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Crítica | A Casa do Diabo (2009)

Resgate e estilo.

por Felipe Oliveira
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Enquanto alguns remakes de filmes slashers ainda marcavam presença, 2009 foi um ano interessante para os fãs do terror diante dos vários títulos da subcategoria sobrenatural conquistando um lugar. Afinal, foi neste mesmo ano em que tivemos o subestimado Garota Infernal sendo lançado, além do prestigiado trash de Sam Raimi, Arrasta-me Para o Inferno. Nesse cenário, parecia o momento certeiro para Ti West chegar com o seu longa sobre ocultismo, A Casa do Diabo, um projeto que bebia da era pré-slasher na década de 70, seguindo a tendência de filmes como O Bebê de Rosemary e A Profecia (1976).

West chegava com seu terceiro filme após uma pausa de dois anos. Na vez, era notável o estilo fílmico quase que amador, semelhante ao que foi visto em Ataque dos Morcegos e Trigger Man, porém, em The House of the Devil, ele tinha um foco tanto de gênero quanto a forma que iria contar a história simples de uma universitária que responde a um anunciado para ser babá, mas descobre que seus clientes lhe reservaram uma trama maligna.

A abordagem que remete ao horror sobrenatural setentista é clara logo na abertura: a câmera transitando nos cômodos de uma casa, o uso do zoom in, a imagem granulada sendo congelada ao passo que os créditos iniciais surgiam na tela, apontavam onde West iria centralizar o seu longa, filmado com uma câmera 16 mm. Ainda se tratando da composição estética, o diretor demonstrou que fez o dever de casa a fim de conceber um filme que parecesse crível e colocasse o telespectador dentro de uma peça da década. Assim, o cineasta investe numa projeção com pouca trilha sonora e uma suspensão no andamento da narrativa que nos faz questionar sobre os rumos que farão jus ao título do filme, algo como em Rosemary’s Baby, com a configuração do mistério sendo promovida com sugestões ao seu tema, quando que, aqui, West preparou o terreno através da chegada de um eclipse lunar, elemento sendo constantemente mencionado em reforço ao mote, à medida que pequenos gestos e atividades que a protagonista realiza na casa provocam a tensão do que será descoberto.

Porém, essa base se torna mero detalhe para a concepção de West em executar uma história de forma que transportasse a audiência para o estilo empregado. Os figurinos, os repetidos planos com o zoom in e zoom out marcaram o modo com o qual o diretor queria fisgar a atenção para a ambientação e como ele conduz essa projeção de época. Nesse aspecto, é perceptível como a decupagem e edição deram até mesmo um tom documental às passagens na casa, como se fosse o registro de uma noite trágica vivida por uma jovem babá, um filme caseiro. Embarcar numa reprodução que emulava um estilo fílmico serviu para chamar atenção e colocar West nos holofotes, muito por oferecer um frescor para produções sobrenaturais cada vez mais batidas em 2009, resgatando o que caracterizava o subgênero e trama com elementos satânicos: uma grande casa, elenco pouco conhecido, os planos fechados, a construção de um suspense que mexe com as expectativas e maneira inquieta que a protagonista explora o espaço.

Mesmo sendo notório o quanto o Ti West tentou dar identidade ao seu filme para não cair na conclusão de uma homenagem aos longas de terror das décadas de 70 e 80, seja no trabalho de zoom, no jogo de sombra criado em cômodos com poucas iluminações, terminam se tornando recursos repetitivos, se colocando como um diretor amador tentando seguir as anotações básicas de filmes da época. No geral, A Casa do Diabo foi um trabalho fundamental para a carreira do cineasta, embebido no que mais caracterizaria seus filmes: a narrativa lenta, que se preocupa mais com a composição de estilo e carece de uma história mais atraente. Contudo, a falta de mais referências (que pega até elementos de O Exorcista), é compensada pela protagonista que vai além de sua personalidade, cabelo e roupa, graças ao talento marcante de Jocelin Donahue.

A Casa do Diabo (The House of the Devil – EUA, 2009)
Diretor: Ti West
Roteiro: Ti West
Elenco: Jocelin Donahue, Greta Gerwig, Dee Wallace, Aj Bowen, Mary B. McCann, Mary Woronov, Tom Noonan
Duração: 95 min.

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