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Crítica | A Hora do Rush (1998)

por Fernando JG
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O encontro super entrosado de Jackie Chan com Chris Tucker é o que a gente espera ver em um filme de comédia, ou melhor, em uma comédia de ação. A facilidade com que um trabalha com o outro, se divertindo em cena, servindo como opostos-complementares, torna tudo muito mais interessante para quem assiste. É um fato muito perceptível que eles se dão bem atuando juntos, soando muito natural o laço entre os personagens, que é, antes, o resultado de um bom encontro entre atores. 

A inaptidão conversacional do personagem de Jackie Chan encontra, quase como um modelo chave-fechadura, o personagem tagarela de Chris Tucker, que está excelente no primeiro filme da trilogia. A Hora do Rush, um filme que é invariavelmente inesquecível, e conhecido por muita gente, mesmo que só de nome, é uma produção que traz o melhor dos dois mundo: se assistimos pela ação, então temos uma chuva de cenas marciais conduzidas pelo mestre Jackie Chan; por outro lado, se assistimos pela comédia, Chris Tucker entrega, nos momentos exatos, as doses necessárias para que o filme seja reconhecido por este gênero também. Juntos, a dupla apresenta uma composição perfeita não apenas no enredo fílmico, na resolução dos problemas, mas sobretudo através de uma atuação que simplesmente convence. Por estes fatores, Rush Hour figura como peça central entre os filmes mais tosqueiros de ação, porque diverte e entretém de modo genuíno. 

A propósito, se o filme não se destaca por ser uma produção avantajada, com cortes excepcionais, movimentos de câmera, planos-sequência, entre outros aspectos técnicos da composição fílmica, a alma do longa concentra-se puramente na caracterização dos personagens, nos personagens em si, que são extremamente carismáticos. Com um argumento de quinta categoria, junto de uma produção que não vai além do esperado, o maior investimento é aplicado na escolha dos atores e na caracterização dos figurantes. Sem Jackie Chan e seus movimentos espetaculares – e sua dispensa soberba em ter um dublê – ou mesmo sem Chris Tucker e seu humor característico, Rush Hour não seria Rush Hour.

O carisma não se resume apenas aos protagonistas, a garotinha sequestrada é absolutamente amável, com a sua performance de Mariah Carey no carro, enquanto ia à escola. A atuação de Julia Hsu é ótima e rende bons momentos, quando, por exemplo, ela dá umas cacetadas nos sequestradores, que me pareceu doer bastante. Apesar da violência, que realmente ocorre em algumas situações, tenho a impressão de que é tudo mais performático do que violento propriamente dito. É mais uma exposição da beleza das artes marciais do que, de fato, cenas sanguinolentas. E nem combinaria, convenhamos, uma dose de exploitation. É mais cômico que trágico, se podemos dizer assim.

No longa, somos recebidos pelo sempre carismático J. Chan, no papel do inspetor Lee, em missão contra a gangue de Juntao, um criminoso com conexões poderosas de Hong Kong a Los Angeles. Logo em seguida, a filha de um diplomata chinês é sequestrada na América, e então o detetive Carter (Chris Tucker) é chamado, junto de Lee, para tentarem resolver a situação, ao lado do FBI. Fato é que nem Carter nem Lee se conhecem, e então a dupla, que precisará atuar com a companhia um do outro, precisa se entrosar para que a missão seja concluída. O filme inteiro ocorre no compasso dessa não compreensão, de um tentando ser melhor que o outro. Entre as surpresas de Carter em descobrir os dons marciais de Lee, o longa se desenrola na sempre – e desastrada – tentativa de encontrar o grupo criminoso e resgatar a adorável filha do embaixador, interpretada pela dócil Julia Hsu, que foi treinada por Jackie Chan. Em resumo, o enredo trabalha com o clássico motivo da dupla de detetives atrapalhados, mas que formam, os dois, um time que dá certo. 

Eu, que vi o filme dublado e no idioma original, digo, com certa predileção, que o personagem de Chris Tucker é muito melhor quando dublado. Semelhante ao que ocorre em Todo Mundo em Pânico, em que a dublagem é uma obra-prima, o trabalho feito em cima do detetive James Carter é loucamente bom, e me fez dar boas gargalhadas enquanto via ele falando sem parar. A comédia do filme fica, quase exclusivamente, por conta de Tucker, que segura bem todas as pontas. No entanto, quem segura a adrenalina da ação é, sem dúvidas, Jackie Chan, que, entre muitas cenas, protagoniza duas que são crème de la crème: quando Lee faz uma sequência defensiva, se protegendo de um ataque à machadadas, numa velocidade marcial; e a cena final, em que, segurando um vaso gigantesco, Lee luta contra dois algozes e ainda desvia de tiros disparados contra ele. Os dons marciais de Jackie Chan e o seu primeiro aparecimento na América, junto da atuação veloz que ele imprimiu ao filme, fez com o que o nosso querido honconguês fosse aplaudido e amado por aqui, nas terras do outro lado do mundo. E com razão. 

Com um roteiro basicão, o filme tem o seu segredo no entrosamento da dupla de atores e a produção, sabendo disso, se utiliza desse acerto para montar uma franquia de sucesso. Um entretenimento de fim de tarde, A Hora do Rush rendeu, além de fama imediata para Jackie Chan, um reconhecimento gigantesco para Chris Tucker, que ficou super badalado em Hollywood depois da série de filmes. A franquia acabou ganhando um seriado (Rush Hour, 2016, Jon Turteltaub) que tinha a intenção de continuar com os sucessos do filme, mas produziu-se uma peça tão meia boca que foi cancelada depois do fracasso da primeira temporada.

A Hora do Rush (Rush Hour, China, Estados Unidos, 1998)
Direção: Brett Ratner
Roteiro: Jim Kouf, Ross LaManna
Elenco: Jackie Chan, Chris Tucker, Tom Wilkinson, Chris Penn, Elizabeth Peña, Ken Leung, Mark Rolston, Rex Linn, Philip Baker Hall
Duração: 98 min.

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