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Crítica | A Família Addams 2: Pé na Estrada

Uma família que não se desgasta, mesmo quando parece.

por Davi Lima
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  • Confira aqui, a crítica do primeiro filme animado e, aqui, todo nosso material sobre a A Família Addams.

A Família Addams é uma família essencialmente esquisita e deslocada, e isso não é novidade. Dentro do cenário da animação isso facilita trabalhar ainda mais a comédia e o drama temático de inclusão pertencente à família, mas também cede ao cenário animado, seja 3D ou 2D, a não mais se diferenciar da família, quebrando o destaque entre os personagens sombrios e os contextos comuns que tanto cria graça e diversão.

No primeiro filme produzido pela BRON Studios, em 2019, o jogo implementado para evitar esse possível problema foi apostar ainda mais em dinâmicas temporais, tornando os Addams modernos para o público acostumado com o live-action da década de 90, por exemplo. Já em A Família Addams 2: Pé na Estrada, ausenta-se a tentativa de tornar os personagens mais próximos da tecnologia e surge a aposta num drama familiar básico de road-movie. Isso torna o cenário automaticamente imprevisível e ao mesmo tempo consistente para a antítese com a família no quesito de cenários, mas vacila em tornar sua história redundante para o que significa os Addams.

A trama se baseia no conflito de Wednesday (Chloë Grace Moretz) com sua própria família. Apesar da boa relação com Mortícia (Charlize Theron), no quesito de personalidade, a filha mais velha sempre se mostrou cômica por ser fria demais para as características de seus familiares. Isso nunca foi uma questão conflituosa plena, apesar de provocar boas esquetes na fórmula episódica que os filmes da Família Addams sempre produziram. Justamente nessa sequência da animação que renovou a franquia, a garota esbranquiçada e mortal adentra na narrativa da juventude, de entender qual é o seu lugar, ou melhor, qual é a sua origem.

O filme é bem direto nas primeiras cenas, numa feira de ciências que delimita esse drama, quando a personagem, mesmo sendo a mais inteligente na comparação de projetos, não ganha nada por isso. A princípio, isso intenta um bom fio para justificar o título do filme, quando Gomez (Oscar Isaac) propõe uma viagem de férias com intenção  implícita de redescobrir a família, ou aproximá-la. No entanto, por causa dessa ideia toda, a animação se sustenta bem mais pela fórmula de estranheza clássica do que por uma narrativa dramática que permite uma nova aventura nos cinemas.

Diante disso, pode-se até pensar o quão desperdiçada é uma continuação que parece apenas refletir em como Wednesday é diferente de seus familiares em uma família bastante plural e exótica. Até seu nome ganha um prólogo de explicação racional para provocar novos conflitos. Apesar disso, A Família Addams 2: Pé na Estrada consegue entreter pela diversidade de cenários que o road-movie proporciona, aumentando as piadas visuais, físicas e sociais. Se o grande o lema que o filme quer alcançar parece tentar delinear o cinza no preto mais claro, o escopo em que a história se insere é um belo arco-íris.

Desde Niagara Falls a Sausalito, na Califórnia, o passeio de ponta a ponta dos EUA confere natural divergência aos Addams em espaços “normais”, lidando com a modernidade. Muitas das motivações de humor físico nas cidades que a família visita nem mesmo tem uma lógica elaborada, apenas se encaixam na estrutura de esquetes que vão montando transições de acúmulo dramático para unir a narrativa de Wednesday com Gomez e Morticia. Busca-se desenvolver, daí, um mistério envolto numa perseguição, onde  dois personagens seguem o itinerário dos protagonistas com um segredo envolvendo os pais e a garota, valendo  de maneira mais interessante na comédia do que nas tentativas de criar conflito dramático.

A verdade é que ver Pugsley (Javon ‘Wanna’ Walton) tentando tornar o Grand Canyon em um “grand bomb show” por causa do silêncio da paisagem, as tentativas contínuas, clássicas, da irmã matá-lo e as interações de quebra de expectativa do mordomo Lurch (Conrad Vernon) com Wednesday e os motoqueiros num bar, tudo isso torna a Família Addams um exemplo de modelo adaptativo. Mesmo com músicas modernas, mesmo com o tema variando notas, toda a estranheza cômica envolvendo piadas curtas que formam uma história para os personagens, sustentam uma fórmula única que não se desgasta. O diretor Barry Sonnenfeld, quando dirigiu Família Addams 2 em live-action em 1993, expôs isso, e mais uma vez uma sequência parece evidenciar o quão duradouro  e quão variável pode ser o encaixe desencaixe dessa família em qualidade, mesmo quando o filme não é tão bom assim.

A Família Addams 2 (The Addams Family 2) – EUA, Canadá | 2021
Direção: Greg Tiernan, Conrad Vernon, Laura Brousseau, Kevin Pavlovic
Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit, Ben Queen, Susanna Fogel
Elenco: Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Javon ‘Wanna’ Walton, Nick Kroll, Snoop Dogg, Bette Midler, Conrad Vernon, Bill Hader, Wallace Shawn, Brian Sommer, Cherami Leigh, Ted Evans
Duração: 93 minutos

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