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Crítica | A Iguana da Língua de Fogo

por Luiz Santiago
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A estreia de O Pássaro das Plumas de Cristal em Milão, em fevereiro de 1970, deu início a um novo momento de produção para o giallo. O grande sucesso de bilheteria da estreia de Dario Argento impulsionou diversos produtores a cobrarem filmes dentro dos mistérios sanguinolentos à italiana, que desde então passou por uma explosão de novas fitas, especialmente nos anos de 1971 e 1972. Dentre esses filmes estava A Iguana da Língua de Fogo. O diretor Riccardo Freda ficou tão descontente com o resultado final, que criou o pseudônimo, Willy Pareto, para assinar a direção do filme, e criou também o autor Richard Mann para assinar o roteiro, que é baseado em um igualmente ficcional romance intitulado A Room Without a Door.

Filmado na Irlanda (uma verdadeira raridade para um giallo), Iguana começa de forma intensa, chamativa, apresentando ao espectador a primeira morte e fazendo-nos entender a “língua de fogo” do título, embora o chefe da polícia local dê a sua própria contribuição (didática e desnecessária) para explicar a tal iguana. Seguimos então ao plot central, com a mulher morta na cena de abertura aparecendo no porta-malas do carro do Embaixador suíço no Reino Unido. Uma investigação mais ou menos de mãos atadas é aberta e passa a cercar o assassino e ‘incomodar’ os suspeitos.

O impacto da primeira morte e o tom de mistério no meio da diplomacia (um lado luxuoso e aparentemente acima de qualquer suspeita) ajuda o espectador a comprar o enredo bem cedo e mergulhar na investigação, que só para variar, não é realizada por um detetive amador, mas por um ex-detetive, John “O Bruto” Norton (Luigi Pistilli, parte do descontentamento de Freda, que na verdade queria Roger Moore no papel), afastado de seu cargo por algo que descobriremos no decorrer da obra. O trabalho de Pistilli é bom, mas ele de fato não carrega características notáveis para o detetive de um filme desse gênero. Em contrapartida, o roteiro o trata como um indivíduo perdido, com alguns vícios e forma não ortodoxa de levar a investigação, o que afasta a sua impressão destoante.

À medida que nos aproximamos do meio do longa, muita gente começa a aparecer, muitas pistas falsas surgem e já imaginamos que o roteiro terá problemas para dar conta de tantos personagens e fechar a trama de modo aceitável, o que acaba mesmo se concretizando. Para piorar, o texto foca muito nos maneirismos suspeitos e no cotidiano de alguns personagens ligados ao Embaixador, esquecendo-se de dar um pouco mais de atenção ao processo investigativo em si, à forma e ingredientes dedutivos utilizados para se chegar ao culpado. Em vez disso, os homens durões e as mulheres queimadas com ácido e violentamente mortas dessa realidade estão enfrentando a tempestade de frente, cravando na história uma aparência de ação constante onde tudo parece ser consequência, nunca a causa. Em adição, a música de Stelvio Cipriani cria aquela estranha sensação de fuga e medo, compondo o lado positivo dos ingredientes incomuns da película.

Apesar dos efeitos risíveis para padrões atuais, as mortes são relativamente bem executadas, todas com uma dose de crueldade que obviamente impediriam o filme de ganhar distribuição fora da Itália. Mas o maior obstáculo para a obra foi mesmo o próprio roteiro, que do meio para o final (apesar de todos os problemas até ali) dispara uma série de informações confusas e uma revelação do assassino que termina por quebrar todo o encanto. A impressão que temos é que as pistas falsas não serviram para nada, que a insistência em uma citada Miss Marple e todo o foco em diversas e melhores possibilidades de quem poderia ser o assassino, de nada serviram.

A real conclusão da fita, porém, consegue ser boa, trazendo um tipo sacana de justiça que é bom de ver em filmes assim, mas o “prato principal”, infelizmente, é desperdiçado com uma surpresa desagradável e confusão narrativa. L’iguana Dalla Lingua di Fuoco é um filme com bons momentos de suspense, com boas alfinetadas para o sistema político e judiciário e uma demonstração de que o desequilíbrio psicológico e a corrupção podem aparecer em qualquer tipo de família e colocar a perder muita coisa, inclusive para inocentes que nada tem a ver com esses problemas.

A Iguana da Língua de Fogo (L’iguana Dalla Lingua di Fuoco / The Iguana with the Tongue of Fire) — Itália, França, Alemanha Ocidental, Suíça, Irlanda, 1971
Direção: Riccardo Freda
Roteiro: Riccardo Freda, Sandro Continenza, Renato Romano
Elenco: Luigi Pistilli, Dagmar Lassander, Anton Diffring, Arthur O’Sullivan, Werner Pochath, Dominique Boschero, Renato Romano, Sergio Doria, Ruth Durley, Valentina Cortese, Emmet Bergin, Niall Toibin
Duração: 92 min.

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