Home FilmesCríticas Crítica | A Culpa é das Estrelas

Crítica | A Culpa é das Estrelas

por Guilherme Coral
2,9K views

estrelas 1,5

 (…) você diz que não quer a pena de ninguém, mas a sua existência em si depende dela

Fim de 2013, A Culpa é das Estrelas, o mais novo livro de John Green e maior sucesso, até então, havia sido lançado faz pouco tempo no Brasil. Lembro-me claramente de uma conhecida terminando o livro praticamente em prantos e, sabendo da trama geral, acreditei tratar-se nada mais que uma história genérica e apelativa sobre uma pessoa lidando com alguma doença. Some isso com uma história de amor e temos Nicholas Sparks II.

A opinião aos poucos mudou conforme o romance ganhou mais espaço na mídia, caindo nas graças da popularidade e, enfim, chegando a outros conhecidos. A opinião geral praticamente idolatrava o livro, em geral afirmando que vemos uma abordagem descontraída do câncer, uma história de superar as provações que a vida nos oferece. Enfim, chegou a adaptação cinematográfica do best-seller, onde, curiosamente, me deparo com uma obra confirmando minhas expectativas iniciais.

A Culpa é das Estrelas nos conta a jornada de Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley) contra o câncer, que a assola desde pequena. A jovem, agora com seus dezesseis anos, é colocada em um grupo de apoio, onde conhece Augustus Waters (Ansel Elgort) e por quem, obviamente, se apaixona. O romance criado entre os dois personagens soa artificial desde seus primeiros instantes. Trata-se de uma forçada sofisticação na relação, tornada clara pelos diálogos pseudo-intelectualizados, como se o roteiro ansiasse por contar uma história de amor minimamente diferente e, com isso, tirasse toda a naturalidade e química entre os dois.

Essa mesma falta de naturalidade é passada para a atuação de Shailene e Ansel, que simplesmente não convencem em seus papéis – o que vemos são os atores lutando para darem vida ao roteiro não orgânico de Scott Neustadter e Michael H. Weber, e não uma encarnação, de fato, dos seus personagens. Piorando a situação ainda temos o equipamento respiratório da protagonista que, constantemente, nos lembra de sua situação, quando esta poderia causar mais impacto se nos permitisse o ocasional esquecimento. Sim, trata-se de um elemento importante dentro da trama, mas não podemos deixar de contemplar a possibilidade de uma maior riqueza de conteúdo no longa-metragem caso ele não existisse. O que temos, afinal, é uma tentativa de nos fazer sentir pena da garota, algo alertado, inclusive, por determinado personagem ao longo da obra.

Quando, enfim, conseguimos deixar de lado tais defeitos, nossa imersão é completamente quebrada pela retratação do personagem vivido por Willem Dafoe (que não irei revelar para evitar spoilers). Vemos algo tão inusitado que chega a provocar risadas de desconforto, como um grito do diretor, Josh Boone, buscando a identificação do espectador com os protagonistas.

Não bastassem os problemas provenientes da direção e elenco, ainda temos um grande esforço da fotografia de Ben Richardson, para quebrar qualquer esperança da audiência. O exagero do uso de plano e contra-plano não demora a cansar o espectador, que logo irá se entediar pela falta de criatividade na decupagem. Aliado a isso, ainda temos a ousadia da montagem de Robb Sulivan, que consegue trazer erros de continuidade mesmo diante de uma fotografia tão simples. No ramo da edição também há a presença de balões de texto quando os personagens recebem uma mensagem no celular. Ao invés de ser utilizado um quadro mais minimalista, como em Sherlock, vemos elementos gráficos que prestam homenagem à capa do livro, mas que acabam tirando a credibilidade da narrativa pelo excesso que representa.

Tratando ainda da excessividade, Scott Neustadter e Michael H. Weber, em sua constante tentativa de aproximar o filme ao livro, transcrevem trechos, transformando-os em narrações em off de Hazel Grace. Tal instrumento, contudo, se prova completamente desnecessário, ao passo que somente explica o que já conseguimos entender pelas imagens, como uma falta de confiança dos realizadores na capacidade de compreensão de seu público-alvo.

A Culpa é das Estrelas é um filme que exala artificialidade. Trata-se de uma tentativa constante em contar uma história de amor inovadora, mas que acaba caindo nas águas da previsibilidade, com uma relação nada menos que forçada. Ainda assim, apesar de todos os seus defeitos técnicos, de roteiro e atuação, é um longa-metragem que irá agradar às audiências que somente buscam um romance adolescente ou uma história que apela na tentativa de tirar lágrimas do espectador. Definitivamente dentro de minhas expectativas iniciais.

A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars) – EUA, 2014
Direção: Josh Boone
Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber (baseado no livro de John Green)
Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, Laura Dern, Sam Trammell, Willem Dafoe, Lotte Verbeek, Ana Dela Cruz, David Whalen, Milica Govich.
Duração: 125 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais