, prévia das emoções dos dois episódios finais, voltados aos descarrilamento de um trem.

Uma das passageiras, por sinal, é Abby (Connie Britton), personagem que aparece para amarrar as pontas de seu desenvolvimento e aparentemente encerrar o seu ciclo na série. Ele agora está noiva, a viver uma nova fase. Surpreendida pelo acidente, recorre aos serviços do atendimento de emergência e coincidentemente, tem como um dos membros da equipe de resgate no momento, seu antigo amor, Buck (Oliver Stark), o mais descerebrado do grupo, interesse amoroso incerto que enxerga na etapa nova da mulher que ainda tem sentimentos, o elemento catalisador para seguir adiante. Ao longo da temporada, a solidão de Buck é um dos temas retratados quando o programa decide abordar questões pontuais do personagem. Todos os outros parecem encaminhados, ele sendo o único a sentir que vai para casa depois da jornada e não tem a desejada companhia que a nossa sociedade nos coloca como necessária para ser parte. Sem namorada, filhos ou pais presentes, o rapaz será levado a questionar a vida em vários momentos, feixe de emoções que parece o combustível dramático para os próximos arcos deste carismático personagem, irmão de Maddie (Jennifer Love-Hewit), a atendente do 9-1-1 que veio para substituir Connie Britton desde a temporada anterior.

Depois do arco intenso que envolveu seu ex-marido abusivo, Maddie agora vive bons momentos com Chimmey (Kenneth Choi). Os desafios continuam constantes, mas os traumas parecem devidamente encaminhados. Ela fecha a temporada grávida, caminho que pode resultar em subtramas arrastadas e clichês no quarto ano, algo que a equipe de roteiristas e diretores precisará trabalhar bastante para evitar o lugar muito comum. Chimmey, mais firme e tranquilo, praticamente o “marido” da moça, enfrenta a chegada do irmão que deseja uma aproximação um tanto rejeitada pelo emergencista que possui em sua história, um passado de relacionamento nada positivo com o seu pai, homem que veremos ao longo de um dos episódios, nunca o apoiou em suas escolhas. Hen (Aisha Minds), agora numa etapa mais amena no casamento com sua esposa, atravessa momentos de grandes expectativas, desde a busca incessante pelo aumento da família com uma adoção e o interesse por cursar Medicina, arco que pode gerar novos conflitos nas próximas incursões da personagem. O bombeiro Eddie (Ryan Guzman) continua a sua saga de se dividir entre o trabalho e o filho especial, tendo como destaque um episódio focado em sua trajetória, uma das unidades mais emocionantes das 18 que compõem a temporada, trama paralela com o menino que escorregou numa tubulação estreita e se encontra à beira da morte. Ao salvar o garoto, Eddie resgata com autocrítica a sua própria história.

Bobby (Peter Krauser) mantém o padrão do ano anterior e trabalha em torno do equilíbrio entre o trabalho e a sua presença na família de Athena (Angela Basset). Para quem lembra do passado dele, exposto na primeira temporada, deve se recordar do histórico de alcoolismo e a tragédia que abateu a sua família. Agora, ele é abraçado não apenas pela mulher, mas por seus filhos e até mesmo por Michael (Rockmond Dunbar), ex-marido de Athena que enfrenta um tumor cerebral e termina a temporada no lucro, com diminuição dos riscos de morte e relacionamento em ponto de partida com um médico bastante atraente. De volta ao caso de Bobby, depois da sensação de pertencimento, qualquer iminência de sacolejo nessa estrutura familiar o leva a temer um futuro incerto. Essa é uma temporada definidora para o casal se estabelecer e criar maiores vínculos. A personagem de Angela Basset, sempre magnética em cena, é uma das que crescem com maior vigor dramático, em dois momentos distintos. No episódio da arma de um crime dos anos 1990, reencontrada recentemente e capaz de dar novos rumos para os resultados de uma investigação racialmente desfavorável na época, e no desfecho, envolvendo o arco com o estuprador que vigiava as suas vítimas com drones e outros aparatos tecnológicos. Apesar de interessante, o segundo momento não alcança o rigor dramático do primeiro. Há um episódio inteiro dedicado ao seu passado, interesse pela carreira na polícia, formação de conduta e outros pormenores que a deixaram tão coesa no presente. É no núcleo de Basset que Broke Shields faz uma participação especial como advogada, numa passagem rápida, mas também interessante.

No que tange aos aspectos estéticos, a equipe técnica continua na manutenção dos padrões. A dupla Todd Haberman e Mac Quayle continua na condução musical, a direção de fotografia desta vez ficou sob o comando exclusivo de Joaquin Sedillo, da mesma forma que o design de produção, assinado por Giles Masters, ambos os setores, eficientes para a proposta do programa que conta com a supervisão de Zachary Goodson na supervisão dos efeitos visuais, presença massiva ao longo dos desastres de todo tipo que pululam na tela. Em 18 blocos narrativos de com média de 42 minutos, a terceira temporada de 9-1-1 ainda traz uma viagem de pesca que dá errado quando um dos envolvidos resolve captar um peixe, fazer uma foto e deixar o animal escapulir para a sua garganta e ultrapassar limites que o impedem de respirar; noutro caso, mãe e filha partem para um momento diletante com um balão que perde o controle por causa da mudança da velocidade dos ventos e termina com a menina sobrevoando uma região e correndo o sério risco de despencar; ao cobrar uma dívida imobiliária para o banco que trabalha, um representante é acertado pelo trator do endividado irritado, algo que termina em circunstâncias bastante inusitadas, situações desta série que trabalha a aleatoriedade como parte intrínseca de seu desenvolvimento, ainda pertinente e aprovado para a quarta temporada.

9-1-1 – 3ª Temporada (EUA, 23 de setembro de 2019 a 11 de maio de 2020)
Showrunners:  Brad Falchuck, Tim Minear, Ryan Murphy
Direção: Millicent Shelton, Bradley Buecker, Jennifer Lynch, Mary Wigmore
Roteiro: Brad Falchuk, Ryan Murphy, Tim Minear, Kristen Reidel, Erica L. Anderson, Matthew Hodgson, Andrew Meyers
Elenco: Angela Bassett, Peter Krause, Oliver Stark, Aisha Hinds, Kenneth Choi, Rockmond Dunbar, Ryan Guzman, Brian Hallisay, Jennifer Love Hewitt
Duração: 45 min (cada episódio – 18 episódios no total)

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