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Crítica | A História do Palavrão – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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Não tem como não admirar Nicolas Cage. Com um Oscar de Melhor Ator na prateleira e tendo pouquíssima preocupação com a qualidade dos filmes que estrela, basicamente aceitando o que passa na frente dele, o astro sabe como ninguém chamar atenção para si mesmo justamente por não se levar a sério e arregaçar as mangas em projetos como The Unbearable Weight of Massive Talent, sobre ele mesmo, e para viver o surreal Joe Exotic na versão fictícia da série documental A Máfia dos Tigres. A História do Palavrão é a primeira colaboração do ator com o Netflix em uma série que ninguém sabia que queria ou esperava que existisse, mas que é uma imperdível, ainda que falha, mistura de diversão, chacota, educação e consciência social em um pacote simples, curto, bem no estilo “internético” atual, mas que mais do que dá conta do recado.

Cage é o apresentador e mestre de cerimônias, usando toda a autoconsciência de sua canastrice (e exacerbando-a hilariamente) para imediatamente capturar a atenção do espectador usando um ótimo cenário clássico brega e forçadíssimo de onde ele abre, “interfere” e fecha seis episódios de 20 minutos, cada um sobre um palavrão muito utilizado na língua inglesa, na seguinte ordem (desculpem-me o francês!): Fuck, Shit, Bitch, Dick, Pussy e Damn. A estrutura em todos os capítulos é a mesma, com um pouco de história, outro tanto de desenvolvimento da expressão, alguma coisa de seu uso atual, incluindo cinema e televisão e, em alguns casos que pedem o enfoque, como acontece especialmente com Bitch, uma conversa sobre a ressignificação da palavra e sua retomada pelo grupo a que ela foi historicamente dirigida.

Da mesma forma, cada episódio ganha convidados que se repetem, criando uma impressão única para toda a série. Enquanto por um lado há celebridades como Nikki Glaser e Sarah Silverman que estão por lá só para “engrossar o caldo”, mas sem realmente criar atrativos suficiente para justificarem sua presença, por outro há alguns que realmente se destacam como foi a brilhante ideia de convocar Isiah Whitlock Jr., de The Wire, no episódio sobre Shit para, claro, lidar com seu icônico e inesquecível “Shiiiiiiiiiiit”. Mas, celebridades à parte, o que realmente dá substância à curtíssima e mais do que despretensiosa temporada, são as presenças de uma lexicógrada, uma historiadora e um psicólogo que, juntos, trazem informações de contexto histórico, político e social para as palavras, abordando, em alguns casos, como expressões que não eram palavrões acabaram se tornando – como são os casos de fuck e shit – e como damn, encarado como tabu durante séculos, tornou-se parte do léxico de qualquer americano ou britânico de três anos de idade.

Obviamente, até pela proposta célere de cada episódio, cada historieta carece de profundidade. As origens das palavras ganham enfoques perfunctórios na melhor das hipóteses, com uma preocupação muito maior em derrubar hipóteses populares completamente sem bases históricas – como fuck não ser a sigla de Fornication Under Consent of the King, ou Fornicação Sob Consentimento do Rei – do que trabalhar detalhes da evolução morfológica dos palavrões. Além disso, há sem dúvida o uso de um irritante artifício narrativo que serve para reiterar um dos motes da série, na linha de que os palavrões mais populares estão perdendo a força e o sentido de serem chamados palavrões. Seguindo essa linha, cada entrevistado se esmera em efetivamente usar a maior quantidade possível do palavrão sob destaque no referido episódio, com um resultado desequilibrado por raramente o efeito desejado ser realmente alcançado.

Seja como for, A História do Palavrão consegue ser uma proposta alguns graus acima de uma bobeira completamente descartável. Sim, há muita bobagem e muito humor que não funciona, mas há também muita diversão no formato “à jato” e de fácil consumo de 20 minutos por episódio com um über hilário e canastrão Nicolas Cage como mestre de cerimônias de uma série inusitada que surpreendentemente oferece alguns fatos históricos e algumas contextualizações sócio-políticas realmente interessantes. Não precisávamos dessa série, não tenham dúvida, mas, já que ela existe, A História do Palavrão torna-se automaticamente necessária!

A História do Palavrão (History of Swear Words, EUA – 05 de janeiro de 2021)
Direção: Christopher D’Elia
Roteiro: Bellamie Blackstone
Com: Nicolas Cage, Nikki Glaser, London Hughes, Elvis Mitchell, Melissa Mohr, Kory Stamper, DeRay Davis, Nick Offerman, Sarah Silverman, Benjamin Bergen, Joel Kim Booster, Jim Jefferies, Patti Harrison, Open Mike Eagle, Zainab Johnson, Mireille Miller-Young, Baron Vaughn, Isiah Whitlock Jr., Alicia Castile
Duração: 120 min. (seis episódios)

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