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Crítica | A Chamada (2009)

Uma narrativa abaixo da média sobre a cultura da vigilância no âmbito de uma sociedade cibercultural.

por Leonardo Campos
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Uma sociedade mediada por imagens. Assim é o universo de A Chamada, produção mediana de ação e suspense lançada em 2009. Tais imagens, por sinal, são produzidas e contempladas por diversos meios, espalhadas em telas de diversos tipos, de acordo com as demandas da cibercultura, visualizadas em smartphones, notebooks, computadores tradicionais, telões de centrais de investigação, dentre outros. Aqui, os realizadores falham miseravelmente na tentativa de estabelecer uma atmosfera próxima ao estilo Hitchcock de colocar uma versão do homem errado em cena, mas permite, aos menos exigentes, momentos de entretenimento ligeiros e um diálogo sobre como estamos, cotidianamente, controlados por uma força maior, capaz de nos transformar em corpos gravitacionais de um esquema que dita às regras e comandos de nossas ações, parametrizando comportamentos, direcionando ações, mesmo que sejamos conscientes de tais atos, em linhas gerais, aspectos que definem as relações humanas no ciberespaço.

Nos primeiros momentos de A Chamada, conhecemos o jovem Max Peterson (Shane West), arquétipo do jovem contemporâneo que domina a tecnologia e vive conforme as demandas da acumulação de capital e esbórnia. Engenheiro de computação e especialista em sistemas de segurança, o personagem se vê envolto numa tenebrosa rede de crimes após receber um celular de última geração, ainda não lançado no mercado, objeto que se torna arauto de seus piores pesadelos. Em sua rotina, Peterson projeta e constrói hardwares e softwares, ou seja, domina a parte física dos computadores, seus periféricos, estruturas e demais componentes, além do sistema de processamento de dados das máquinas. Um gênio? Quase isso, pois a sua astúcia diante da tecnologia não o impede de falhar quando utilizado como isca para esquemas ilegais.

Hospedado em um hotel depois de um trabalho realizado fora de sua terra natal, o protagonista fica surpreso ao receber o presente via DHL. Quem teria enviado o smartphone? Quais os propósitos? Será uma brincadeira de alguém ou um teste em sua jornada? É o que ele descobrirá até o meio da narrativa que se arrasta por desnecessários 105 minutos, quando poderia, tranquilamente, encerrar sua proposta com 20 minutos a menos. Será nesta empreitada na Tailândia que as coisas mudam vertiginosamente. No tal aparelho, mensagens misteriosas chegam indicando tudo aquilo que ele deve fazer para ganhar vantagens nunca antes contempladas em sua vida: a máquina ideal do cassino, onde certamente ganhará muito dinheiro, as cartadas ideais no jogo de pôquer, dentre outras coisas que indicam a sorte grande.

O que Max Peterson inicialmente achava uma maravilha acaba se tornando uma pedra em seus sapatos sofisticados. Ele descobre ser parte de um esquema fraudulento e, manipulado por criminosos da virtualidade, age indevidamente e se torna um procurado, tão perigoso quanto os tantos outros ilegais caçados pelo FBI. Nós, espectadores, nos sentamos diante de A Chamada e acompanhamos a sua trajetória com cenas de perseguição, personagens que causam desconfiança e nunca transmitem a sensação de segurança para alguém que não sabe mais em o que pode acreditar, jornada dirigida por Greg Marcks, cineasta que assume o roteiro da dupla formada por Michael Nitsberg e Kevin Alyn Elders, guiando as situações por meio de um comando morno, sem saber alternar bem os momentos de tensão e amenização das coisas.

Lançado em 2009, A Chamada é uma daquelas produções que lembram bastante o ritmo dos telefilmes de antigamente, tranquilamente possíveis de se consumir sem o tédio absoluto, mas pouco engenhoso como experiência cinematográfica diante de tópicos temáticos que poderiam gerar discussões mais interessantes, bem como uma dinâmica narrativa mais coesa e fluente. Burocráticos, os setores responsáveis pelos aspectos estéticos cumprem das demandas de uma narrativa estadunidense mediana: na trilha sonora pouco memorável, Bobby Tahouri compôs uma textura trivial, semelhante a qualquer outro filme de ação das últimas décadas; na direção de fotografia, Lorenzo Sematore peca por não investir em enquadramentos e movimentos mais ousados, que conseguissem transmitir, pela visualidade, a angústia do protagonista. Ademais, o design de produção assinado por Antonello Rubino estabelece, em cena, computadores, celulares, numerosas telas, funcionando adequadamente na inserção da tecnologia além do tema, mas também por todos os campos visuais da trama que fica entre o médio e o irregular.

A Chamada (Echelon Conspiracy – EUA, 2009)
Direção: Greg Marcks
Roteiro: Michael Nitsberg, Kevin Alyn Elders
Elenco: Shane West, Edward Burns, Ving Rhames, Jonathan Pryce, Amara Zaragoza, Gosha Kutsenko, Sergey Gubanov, Martin Sheen
Duração: 105 min

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