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Crítica | A Boneca de Satã (1969)

Espionagem gótica.

por Luiz Santiago
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Embora apareça em algumas classificações como sendo giallo, A Boneca de Satã é, na verdade, um filme gótico com uma mistura intrigante (e improvável) de espionagem industrial e, talvez, na maneira como o mistério em torno do assassino é construído, com o giallo. Aparentemente é a única obra dirigida por Ferruccio Casapinta, que segundo a atriz Erna Schurer, que deu vida à personagem principal, “era um idiota que não sabia fazer nada“. Na mesma entrevista, ele afirmou que quem fazia tudo, em termos de condução do filme, era o assistente de direção, o que acaba explicando muita coisa a respeito da qualidade da obra. Embora haja verdade nas falas negativas que temos em relação ao filme (em seu livro referencial sobre o giallo, Troy Howarth classifica-o como “um dos piores do gênero, nos anos 60“), eu não acho que ele seja assim tão absurdamente ruim.

Obras que tiveram problemas de produção e que são guiadas por diretores ruins ou inexperientes, guardam uma espécie de assinatura facilmente identificável, e o espectador consegue ver isso facilmente em A Boneca de Satã. A edição é estranha, não flui bem e encadeia planos de maneira quase aleatória em certos momentos, atrapalhando a construção de uma atmosfera que poderia levar a trama para um lugar interessante. Como o elenco principal também não ajuda, o público se segura nos poucos momentos de tensão e suspense criados pelo enredo e exibidos na tela, tendo aqui e ali algumas cenas que são visualmente muito interessantes, a exemplo das catacumbas do castelo ou dos planos em que o diretor oculta o rosto do amante da governanta, que claramente está tramando a morte da herdeira da propriedade.

A aleatoriedade dos problemas em cena é o que impede a história de progredir de forma mais interessante, com foco em algo que será desenvolvido de maneira coerente. Uma hora temos um assassino de luvas pretas, outra hora temos um mascarado gótico levando corpos para algum lugar, outra hora temos um amante que trama a morte da herdeira do castelo, e também sobra espaço para um cientista maluco que deixa clara a intenção de explorar o urânio que encontrou no local, daí a maneira criminosa que utiliza para “afastar” qualquer pessoa que impeça a venda do castelo. Notem que o enredo, apesar de seu tsunami de clichês, tem princípios dramáticos que podem resultar em algo minimamente interessante. E para ser honesto, isoladamente, alguns desses pequenos blocos até funcionam. Mas ao olharmos para a unidade que essas partes isoladas deveriam gerar (até porque os personagens citados são todos a mesma pessoa), não temos nada sólido a considerar.

Levar em consideração a estética e a abordagem gótica da fita ajuda a entender as escolhas do diretor, embora nem todas funcionem. Gosto bastante de muitos momentos fotográficos da obra e de alguns filtros de cor, assim como de alguns planos que sugerem o terror, que revelam faces moribundas ou máscaras e olhares macabros, abrindo possibilidades de interpretação sobre o alinhamento dos personagens ou coroando uma boa cena onde a exposição do medo era a principal intenção. A Boneca de Satã é um longa gótico com muitas falhas, mas que traz coisas capazes de salvá-lo da completa danação. Pelo menos para mim, funcionou assim.

A Boneca de Satã (La bambola di Satana / The Doll of Satan) — Itália, 1969
Direção: Ferruccio Casapinta
Roteiro: Ferruccio Casapinta, Giorgio Cristallini, Carlo M. Lori, Alfredo Medori
Elenco: Erna Schurer, Roland Carey, Aurora Bautista, Ettore Ribotta, Lucia Bomez, Manlio Salvatori, Franco Daddi, Beverly Fuller, Eugenio Galadini, Giorgio Gennari, Domenico Ravenna, Teresa Ronchi, Giovanni Ivan Scratuglia
Duração: 90 min.

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