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Crítica | A 200 Metros

Um filme que falta inspiração.

por Fernando JG
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A premissa de A 200 Metros (Ameen Nayfeh, 2020) é bem simples e o que decorre daí também não foge muito do esperado: o filho de um homem palestino e de mãe israelense sofre um acidente. Sem acesso a Israel, o pai, desesperado, tenta atravessar a fronteira ilegalmente, expondo a tensão existente entre culturas milenares. O conflito, acirrado pela manutenção de uma atmosfera limítrofe, deixa o tempo inteiro no ar que tudo pode dar errado, que ele será mandado de volta ou, pior ainda, preso pelas autoridades locais. Um drama cujas ações são facilitadas em todos os atos para dar conta de um roteiro que tem pressa em acabar, A 200 Metros vale-se de um assunto contemporâneo, mas deixa escapar força. Falta força ao filme. Não basta que se exponha a crise, esperando que ela atue por si mesma, é necessário que se trabalhe em cima da crise, produzindo, enfim, uma narrativa com sustância. 

É uma carreira que se inicia, a de Ameen Nayfeh, e talvez por isso lhe falte ainda a rigorosidade formal que um filme exige. Ele se vale de uma unidade de ação muito recorrente e segura para estruturar o seu longa-metragem, laborando uma espécie de suspense dramático para induzir uma movimentação fílmica típica. Ele sabe o que quer e por isso não oscila entre os gêneros, e amplifica-os por meio de um roteiro bem pé no chão. 

O drama de uma família culturalmente mista é envenenado por uma tensão que cresce do fim do primeiro ato ao último, discutindo como plano de fundo o problema geopolítico e os prejuízos humanos causados pelo conflito árabe-israelense, que provoca impasses cabais entre as culturas. Aqui, o problema de um impasse histórico concentra-se, como se ampliasse o problema numa lupa por meio de uma lente míope, na narrativa de uma família composta de uma mãe israelense e de um pai árabe. É daí, do núcleo temático, que são trabalhados os gêneros cinematográficos conforme a situação vai exigindo, conforme os atos vão se desenrolando. 

Existem alguns aspectos que são bem recolhidos pelo cineasta, como a claustrofobia, o ambiente sufocante e a densidade que é imposta na hostilidade entre as culturas. Isso, de fato, funciona, saindo da tela e nos alcançando enquanto espectadores. Durante um ato e meio – na primeira hora, pelo menos -, imprime-se um curso angustiante para o ritmo fílmico, que capta bem a situação de aflição de uma travessia incerta e ilegal. Não é uma ilegalidade à toa, mas motivada por um fator excepcional que é a saúde do filho acidentado do outro lado da fronteira e por isso torna a atmosfera mais próxima a nós, que somos humanos e sentimos pelo personagem Mustafa (Ali Suliman).

Contudo, com exceção de um tema caro ao cineasta e da bela manipulação atmosférica, paramos por aí a respeito dos elogios. As motivações da personagem feminina alemã (Anna Unterberger) não convencem quando vem à tona e o ataque que ela sofre não é bem justificado, o que expõe um vazio desagradável para a película. O enredo é facilitadíssimo por meio de um roteiro muito simplório. Não é uma narrativa que enche os olhos, pelo contrário, trivial ao máximo. É um filme pertinente pelo tema, mas nem por isso ele é mais atrativo ou tocante; esquecível pelos próximos dias. O roteiro não complica as coisas, sendo evidente a sua tripartição, o que significa que de certo o filme não sai de um meio tom mecanizado e previsível do ponto de vista de uma complexidade narrativa, que não há. 

Um drama familiar com pouca criatividade cinematográfica, A 200 Metros é um filme de tema, isto é, sua base está unicamente no aspecto temático de que evoca. Por escolher uma tópica corrente e trabalhar em cima disso por meio de lugares-comuns tão amplamente revisitados, o filme não exige muito mais do que sentar na cadeira e assisti-lo, sem a pretensão de maiores burburinhos depois da assistida. Ahh, antes que eu me esqueça – e já ia me esquecendo – as ações facilitadas no curso do enredo concluem um arco dramático final muito, mas muito esperado, com um final feliz que concilia todo o conflito passado ao longo da película. Como já disse uma vez, o tema é pertinente, mas a cinematografia é pobre, não valendo mais do que um belíssimo e suficiente “regular” como avaliação final. 

A 200 Metros (200 Meters, Itália, Catar, Jordânia, Palestina, 2020)
Direção: Ameen Nayfeh
Roteiro: Ameen Nayfeh
Elenco: Ali Suliman, Anna Unterberger, Lana Zreik, Gassan Abbas, Nabil Al Raee, Motaz Malhees, Mahmoud Abu Eita, Samia Bakri Qazmuz, Rebecca Esmeralda Telhami, Ghassan Ashkar
Duração: 96 min.

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