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Crítica | A Gripe (2013)

por Leonardo Campos
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Todo filme sobre pandemia que preza o retorno financeiro geralmente segue uma estrutura industrial pré-definida para o público que já sabe mais ou menos que vai conferir na tela. Algumas conseguem ir além do entretenimento e escapismo, outras flertam com essa necessidade, mas também apostam em reflexões políticas e sociais bem condizentes com as temáticas abordadas. A Gripe, dirigido pelo sul-coreano Sung-su Kim, consegue dar conta de todos os eixos citados, tendo como único problema, o prolongamento excessivo de sua narrativa. Lançado em 2013, ao longo de seus 122 minutos, a produção traz as famosas cenas de pessoas perdendo a cabeça diante da pandemia e saqueando supermercados e demais instituições que provém algo que lhe seja necessário ou então, os bandidos que se aproveitam dos primeiros momentos de caos para tirar proveito, além das clássicas brigas por vacinas e espaço, pois em situações deste tipo, a expressão popular “farinha pouca, meu pirão primeiro” se torna a tônica da vez.

Guiado pelo roteiro escrito em parceria com Young-jong Lee, ambos inspirados no argumento de Jae-lo Jung, o cineasta Sung-su Kim nos apresenta uma pandemia de gripe, claramente inspirada no pânico social e nos desdobramentos da H1N1, manifestação da microbiologia que ainda apresenta sinais nos dias atuais, mas foi ainda mais impactante há um pouco mais de uma década, quando ceifou a vida de muitas pessoas em diversos pontos do nosso planeta. Com discussões sobre a corrupção política, a mídia no reforço constante do caos e as subtramas que envolvem os principais personagens, A Gripe mescla elementos dos filmes de ação e de terror, com desfecho ainda otimista, mesmo que repleto de tensões e dúvidas sobre a continuidade do caos em outros pontos tangenciais da história, resolvida ao menos dentro do arco principal. Não podemos deixar de observar as discussões bem empregadas sobre imigração e a burocracia em torno dos métodos científicos para a elaboração e testes com a salvação, neste caso, a vacina.

Acompanhamos a trajetória de vários personagens passageiros, mas o foco da narrativa é a pesquisadora Kim In-hae (Soo Ae), uma estudante de brilhante jornada acadêmica que está em fase de desenvolvimento de projetos e sofre um acidente logo na abertura do filme. Será assim que o texto nos apresenta ao seu futuro par romântico, Kang Ji-koo (Hyuk Jang), o socorrista que a salva dos destroços do incidente de trânsito e depois de algumas coincidências, torna-se o parceiro dela na luta pelo bem-estar de Kim Mi-reu (Min-ah Park), a filha de Kim que se torna uma das tantas pessoas indefesas quando o surto de gripe se transforma numa pandemia que ceifa vidas a cada instante da narrativa. Eles precisam sobreviver ao vírus, mas também ao agravante quadro de saúde pública numa zona próxima de Seul. No contexto ficcional, não há cura para a tal gripe e os acometidos morrem em média 36 horas após o contágio. Com a necessidade da quarentena, o caos se estabelece, tal como temos observado na realidade, numa multiplicação de dramas humanos e crises onde a palavra-chave ética é colocada à prova constantemente.

Para nos apresentar essa história tensa, Sung-su Kim contou com a direção de fotografia de Mo-gae Lee, profissional eficiente ao atravessar ambientes fechados e reforçar a tensão, recurso que geralmente fica sob a responsabilidade da trilha sonora, setor representado pela textura percussiva de Tae-seong Kim. A edição de Na-young Nam é bastante ágil em sua primeira metade, mas ainda com as cenas de ação dos atos seguintes, há uma sensação de marasmo na história, problema de roteiro que poderia ter sido resolvido na pós-produção. De volta ao terreno da visualidade, o design de produção de Kyeong-mi Kim também é funciona bem, seja nos espaços instituições, seja nos momentos de interação entre imagens externas e os efeitos visuais supervisionados pela equipe de Jae-chean Chai, repleto de cenas de batidas, explosões e outros recursos que reforçam os embates físicos entre os ainda vivos no contexto de uma pandemia.

Ademais, A Gripe não nomeia figuras da vida real, nem reforça datas e acontecimentos registrados pela mídia, mas pela sua abordagem, sabemos que o filme se inspira nos desdobramentos da gripe aviária, contágio que ocorreu entre uma ave e outra e chegou aos humanos por meio do contato com as fezes desses animais doentes, bem como o consumo de sua carne ou ovos. Há também o problema da superfície contaminada por penas, saliva e fezes dos animais em questão. A doença é causada pela mutação do vírus Influenza A, o conhecido transmissor da gripe. A lista de sintomas é extensa: tosse, febre, garganta inflamada, dores musculares, dificuldade respiratória, náuseas, diarreia e, em casos mais graves, manifestações semelhantes ao que conhecemos como conjuntivite. Para o leitor, um detalhe: esse parágrafo de encerramento está longe de tentar ser didático ou focar em questões biológicas. É apenas a descrição cabal de coisas que ocorreram em A Gripe, um dos filmes que atualmente encabeçam a lista das narrativas sobre pandemia que as pessoas transformaram em hits, haja vista a condição humana atual diante do “covid-19”.

A Gripe (Flu) — Coreia do Sul, 2013
Direção: Sung-su Kim
Roteiro: Young-jong Lee, Sung-su Kim
Elenco: Hyuk Jang, Soo Ae, Roxanne Aparicio, Jang-Su Bae, Tom Bauer, Andrew William Brand, Christine Marie Cabanos, In-Pyo Cha, Byung Mo Choi, Deborah Crane, Khoi Dao
Duração: 122 min.

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