Home LiteraturaConto Crítica | A Fuga de Arsène Lupin, de Maurice Leblanc

Crítica | A Fuga de Arsène Lupin, de Maurice Leblanc

por Luiz Santiago
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Em mais uma demonstração de astúcia e inteligência (e falo isso me referindo às mesmas demonstrações no conto anterior do personagem), Arsène Lupin consegue o que queria e, enfim, foge da prisão neste terceiro conto escrito por Maurice LeBlanc sobre o inesquecível “ladrão de casaca”. Mesmo que esta seja a conclusão de uma tríade iniciada em A Prisão de Arsène Lupin — para mim, um começo literário anticlimático –, o que o autor realizou nos dois contos seguintes foi algo digno de nota e digno da fama e peripécias de seu personagem.

Em alguma medida, repete-se aqui a ideia de um “crime anunciado”, como fora com o roubo de Arsène Lupin na Prisão. Mas em torno desse anúncio há um plano de fuga impossível que, ao se revelar, mostra a grande capacidade e o grande conhecimento que Lupin tinha nas mais diversas áreas. Sobre ele, descobrimos que está agindo “há apenas três anos”, no momento em que esse conto acontece, o que nos faz pensar como a sua fama cresceu rápido entre a população, a polícia e a justiça francesas.

Quando Lupin diz que planeja escapar antes de seu julgamento, a polícia se movimenta para vigiá-lo de todas as formas, ao mesmo tempo que dá corda para que faça coisas que possibilitem as autoridades prenderem os outros membros do bando. Por um momento, o leitor fica procurando as brechas que irão fazer com que o protagonista consiga fugir, e a cada novo acontecimento, a possibilidade de fuga fica mais enigmática e difícil. Eu suspeitei que havia algo muito estranho com a descrição psicológica e física de Lupin na reta final do conto, mas realmente não esperava que a condução da história fosse pelo interessantíssimo caminho que foi.

Em dado momento da narrativa, o autor fala que o povo se apinhava para ver o julgamento do grande ladrão, e essa sensação de euforia que ele descreve basicamente espelha a sensação do público ao ler esse tipo de história. O leitor espera a fuga e espera algo grandioso vindo de Lupin, sendo essa criação de expectativa algo perigoso, mas que é bem recompensado ao final do conto. Mais uma vez gostei bastante do encontro entre Lupin e Ganimard, do quanto o ardiloso ladrão se diverte com o “golpe de fuga” e o quanto isso afeta pessoalmente o inspetor, que não pode fazer nada. O fato de uma lágrima escorrer pelo rosto dele me deixou realmente tocado e apreciei muito esse detalhe destacado por Leblanc. Em A Fuga de Arsène Lupin temos, mais uma vez, o fortalecimento da palavra que define tudo ligado ao personagem: estilo.

A Fuga de Arsène Lupin (L’Évasion d’Arsène Lupin) — França, 1906
Autor: Maurice LeBlanc
Publicação original: Je Sais Tout #12 (janeiro de 1906)
Primeira coletânea: Arsène Lupin, Gentleman-cambrioleur (1907)
Edição lida para esta crítica: O Ladrão de Casaca: Edição Bolso de Luxo
Tradução: André Telles, Rodrigo Lacerda
Editora: Zahar
48 páginas

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