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Crítica | “A Hero’s Death” – Fontaines D.C.

por Handerson Ornelas
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O post punk definitivamente é um dos movimentos do rock que mais rendeu frutos. Buscando pegar a essência do punk, reinventando seus conceitos e explorando sonoridades novas e até mais complexas, o movimento musical que dominou os anos 80 e 90 é uma página gigante na História da Música. Assim, é compreensível ver que, em tempos onde o rock segue com tão pouca relevância, as bandas mais interessantes resolvam se inspirar em grande parte nesse movimento a fim de conseguir uma sonoridade de certo frescor. Os irlandeses do Fontaines D.C. são um bom exemplo disso.

Depois de alcançar uma popularidade crescente com o ótimo Dogrel, seu álbum de estreia em 2019, o Fontaines D.C. aproveita essa onda para já emplacar seu segundo álbum, A Hero’s Death. Desviando do histórico de bandas que falham no famoso sophomore album, a banda irlandesa alcança um patamar invejável de qualidade em seu novo disco. A banda explora sentimentos de memórias perdidas e a busca por um lugar no mundo junto a uma sonoridade soturna que pega inspiração do melhor que o post punk pode oferecer, tudo isso sendo realizado com personalidade própria.

Talvez algo que eleve tanto a qualidade do trabalho do grupo seja o fato de pegarem influências dos melhores. É interessante observar a influência que Joy Division, a banda mãe do post punk, possui em Fontaines D.C. Essa inspiração pode ser traçada na obra como um todo, mas é ressaltada em faixas como Love Is The Main Thing – que soa como uma canção que o próprio Ian Curtis sairia do túmulo correndo apenas para poder interpretar – e o single I Don’t Belong, com seus conflitos internos e busca por espaço no mundo. Sonic Youth é outra inspiração marcante, vide os instrumentais  caóticos, guitarras pulsantes e linhas de baixo hipnóticas tomando forma em faixas como A Lucid Dream e Living In America.

As letras, com toda sua relativa simplicidade, também são pontos fortíssimos de A Hero’s Death. Uma completa honestidade é encontrada nessas composições, somada a uma entrega absurda do vocalista Grian Chatten ao interpretá-las, expandindo seus conceitos em novas camadas de profundidade. Pegue a belíssima melancolia de Sunny, uma das excelentes baladas do disco, como exemplo. Uma canção onde Grian assume a posição de um pai contemplando o fracasso de seu papel paterno. Uma interpretação meticulosa e sutil, que consegue nos colocar na pele do personagem e oferecer uma experiência grandiosa, com direito a um lindíssimo arranjo de vocais. O mesmo vale para a memória de primavera descrita em Oh Such a Spring, que nos leva para passear em pensamentos acridoces e refletir sobre o saudosismo de nossos velhos tempos

A banda também se mostra repleta de primorosos instrumentistas. Televised Mind possui linhas de guitarra extraordinárias e uma explosão de bateria que levam o ouvinte para uma experiência sonora que mais parece um furacão em pleno deserto, com riffs agressivos e a voz de Grian ecoando dominante em meio a esse instrumental arrebatador. A faixa titular, com sua sonoridade pesada e efervescente, oferece um olhar otimista frente ao obscurantismo com sua tese repetida incansavelmente como um mantra “A vida não é sempre vazia”. Já You Said sintoniza nos ares mais melódicos que o post punk absorveu nos anos 80, quase flertando com os primórdios do shoegaze.

A canção que encerra o álbum, No, vem como um conselho de entrega aos sentimentos, mesmo em tempos onde se sentir perdido parece algo tão comum. É a síntese do álbum e do acerto imenso da banda nesse magnífico trabalho. A melancolia incorporada aqui resgata a essência de temática direta e simples que o rock outrora já foi o gênero mais popular por executar, preocupando-se mais em canalizar um sentimento do que se apoiar nas convenções do próprio gênero. A julgar pela excelente compreensão dessa ideia, é com tranquilidade que afirmo que o futuro do Fontaines D.C. é promissor.

Aumenta!:  Sunny
Diminui!:

A Hero’s Death
Artista: Fontaines D.C.
País: Irlanda
Lançamento: 31 de julho de 2020
Gravadora: Partisan Records
Estilo: Post punk

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