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Crítica | A Criatura da Destruição

Um roubo, uma sereia, morte e pavor em alto-mar.

por Leonardo Campos
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Misteriosas e mortais. As sereias possuem várias denominações no imaginário cultural e no desenvolvimento do telefilme A Criatura da Destruição, podemos ver algumas dessas associações implementadas no ser mitológico que antagoniza a produção. Interessante observar como a nossa visão mais recente deste mito bastante expandido na cultura cinematográfica é uma mescla do que historicamente se cristalizou sobre estas mulheres híbridas das criaturas marinhas. Para a cultura cristã, por exemplo, as sereias significam o pecado, a vaidade e os desejos luxuriosos. Constantemente presente nos bestiários, elas personificam as tentações da carne, os pecados mortais e a vaidade. Ao lado dos dragões em muitas obras de arte sacra, as sereias ocupam uma posição folclórica privilegiada. Rizomática, estas figuras mitológicas se expandem por culturas distintas ao longo de todo o planeta: para os habitantes do Oriente Médio, a deusa Dea Syria é a representação cabal do mito, tal como Mami Wata é para os africanos, isto é, um espírito belo, protetor, sedutor e muito perigoso. Esta disseminação de sua imagem torna mais ampla a diluição de filmes como a obra em questão, de 2001, geralmente centralizados na cultura estadunidense.

Aqui, o cineasta Sebastian Gutierrez assume a direção e o roteiro desta homenagem ao clássico homônimo comandado por Edward L. Cahn, filme de horror escrito por Lou Russoff, inspirado no livro de Jerry Zigmond sobre hipnotismo. Lançado em 1956, a narrativa nos apresenta a história de Dr. Carlo Lombardi, interpretado por Chester Morris, homem que conduz experimentos de regressão hipnótica que leva a sua paciente Andrea Talbolt (Marta English), em estado inconsciente, a resgatar uma de suas existências passadas como uma criatura humanoide inserida na vida marinha. Um dos mistérios do filme é fantasia de monstro criada por Paul Blaisdell, conhecido mestre da maquiagem e dos efeitos especiais para o campo de produção do horror. Produzido pelo American International Pictures, o filme teve a sua atmosfera e título retomado para uma leitura totalmente diferente do canal Cinemax, interessado em resgatar alguns clássicos da produtora para reapresentações contemporâneas. Não são refilmagens, mas reimaginações. Com efeitos e maquiagem do Stan Winston Pictures, direção de fotografia assertiva de Thomas L. Callaway e design de produção de Jerry Fleming, A Criatura da Destruição entrega um bom visual, mas funciona de maneira mediana como narrativa de horror. É tudo muito leve e arrastado.

O problema, como mencionado acima, é de ordem dramática. O filme se mantém letárgico em muitas passagens e não aproveita o potencial estético que tem para construir passagens mais dinâmicas e envolventes. A cenografia e a direção de arte, setores bem conduzidos do design de produção, criam uma atmosfera sombria, com espaços para momentos de claustrofobia que são constantemente sabotados por alguns artifícios do roteiro. Ao longo de seus 91 minutos, a trilha sonora de David Reynolds se mostra eficiente, mas não suficiente para driblar as crises já apresentadas. Resta paciência do espectador com os momentos mais lentos e A Criatura da Destruição se oferta aos nossos olhos como um entretenimento irregular, mas misterioso. Mistério esse que aguça a nossa curiosidade para ir até o desfecho. A trama abre em 1905, na Irlanda, e nos apresenta o casal Angus Shaw e Lilian, ou Lily, como o roteiro várias vezes menciona a personagem. Interpretados por Rufus Sewell e Carla Gugino, eles são os donos de um circo itinerante que trabalha com representações exóticas e depois de conhecerem o Sr. Woolrich (Aubrey Morris), descobrem a existência de uma misteriosa sereia. Sim, de verdade, não a representação que Lily faz no circo, com sua exuberante fantasia em prol do simulacro.

Woolrich apresenta documentos que comprovam a existência dessas criaturas ao longo da história das navegações e até reforça a sua tese com um mapa das Ilhas Proibidas, local onde apreendeu a sereia, personagem perigosa e fatal, interpretada por Rya Kihstedt. Sem o consentimento da esposa, Angus promove uma ação nada ética e depois de provocar a morte do Sr. Woolrich por conta de um ataque cardíaco, sequestra a sereia e leva para a sua embarcação com viagem já programada. Será a bordo do navio que as coisas vão perder o controle. A sereia seduz, da sua maneira peculiar, alguns passageiros, além de manter o foco em Lily, mulher que passa de interprete de sereia no circo a uma pessoa seduzida pela mortal criatura mitológica que conforme o título bizarro brasileiro, pode estabelecer a destruição diante da tripulação que não faz ideia de seu potencial monstruoso. Quando um dos homens é devorado e some, aparecendo apenas o seu anel após a sereia cuspir, Angus e seus passageiros sabem que aquela viagem pode ser a última de suas vidas incautas. Menos divertido que o esperado, A Criatura da Destruição não é um filme ruim. É apenas mediano, com potencial não aproveitado por seus realizadores incompetentes.

A Criatura da Destruição (Mermaid Chronicles Part 1: She Creature, Estados Unidos/2001)
Direção: Sebastian Gutierrez
Roteiro: Sebastian Gutierrez
Elenco: Rufus Sewell, Carla Gugino, Jim Piddock, Reno Wilson, Mike Aiken, Fintan McKeown, Aubrey Morris, Gil Bellows Duração: 91 min.

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