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Crítica | A Fuga de King Kong

por Guilherme Coral
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Na década de 1960, King Kong caiu nas graças do audiovisual japonês, primeiro com King Kong vs. Godzilla, cujo título mais que deixa claro do que se trata, seguido por The King Kong Show, em 1966, que acabou gerando uma adaptação cinematográfica, a última japonesa com o macaco gigante, A Fuga de King Kong, de 1967. A primeira aparição do gorila no cinema oriental foi marcado por forte fator trash, isso, contudo, foi apenas uma amostra grátis quando comparado a esse segundo longa com a criatura, uma obra que se não for encarada na brincadeira será uma verdadeira tortura cinematográfica, com todos, sem exceção, os elementos se estabelecendo como tragédias inimagináveis.

A trama nos apresenta Dr. Who (Hideyo Amamoto), que não tem nada a ver com a série britânica, por mais que seja coincidência demais o personagem surgir apenas um ano depois da estreia de Doctor Who, um cientista que, a mando da Madame Piranha (Mie Hama) constrói um robô gigante de King Kong, o temível Mechani-Kong, a fim de extrair o elemento X das geleiras do polo Norte. Com isso eles seriam capazes de dominar o mundo. Enquanto isso, um submarino comandado por Carl Nelson (Rhodes Reason) é forçado a parar na ilha Mondo, que abriga o verdadeiro King Kong. A partir daí vemos eventos similares ao filme original, com o gorila combatendo dinossauros e se apaixonando por uma das tripulantes do submarino, Susan (Linda Miller). O que diferencia essa obra do clássico de 1933 é que Who acaba capturando o macaco e, através de um dispositivo de controle mental, ele o envia para Tóquio (que substitui Nova York).

É necessária muita suspensão de descrença para encarar A Fuga de King Kong. Para começar, temos o plano totalmente mirabolante de Dr. Who, que ao invés de usar uma broca, decide criar um macaco gigante para extrair um elemento desconhecido e não, nenhuma justificativa nos é dada para que possamos engolir esse fator. Segundo, temos a parada conveniente de Nelson e sua tripulação na ilha, com o submarino sofrendo danos justamente próximo a ela. Para piorar, temos sequências verdadeiramente terríveis com lutas entre Kong e os dinossauros conseguindo nada mais que arrancar belas risadas do espectador, explicitando o orçamento mínimo para a produção. A direção de Ishirô Honda, responsável por King Kong vs. Godzilla e inúmeros outros filmes de kaiju, também não ajuda nesse quesito, não conseguindo disfarçar os cenários em miniatura para criar a ideia de que as criaturas são gigantescas.

O ápice dos absurdos da obra, porém, está no dispositivo de controle mental do gorila gigante: um rádio pelo qual o cientista maluco dá ordens à criatura, que, aparentemente, consegue entender inglês sem o menor problema. O final ainda segue o óbvio, com uma batalha feroz entre a versão orgânica e a mecânica da criatura, nos passando a ideia de que o filme inteiro foi criado para que víssemos exatamente essa cena (que demonstra o mesmo padrão de qualidade das lutas contra os dinossauros).

Surpreendentemente, a maior tragédia do longa-metragem consegue ser as atuações, que faz parecer como se cada membro do elenco de Sharknado merecesse um Oscar. Todas são excessivamente dramáticas, com direito a risadas olhando para o céu e gritos histéricos de Linda Miller, que nos fazem querer dar gargalhadas – em diversos momentos acreditei que sua personagem tivesse morrido tamanho o exagero. Dr. Who, que fora baseado em vilões de James Bond, como Blofeld e Dr. No se configura como uma versão caricata desses personagens, elevando o conceito de “vilão de 007” para um nível ainda mais surreal, algo que já podemos observar através de seus planos totalmente fora da realidade. Mie Hama, que interpreta Madame Piranha, segue o mesmo caminho, funcionando como a vilã por trás de tudo aquilo.

A Fuga de King Kong, portanto, deve ser encarado praticamente como um filme de comédia, caso contrário, o espectador terá uma experiência cinematográfica verdadeiramente miserável. Com um péssimo roteiro, atuações exageradas e uma produção que claramente não contava com um orçamento assim tão grande, temos aqui uma obra que justifica essa ter sido a última adaptação japonesa do filme de 1933. O gorila gigante deveria ter permanecido somente no desenho animado e em King Kong vs. Godzilla no Japão, nos poupando dessa experiência que só pode ser definida pela palavra trash.

A Fuga de King-Kong (Kingu Kongu no gyakushû) — Japão/ EUA, 1967
Direção: 
Ishirô Honda
Roteiro: Takeshi Kimura
Elenco: Rhodes Reason, Mie Hama, Linda Miller,  Akira Takarada,  Hideyo Amamoto, Yoshifumi Tajima, Sachio Sakai
Duração: 104 min.

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