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Crítica | A Guerra do Amanhã

por Ritter Fan
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Guardadas as devidas proporções, e é importante guardá-las bem guardadinhas tanto que eu estou até negritando para ninguém ter dúvida, A Guerra do Amanhã consegue ser um filme de guerra contra monstros alienígenas assustadores que é equiparável ao clássico Aliens, O Resgate. O que falta em termos de elegância e mitologia sólida e bem construída ao longa escrito por Zach Dean e dirigido por Chris McKay, o roteiro tenta compensar com a adição do melhor artifício sci-fi possível, ou seja, a viagem no tempo, resultando em uma divertidíssima amálgama de Aliens com O Exterminador do Futuro (só que ao contrário, já chego lá), com pitadas de No Limite do Amanhã e até mesmo de Halo (sim, o videogame). O resultado é uma obra que não chega aos pés de nenhuma outra das citadas aqui, mas que entrega uma pancadaria honesta, com um protagonista eficiente e, melhor ainda, um design de criatura sensacional, cortesia de Ken Barthelmey das franquias Maze Runner, Animais Fantásticos e Monstroverso da Warner/Legendary.

A premissa da história é daquelas que inegavelmente prende o espectador: em um belo dia, ao final de 2022, um destacamento de soldados vindo de 2051 se materializa na final da Copa do Mundo (em que o Brasil está jogando, diga-se de passagem) informando que, no futuro, o mundo entrará em guerra contra uma raça alienígena e que a Humanidade, pelo menos no ponto temporal de onde eles vêm, está perdendo feio. Ato contínuo, eles pedem ajuda da população do presente para que ela forme a força militar do futuro, enviada para lá por uma máquina do tempo, algo que as nações do mundo se unem (uma piada, claro) para fazer. Em outras palavras, temos, aqui, como mencionei, um Exterminador do Futuro ao contrário e com monstros velozes, furiosos e vorazes em escala global, saindo do espaço confinado típico da franquia Alien. Chris Pratt vive Dan Forester, o típico marido e pai de família, veterano da Guerra do Iraque e, agora, professor de biologia em uma escola, que é compulsoriamente convocado para lutar no futuro por sete dias (o tour padrão), ganhando um bracelete que conta as horas de serviço e que é capaz de revertê-lo ao presente se o tempo alocado passar e ele ainda estiver vivo.

O roteiro divide o longa em quatro momentos muito claramente marcados. O primeiro deles é um preâmbulo em que aprendemos sobre a vida doméstica e profissional de Forester, além do treinamento para a viagem ao futuro e que serve como uma espécie de “lista de compras” das informações necessárias que o espectador precisará para adivinhar, sem a menor sombra de dúvida, cada reviravolta que se seque a partir desse ponto, inclusive o final. O roteiro de Dean, assim como o hilário primeiro episódio da série Outlander (que foi tudo o que vi dela, só para deixar claro), não é nem um pouco sutil ao criar momentos em que só falta uma seta piscante dizendo “essa informação é importante” toda vez que elas aparecem, com a direção de Chris McKay (mais conhecido como o responsável por Lego Batman: O Filme) nem sequer tentando emprestar algum finesse a esses momentos. Os três momentos seguintes – repletos de ação ininterrupta – são como capítulos de uma minissérie que desdobram visualmente o que aprendemos no preâmbulo, basicamente.

Depois de uma catastrófica chegada ao futuro, chega a ser engraçado em quão pouco tempo – questão de segundos mesmo – o personagem de Pratt torna-se o líder nato da equipe que lhe resta, logo partindo para trocar tiros e espetos (os monstros lançam espetos mortais de seus tentáculos) com a fauna alienígena que realmente tomou o mundo do futuro de assalto, reduzindo a população mundial para menos de 500 mil pessoas em algo com apenas três anos. McKay conduz muito bem as sequências de ação, criando um senso de urgência e tensão quase que imediatamente, além de demonstrar que sabe trabalhar monstros em (ótima) computação gráfica de maneira crível, sem recorrer a artifícios de desnorteantes cortes de milissegundos como diversos colegas de profissão. Melhor ainda, Pratt finalmente encontrou um papel de herói de ação depois de seu Peter Quill nos dois Guardiões da Galáxia que realmente convence e que estabelece uma boa conexão com o espectador, o que torna automaticamente simples acreditar nele e torcer por ele enquanto os monstrengos aparecem de todo lado.

Tudo bem que os 30 minutos finais, dedicados à resolução da trama, são talvez extremamente corridos, fazendo parecer que tudo o que Forester e sua equipe fazem está mais para mágica ou uma sucessão de estalares de dedos com a Manopla do Infinito, do que algo que seja possível aceitar tranquilamente mesmo com toda a suspensão da descrença do mundo, mas venhamos e convenhamos que a execução da coisa toda é cinematograficamente muito eficiente, ainda que, novamente, óbvia e com zero de sutileza. Na verdade, diria que o maior problema do final é que ele é muito curto, revelando que o filme, mesmo com seus enormes 140 minutos de duração, é mal distribuído. A primeira pancadaria no futuro, por exemplo, poderia muito bem ter sido reduzida para abrir mais espaço para que Forester fizesse o que acaba fazendo ao final sem um furacão de conveniências estendendo o tapete vermelho para cada passo que dá.

No entanto, se pensarmos que o filme bebe descaradamente dos longas de ação militarísticos e sci-fi dos anos 80 e 90, ele entrega uma aventura honesta, com um protagonista carismático e uma premissa excelente, mesmo que seja uma costura de muita coisa que já vimos antes. Certamente é mais longo do que deveria ser, mas a combinação de monstros bacanas com um ótimo CGI, pancadaria incessante, mas bem coreografada e nunca confusa, com o artifício da viagem no tempo e todos os paradoxos que resultam desse mix (ainda que esse não seja o mote do filme) para dar aquela apimentada de sci-fi puro, além de diversos momentos imaginados milimetricamente para serem os mais heroicos possíveis, resultam em um longa que talvez seja mais divertido do que tinha o direito de ser. E não há nada de errado nisso!

A Guerra do Amanhã (The Tomorrow War – EUA, 02 de julho de 2021)
Direção: Chris McKay
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Chris Pratt, Yvonne Strahovski, Ryan Kiera, J. K. Simmons, Betty Gilpin, Sam Richardson, Edwin Hodge, Jasmine Mathews, Keith Powers, Theo Von, Mary Lynn Rajskub, Seychelle Gabriel, Mike Mitchell
Duração: 140 min.

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