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Crítica | A Dama do Espelho: O Ritual das Trevas

por Luiz Santiago
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Lendas sobre criaturas que podem ser invocadas ou vistas através de espelhos existem em diversas culturas. Neste longa-metragem de 2015, conhecemos a versão russa da história, com a invocação da Dama (ou Rainha) de Espadas através do desenho de uma porta + uma escadaria num espelho, feita com um batom e seguida de três chamadas pela entidade. Com uma boa base para o terror e misturando tópicos da cartilha americana com nuances particulares e interessantes de se fazer susto, A Dama do Espelho: O Ritual das Trevas até que consegue introduzir e começar a desenvolver bem o tema, mas acaba estrando tudo no ato final, após um falso clímax.

O roteirista e diretor Svyatoslav Podgaevskiy consegue criar uma boa escalada para a trama, primeiro apresentando os adolescentes ligados à invocação e depois trabalhando passo a passo as consequências desse despertar. E por mais que a gente já comece a revirar os olhos diante do elenco e questione a intenção do próprio roteiro com algumas condições para os personagens (o pai e sua saída do trabalho — aparentemente para nunca mais voltar — foi a pior de todas), a atenção do texto está mesmo na forma como os mais jovens e depois um adulto lida com o sobrenatural. Não há novidade alguma na temática, mas o tratamento para o medo tem sim a identidade do diretor e também escolhas que são a marca da cultura russa.

A primeira sequência da obra é muito bem filmada. A câmera se aproximando como se fosse ela mesma uma espécie de entidade, a observação atenta da narração, o belo contraste de cores no set, com o verde da parede do quarto mais o filtro que gera a atmosfera aconchegante e ao mesmo tempo amedrontadora daquele lugar estabelecem bem o cenário para o início do conto. No decorrer da obra, teremos outros bons ajustes visuais nessa linha, como na cena do banheiro durante o velório do primeiro garoto morto, a cena no quarto de revelação das fotografias e a sequência final no hospital, embora apenas a parte visual desse momento do filme se salve, porque o roteiro, a esta altura, já estava perdido.

Como é mais comum nos terrores vindos de culturas fora dos EUA, a explicação ou o entendimento do elemento maligno da vez vai se dando mais a partir de uma reação em cadeia do que por elementos didáticos do roteiro. O cânone se mantém (ou seja, a carga psicológica), mas a forma como isso é explicitado para o espectador demora mais para ficar pronta, o que é curioso de se acompanhar e faz com que a gente experimente de outro modo as reações dos personagens através dos sustos no processo. Meio burocrático às vezes e com sérios problemas dramatúrgicos (não é durante todo o tempo, mas o elenco aqui é majoritariamente fraco), o filme ainda segura  bem a nossa atenção… até que vem o falso clímax e, para nossa tristeza, percebemos que há mais uns 35 minutos pela frente. A partir daí experimentamos um outro tipo de terror: o de uma obra boicotando a si mesma.

Da luta perceptiva e física contra uma entidade, o filme muda de tom e abordagem: vira uma história sem graça de possessão, mostra a pior atuação da atriz mais nova, os piores efeitos práticos, uma direção fraca e diálogos aleatórios, tudo para tentar encaixar esse novo momento de luta contra a Dama, agora habitando o corpo de Anna (Alina Babak), embora não fique só por aí. Tudo bem que a “finalização” anterior não tinha exatamente cara de final, mas qualquer coisa que eu esperava que viria a seguir, não passava nem perto do estrago que esse ato final da obra nos trouxe. Aquele tipo de pedaço do filme que vem com uma faixa em letras garrafais: “estou aqui só para estragar a sessão de vocês“. Vai ver, é um tipo de maldição também. Com certas coisas não se brinca…

A Dama do Espelho: O Ritual das Trevas (Pikovaya dama. Chyornyy obryad/Пиковая дама: Чёрный обряд) — Rússia, 2015
Direção: Svyatoslav Podgaevskiy
Roteiro: Svyatoslav Podgaevskiy
Elenco: Alina Babak, Valeriya Dmitrieva, Igor Khripunov, Evgeniya Loza, Sergey Pokhodaev, Valentin Sadiki, Vladimir Seleznyov
Duração: 92 min.

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