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Crítica | A Escolha (Yam Daabo)

por Luiz Santiago
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O diretor burquinense Idrissa Ouedraogo encontrou destaque na crítica internacional em 1989, quando exibiu no Festival de Cannes o seu segundo longa-metragem, Yaaba, considerado um dos melhores dramas já realizados em seu país. Dois anos antes desse marco em sua carreira, Ouedraogo estreava na direção de longas-metragens com o pouco satisfatório A Escolha (Yam Daabo), filme que narra a história de um triângulo amoroso e da migração de uma família para fugir da miséria.

Com roteiro do próprio diretor, a fita traz alguns bons momentos dentro dessa temática de readaptação ao lugar e reconstrução de vida, mas de um modo geral, não consegue dar conta de sua proposta porque tenta desenvolver os blocos isoladamente, em vez de pensá-los como parte de uma mesma estrutura. Em seus filmes futuros, o diretor voltaria a abordar essa multiplicidade de camadas mais ou menos independentes no meio dos longas, boa parte delas com um bom nível de funcionamento. Todavia, em A Escolha, essas histórias são expostas superficialmente e mal cimentadas por um roteiro onde a palavra é uma raridade.

A grande quantidade de planos de detalhe e de indicações do cotidiano na abertura e no epílogo do filme dá a ideia de um ciclo social fixo, quase uma obra do destino. Mas até essa sugestão se perde na edição desencontrada de Arnaud Blin, e na direção esparsa de Ouedraogo. O filme parece correr para todos os lados, abordar de maneira milimétrica e superficial (o quão paradoxal seja essa construção) três assuntos centrais e suas quebras narrativas, em um enredo potencialmente interessante mas, na prática, confuso. O que mais clama contra o filme é a profusão de tramas internas não desenvolvidas ou finalizadas às pressas, o que nos faz questionar o por quê foram adicionadas ao texto, para começo de conversa. Em apenas 1h20min. temos, nos mesmos espaços cênicos, acontecimentos e tramas internas em demasia para serem digeridos e acomodados pelo público, desembocando em uma impressão de incompletude.

Para piorar, a trilha sonora de Francis Bebey caberia melhor em um filme latino-americano do que em um filme de Burkina Faso. Não se trata de uma composição ruim, vejam bem. Mas o uso da música não corresponde à intensidade nem à realidade geográfico-social que vemos em A Escolha. Nesse caso, o estranhamento é tamanho que cansa o espectador, que desiste de tentar entender os desencontros narrativos e de significado entre drama e música. Para um filme tão focado em uma representação cultural de uma vila da região de Gourga, no sudeste do país, a opção mais sensata seria a de usar música local, não externa, especialmente se esse uso não é parte da problematização contida na obra, como o fez, por exemplo, Ousmane Sembène em Garota Negra / A Negra De….

O que salva A Escolha de uma classificação ainda mais desfavorável são algumas apresentações das tramas individuais, que infelizmente cobram o seu preço a longo prazo. A família, a vingança, o desejo, a miséria, são temas abordados em cada um desses períodos narrativos e garantem, ao menos momentaneamente, uma boa sessão. O filme é interessante quando o consideramos base de observação para a sociedade burquinense e um recorte de seu funcionamento, sua cultura, suas paisagens. Mas como obra de grande destaque, não foi nessa estreia que Ouedraogo conseguiu muita coisa.

A Escolha (Yam Daabo) – Burkina Faso, França, 1987
Direção: Idrissa Ouedraogo
Roteiro: Idrissa Ouedraogo
Elenco: Moussa Blogo, Aoua Guiraud, Assita Ouedraogo, Fatima Ouedraogo, Omar Ouedraogo, Rasmane Ouedraogo, Salif Ouedraogo
Duração: 80 min.

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