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Crítica | Doctor Who: A Besta da Babilônia, de Charlie Higson

por Luiz Santiago
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Equipe: 9º Doutor, Ali
Espaço: Planeta Karkinos / Babilônia
Tempo: Indeterminado / século 18 a.C. (provavelmente na década de 1750 a.C.)

Eu realmente não esperava que este conto de Charlie Higson tivesse o interessantíssimo desfecho que teve depois do início um pouco atropelado. O autor trabalha dentro do melhor estilo “surprise, motherf…” e realmente choca o leitor nos capítulos finais. O melhor e mais interessante tipo de choque que nós tivemos, no sentido de algo que “estava lá o tempo todo, só você não viu” desde As Raízes do Mal.

A trama tem três cenários, mas apenas dois são protagonistas. O primeiro deles, o planeta Karkinos, é onde o 9º Doutor aparece perseguindo uma espécie bem estranha, o Starman, que nada mais é do que a personificação do que conhecemos como signos do Zodíaco (na história, dois Starmans se manifestam, o de Gêmeos e o de Capricórnio. Um terceiro signo, o de Câncer, é citado, mas não pela personificação do alien estelar. E essa é a surpresa da obra).

O segundo desses lugares é a Babilônia sob domínio de Hamurábi, o famoso legislador do grande Império Babilônico em sua primeira dinastia. Pela forma como o autor disserta sobre o cenário, a impressão que temos é que a trama se passa na década final do reinado de Hamurábi (1792 a.C.– 1750 a.C.), o que talvez explique a ausência de uma amplitude maior em relação à arquitetura local e outros elementos culturais que, em um contexto mais rico, poderiam ser ao menos citados na obra, como é de praxe em qualquer aventura com esse caráter terráqueo ‘exótico’ — lembre-se  de A Lança do Destino.

O cenário sobressalente é também na Terra, em Londres, no ano de 2005, e ele aparece apenas no final. A questão é que Charlie Higson foi bastante arguto ao encontrar uma brecha na linha do tempo do 9º Doutor e colocar uma aventura dele com outra companion. A trama aqui ocorre ao final do episódio Rose. O Time Lord convida a moça para segui-lo e ela recusa o convite. A TARDIS então se desmaterializa. Cerca de um minuto depois ouvimos a nave voltar a aparece e o Doutor dizer que a máquina também viaja no tempo. Foi a deixa final para Rose acompanhá-lo. Pois vejam só que legal: entre esse um minutinho de tempo (sob o nosso ponto de vista e o ponto de vista de Rose), o Doutor viveu a aventura de A Besta da Babilônia.

O mais interessante disso tudo é que essa brecha é um ponto de partida que pode servir para a literatura licenciada da BBC, para os quadrinhos ou qualquer outra mídia do universo expandido criar novos cenários para o pouco explorado 9º Doutor. E tudo dentro de uma possibilidade cabível e inteiramente compreensível dentro da série e da ficção científica, já que, com a TARDIS, ele pode viver centenas de anos de aventuras e voltar para um minuto depois ou antes de ele ter partido do ponto original. How cool is that?

O mistério que Higson cria em torno de Ali é percebido desde o início e a história é claramente arquitetada em cima deste ponto. Há um ou outro elemento excessivamente didático, alguns diálogos pouco inspirados, mas todo o restante é fascinante. A jornada do Doutor em perseguição ao Starman pode não ter sentido à primeira vista (e provavelmente alguns leitores gostarão menos da história por conta deste tratamento), mas quando as identidades finalmente se revelam em plena Babilônia de Hamurábi, o leitor descobre o por quê das frases pouco claras e do retorno de certas construções textuais, como se o escritor estivesse querendo nos acostumar com uma ideia para dar um significado muito maior a ela no final, o que funcionou muito bem, diga-se de passagem.

Destaca-se também a relação inicialmente relutante do Doutor em relação a Ali. Ter alguém com aquele temperamento como companion, logo após ele ter se regenerado devido ao impacto moral da Time War sobre sua personalidade, não parecia uma boa ideia. Mas a relação entre os dois é engraçada, desafiadora e bastante peculiar. Realmente gostaria que Ali voltasse a viajar com o Doutor. A ação final da despedida e o retorno do Doutor para tentar convencer Rose nos dá uma confortante ideia de ciclo e, pelo menos no meu caso, arrancou um baita sorriso depois lida a última linha.

NOTAS DA AVENTURA

  • O Doutor cita alguns de seus companions anteriores: Susan, Barbara, Ian, Prince Egon, Jamie, Polly, Ella McBrien, Sarah Jane e Leela. Egon e Ella são companions inéditos, criados nesta aventura. O Doutor não especifica em qual encarnação eles conheceram. O bom disso é que temos mais dois novos companions no pedaço!
  • O Doutor rouba um orbe de Holgoroth, o Exaltado de toda a Tagkhanastria, fingindo ser um emissário da Nebulosa do Caranguejo.
  • O Doutor se refere a uma mão que ele teve, como uma garra de caranguejo, há muito tempo atrás… Ele estava se referindo à mão postiça que utiliza em Uma Mãozinha Para o Doutor.
  • O Starman assume a forma dominante do planeta que visita e do qual vai se alimentar, uma estrutura biológica bastante parecida com a dos Krillitanes de School Reunion.
  • Existe uma série de contos da série Short Trips: Zodiac, baseado no cenário cósmico similar ao deste conto. Você pode ler a versão para o signo de Áries (aventura do 1º Doutor) em Os Verdadeiros e Indiscutíveis Fatos a Respeito do Crânio do Carneiro.

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Charlie Higson fala sobre o projeto

A Besta da Babilônia (The Beast of Babylon) – Reino Unido, 2013
Autor: 
Charlie Higson
Editora original: Puffin Books
Lançamento no Brasil: 12 Doutores 12 Histórias (coletânea)
Tradução: Viviane Maurey

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