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Crítica | A Incrível Suzana

por Luiz Santiago
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Depois de iniciar a sua carreira no cinema em 1934, na França, Billy Wilder teve alguns problemas para emplacar um outro projeto. A esses problemas foram somados os eventos políticos da Europa dos anos 1930, com destaque para a ascensão do fascismo e a rápida disseminação de seus efeitos pelo Velho Continente. Hitler assumira o poder na Alemanha em 1933, e já então era possível sentir os efeitos da ideologia nazista ultrapassar as fronteiras do país e atingir outras nações. A Europa se tornava um lugar perigoso, o que fez com que muitos artistas, entre eles, Billy Wilder, migrasse para os Estados Unidos.

Oito anos depois de Semente do Mal e já morando em um novo país, Wilder voltou às câmeras com uma deliciosa comédia, A Incrível Suzana, uma história leve e com um roteiro afiado, mostrando uma trama aparentemente inocente mas cheia de sugestões espirituosas, um charme narrativo que era marca registrada do diretor.

A história é praticamente irrepreensível, exceto pelo seu desfecho. O tom cômico aparece quase que inesperadamente quando Susan Applegate (Ginger Rogers), tenta comprar uma passagem de trem e voltar para sua cidade, mas percebe que o dinheiro que possui não dá para custear o valor total do bilhete. É então que ela tem uma ideia. Após alguns minutos no banheiro feminino, sai completamente transformada, vestida como uma “garota de 12 anos super desenvolvida para sua idade, de descendência sueca“, como ela mesma afirma. Assim, consegue convencer um senhor na estação a fingir ser seu pai e comprar-lhe uma passagem pela metade do valor (tarifa infantil).

Sendo uma adulta fingindo-se criança, é de imaginar que o tom da comédia que surge a partir daí é misto de inocência e maldade, pela clara entrelinha de pedofilia que isso traz à mente do espectador. Já no segundo bloco, durante a viagem de trem, Susan foge dos guardas e entra na cabine do Major Kirby (Ray Milland), a quem convence, com sua fala infantil e carinha de criança indefesa, que está passando mal e que precisa ficar em um lugar confortável, se possível deitada, posição em que seu estômago não dá reviravoltas. Dá-se início a uma relação inocente — da parte do Major — e cautelosa, por parte de Susan. O fato é que de maneira muito estranha (pelo menos aos olhos de um espectador contemporâneo) o militar permite a garota de 12 anos ficar em sua cabine, o que já não é muito comum; e com isso vemos uma série de eventos que a levará até a Academia Militar.

Em tempos de discussão e polêmicas sobre inúmeros casos de pedofilia, A Incrível Susana é um filme que gera possíveis incômodos, dependendo do público que o assiste. Ginger Rogers está maravilhosa em suas representações durante o filme. Ela faz a jovem que não conseguiu o que queria na cidade grande; a garota de 12 anos; a sensual mulher; a mãe e a futura esposa. Seu trabalho é realmente admirável, tanto na postura, no tom de voz quanto na caracterização de cada uma dessas personagens (também destaque para os figurinos aqui), agindo com ritmo e expressão corporal distintas e bastante sólidas. Todavia, a sua revelação final é aceita muito rapidamente pelo Major. É claro que temos em mente a expressão “ele sabia o tempo todo“, mas é evidente que não, mesmo tendo admitido que a Susan “Sussu” de 12 anos era desenvolvida demais para a idade.

Exceto por esta falha de concepção no desfecho, A Incrível Suzana é um filme delicioso de se assistir. A troca de personalidade, o disfarce (lembrando bastante Quanto Mais Quente Melhor) e a comédia inteligente são destaques da fita e com certeza divertirá e encantará ao público.

A Incrível Suzana (The Major and the Minor) – EUA, 1942
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder, Edward Childs , Fanny Kilbourne
Elenco: Ginger Rogers, Ray Milland, Rita Johnson, Robert Benchley, Diana Lynn, Edward Fielding, Frankie Thomas, Raymond Roe, Charles Smith, Larry Nunn, Billy Dawson, Lela E. Rogers, Aldrich Bowker
Duração: 100 min.

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