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Crítica | A Fera (2022)

Um horror ecológico repleto de muita adrenalina.

por Leonardo Campos
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Todo ano, o subgênero horror ecológico nos oferta uma narrativa que envolve os seres humanos em combates fervorosos com as forças da natureza, em especial, os animais colocados em posição de “assassinos”. Para 2022, o cineasta Baltasar Kormákur trouxe A Fera, uma empolgante aventura escrita pela dupla de roteiristas formada por Primak Sullivan e Ryan Engle Jaime, dramaturgos que entregam ao público uma enérgica história de busca por sobrevivência e debates sobre como a intervenção humana tem sido a grande ameaça da biodiversidade que habita o nosso meio ambiente que caminha cada vez mais rumo ao insustentável. A simplicidade do encadeamento da trama, aqui, é o que a torna uma produção eficiente, direta e objetiva, crível diante do que é proposto, isto é, uma família em meio aos contratempos num safári, acossada por um leão sobrevivente de caçadores, criatura que passa a enxergar qualquer presença humana como risco e, assim, transforma o que seria um momento de diversão para os envolvidos numa guerra sangrenta e assustadora ao longo dos breves 90 minutos de narrativa.

No desenvolvimento da trama, acompanhamos o Dr. Nate Daniels (Idris Elba), um viúvo que decide retornar ao local da África do Sul onde conheceu a sua esposa, tendo em vista resgatar questões memorialísticas e promover diletantismo para as suas duas filhas, Meredith (Iyana Halley) e Norah (Leah Sava Jeffries), num momento em que todos estão muito vulneráveis, pois a mais velha da família é um ser reclamante em relação ao pai que esteve ausente durante passagens decisivas, prévias ao luto pela morte da mãe. Na viagem, o firme personagem de Elba, atraente não apenas pelo texto, mas pela maneira como o ator encarna a missão dramática, investe num passeio guiado pelo seu amigo Martin Battles (Sharlto Copley), um biólogo selvagem que age com postura militante e engajada no que concerne aos debates ambientalistas.

Assim, quanto todos pensavam que estavam diante da aventura de suas vidas, precisam lidar com o leão atacado e na defensiva, pronto para aniquilar qualquer presença humana que possa ameaçar a sua existência. Aqui, o felino é a vítima da situação, animal que é parte de um tenebroso esquema de caça que não leva em consideração nenhuma cautela com a biodiversidade frente ao processo de extinção. Predador, neste caso, é o ser humano inconsequente. Diante do exposto, a família precisa renascer diante das dificuldades, numa produção que faz uso de todos os clichês do horror ecológico, trabalhados numa estratégia que funciona assertivamente, em especial, pelos convincentes efeitos visuais da equipe de Enrick Pavdeja, trabalho que associado ao processo de composição da textura percussiva e do design de som, assinados por Steven Price e Glenn Freemantle, mantém a tensão sempre favorável ao ritmo dos acontecimentos, garantindo a atenção dos espectadores.

Outro ponto que favorece A Fera é a direção de fotografia de Jean-Vincent Puzos, idealizadora  de momentos labirínticos, com os personagens imprensados pela ameaça felina e, noutras passagens, contemplativa da inóspita paisagem , por meio de enquadramentos mais amplos que reforçam o clima árido, a ausência de chuvas, tomado por baixa umidade e temperaturas fervilhantes, espaço geograficamente caracterizado por suas folhas reduzidas pela natureza, tendo em vista minimizar a perda de água na seca constante, com árvores de baixo porte e muitos espinhos, obstáculos que tornam a jornada que envolve sede e fome ainda mais angustiante e desafiadora.

Ademais, além de funcionar como eficiente produção de entretenimento, A Fera também possui estrutura bastante didática e pedagógica, com reflexões sobre a intervenção dos humanos no meio ambiente e os impactos de suas consequências, algo já delineado em outros filmes sobre animais acossados e impulsionados pelo instinto de defesa. Numa época de polêmicas ambientais, tais como a corporação recente que ofertava a caça de uma leoa grátis para cada leão pago para ser alvejado, questões que envolvem um tenebroso esquema de perversidade e favorecimento à extinção, também prejudicial em outras instancias, afinal, leões têm invadido cada vez mais zonas de agricultura da região, na propagação de um efeito no ecossistema que se espalha como um rizoma por outros espaços da vida de quem compartilha tal território. Na cascata trófica, o leão é um predador peça-chave, topo de cadeia, responsável por manter o equilíbrio da natureza, algo que não é levado em comparação por caçadores inconsequentes.

A Fera (Beast) — Estados Unidos, 2022.
Direção: Baltasar Kormákur
Roteiro: Ryan Engle
Elenco: Idris Elba, Sharlto Copley, Iyana Halley, Leah Jeffries, Mel Jarnson, Anzor Alem, Billy Gallagher, Dorian Hedgewood
Duração: 93 min.

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