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Crítica | A Grande Guerra (1959)

por Luiz Santiago
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Quando olhamos para a filmografia do grande Mario Monicelli, salta aos olhos as veredas simultâneas nas quais o diretor costumava colocar seus filmes, boa parte deles com um pé na comédia mas sempre ressaltando um contexto histórico ou ambientações sociais e correntes cinematográficas (A Grande Guerra chega a ter muitos elementos neorrealistas); tratamentos que não excluem o olhar romântico e cultural que fazem de seus filmes obras muito humanas, sem jamais deixar o amor ou os laços de amizade de lado, nem os embates culturais entre as várias regiões da Itália, de onde vem parte da “comédia de costumes” igualmente marcantes nas películas do diretor.

A Grande Guerra, filme de 1959 que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e venceu o Leão de Ouro em Veneza, acompanha um grupo de soldados lutando no front italiano durante a Primeira Guerra Mundial. O ano base da aventura é 1916, mas o espectador pode entender que a trama cabe em qualquer momento da chamada “guerra de trincheiras” (1915 – 1917), talvez com ressalvas para os eventos que mudaram os rumos da guerra em 17, com a entrada dos Estados Unidos no conflito e a saída da Rússia, os dois eventos em momentos diferentes do ano.

Olhando de forma lúcida, crítica e objetiva para a guerra, o diretor destaca dois amigos improváveis em meio à multidão e é a partir deles que o roteiro se aprofunda na psicologia dos soldados, vendo-os como homens divididos entre o medo da morte, a vontade de fugir e um senso de dever que ora parece importante e motivo de verdadeira defesa, ora parece uma estupidez absoluta.

O modelo de direção e escolhas narrativas de A Grande Guerra nos lembram bastante às de Sem Novidade no Front (1930), mas o filme de Monicelli é mais episódico, com um texto fortemente influenciado pelos relatos jornalísticos da Primeira Guerra, como se estivéssemos assistindo a alguns acontecimentos envolvendo o batalhão protagonista ao longo de um ano (ou mais).

A direção alterna o olhar de micro para macro e de macro para micro sempre que necessário e isso nos dá uma visão pessoal e ao mesmo tempo institucional para o evento, uma lição aprendida pelo diretor com A Grande Ilusão (1937) e Glória Feita de Sangue (1957), ambos empenhados em alternar e desenvolver (isso é o mais importante) a forma como as altas patentes, as instituições, o topo da pirâmide dos Senhores da Guerra olhavam para o horror da guerra; com certeza, uma forma bastante diferente daqueles que passavam fome, adoeciam, arriscavam-se e morriam para defender uma nação. Em várias cenas o roteiro questiona a ação do soldado como “defensor de alguma coisa” e o patriotismo passa por várias interpretações, dependendo de quem fala ou a ocasião em que essa discussão vem à tona.

Alberto Sordi (Oreste) e Vittorio Gassman (Giovanni) estão perfeitamente à vontade em seus papeis e de fato nos fazem crer na amizade cheia de desavenças que seus personagens desenvolvem. Ao longo do filme, um ou outro é destacado no roteiro para que partes diferentes do batalhão ou do amplo cenário em locações sejam mostrados; e claro, para que o filme tenha a graça de uma variedade psicológica na tela. Isso nós percebemos até na abordagem da libido dada com forte destaque para Giovanni e de forma mais comedida para Oreste, adicionando aí uma âncora de “sonho de futuro” na ótima personagem de Silvana Mangano.

Com grandes e belas panorâmicas sobre campos povoados de soldados correndo de armas e granadas na mão, exploração da profundidade de campo, trilha sonora romântica do grande Nino Rota e desfecho muitíssimo bem executado, A Grande Guerra é uma comédia de humor negro que sabe combinar nuances de gêneros bem diferentes e gerar um produto final clássico, obrigatório para cinéfilos e interessados na História da Primeira Guerra Mundial.

A Grande Guerra (“La grande guerra) — Itália, França, 1959
Direção: Mario Monicelli
Roteiro: Agenore Incrocci, Furio Scarpelli, Luciano Vincenzoni, Mario Monicelli
Elenco: Alberto Sordi, Vittorio Gassman, Silvana Mangano, Folco Lulli, Bernard Blier, Romolo Valli, Vittorio Sanipoli, Nicola Arigliano, Geronimo Meynier, Mario Valdemarin, Elsa Vazzoler
Duração: 137 min.

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