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Crítica | A Ilha de Quandomai

Uma ponte entre passado, presente e futuro.

por Luiz Santiago
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Em A Ilha de Quandomai, vemos o escritor e desenhista Casty exercer um de seus temas favoritos em ficção científica, que é o da viagem no tempo. O momento de produção da HQ, porém, fez com que o artista voltasse os seus olhos para um tipo muito específico de mistérios temporais relacionados a uma ilha de difícil acesso e cheia de personagens e instalações aparentemente impossíveis. Lançado em março de 2010, este arco veio no mesmo momento em que era exibida a parte final da última temporada de Lost, e diversos elementos observados nessa icônica série de TV podem ser encontrados na essência de Quandomai, especialmente na primeira parte, onde todo o mistério se ergue.

Mickey e sua turma de sempre estão em um cruzeiro. Minnie, como sempre aquela personagem superficial, acaba se impressionando demais com os relatos heroicos de um certo Duque, e isso irrita um pouco o namorado, mas ele não fala nada; ao contrário, deixa que o tal indivíduo conte suas histórias e que até leve Minnie para dançar. O roteiro vai brincando com esse ciúme contido do rato e a frieza que demonstra em relação ao contador de vantagens que não faz absolutamente nada: sempre está pedindo para que seu segurança Maximus (um faz-tudo) assuma o controle de qualquer situação. O leitor já percebe nesses primeiros momentos um quê de vilanesco no personagem, mas como não temos elementos para sustentar essa desconfiança, simplesmente esperamos acontecer algo.

E o tal “algo” que acontece é grande: uma tempestade afunda o cruzeiro e os personagens centrais da trama (aqui também estão Pateta, Pluto, Bafo e Tudinha) vão parar em uma misteriosa ilha aparentemente desabitada. Os encontros iniciais não possuem exatamente um bom ritmo no roteiro, mas eu gostei da escalada dos mistérios quando a coisa começa a engrenar. Casty vai colocando algumas manchas no meio da mata e depois da grande surpresa de revelar dinossauros habitando o local, adiciona intrigas em diversos núcleos narrativos, fazendo com que cada grupo de personagem tenha alguma coisa para fazer e tenha algo para caçar ou algo do que fugir. Essas brigas pessoais marcam o miolo de toda a história, que vai receber um antigo explorador da ilha dando as informações que a gente precisava a fim de começar a decifrar o grande enigma.

A segunda parte, quando entendemos a questão dos dinossauros e quando uma outra possibilidade de “viagem no tempo” se apresenta, acaba perdendo algo que a primeira tem em boa medida: contexto. É verdade que o roteiro não tinha muita coisa para explorar nesse mundo do futuro sem criar uma nova narrativa, mas pela forma como foi inicialmente apresentado, me deu a impressão de que faltou alguma coisa para fortalecer os vilões — e isso sim dava para fazer. Sem contar que a permanência na caverna, ao lado dos sequestrados salvos em blocos de âmbar, poderia gerar cenas bem mais relevantes no sentido de familiaridade com o mundo habitado pelos insetos. Pois é, mais uma vez estamos diante de um enredo que fala da Terra destruída e abandonada pela humanidade. É um misto de Planeta dos Macacos e Wall-E que sempre me angustia bastante.

A relação entre trama policial e um sci-fi mais intenso, valendo-se de ideias mirabolantes, invenções bacanas e impossíveis ou cenários típicos de grandes filmes (as referências são muitas, aliás) fazem dessa dinâmica aventura de Casty uma leitura agradável, rápida e satisfatória. Por não gostar exatamente de como o autor encadeia o início da estadia na ilha e da forma como ele explora o mundo do futuro, algumas partes do arco não se elevaram tanto para mim em qualidade, mas a história no geral se manteve bastante acima da média, como já esperamos de obras concebidas por Casty, não é mesmo? Mais uma daquelas aventuras que nos deixa maravilhados procurando pistas e que nos surpreende por suas revelações. É importante prestar atenção nessas coisas… Vai que tem uma ilha de Quandomai perdida pelos Oceanos por aí! Não custa nada se preparar!

A Ilha de Quandomai (Topolino e l’isola di Quandomai) — Itália, 9 e 16 de março de 2010
Código da História: I TL 2832-1P
Publicação original:
 Topolino (libretto) 2832 e 2833
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Mickey #815 e 816, Graphic Disney (Panini) 5 
Roteiro: Casty
Arte: Casty
Arte-final: Michele Mazzon
Capa original: Casty, Giorgio Cavazzano (com cores de Max Monteduro)
80 páginas

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