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Crítica | A Invasão dos Ratos, de James Hebert

por Leonardo Campos
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Os ratos são seres perigosos e assustadores. Além da transmissão de várias doenças, estas criaturas são asquerosas e possuem extenso feixe de representação simbólica em nossa cultura. Dentre as principais interpretações sobre a imagem dos ratos, temos a simbologia da fertilidade, avareza, ganância, impureza, etc. Capazes de roer madeira e chumbo, são conhecidos pelo alto poder de resistência e socialmente, arrancam arroubos de horror as pessoas que temem a sua imagem não muito simpática, além do perigo diante da transmissão direta e indireta de mais ou menos 53 tipos de enfermidades. Limitados visualmente, essas criaturas compensam o sentido na aguçada audição e olfato. Já inspirou várias histórias literárias que os utilizam física ou alegoricamente. No caso de A Invasão dos Ratos, o escritor James Hebert unificou as suas memórias da infância nos subúrbios de Londres com a inspiração literária de Bram Stoker, o romance Drácula e uma passagem peculiar em que há menções ao potencial asqueroso destas criaturas. Com o livro, ele tece uma crítica social do submundo das pessoas que não possuem acesso ao básico na vida, isto é, saneamento, condições de alimentação saudável, moradia minimamente confortável, dentre outras celeumas.

No desenvolvimento de A Invasão dos Ratos, romance do escritor James Hebert, acompanhamos ao longo de 144 páginas, a evolução de uma praga de ratos que devasta toda uma cidade, espalhando medo, horror e entregando ao leitor uma série de passagens violentamente gráficas, com os ataques envolvendo roedores velozes, furiosos, numa história que não faz questão alguma de poupar as suas vítimas, o que inclui jovens adolescentes e até um bebê, devorado pelos monstros num dos trechos mais pesados do livro. Os ratos assumem o antagonismo desta história ao desenvolver uma sede absurda de sangue humano. Longe da imagem bonitinha, cristalizada em produções do tipo Stuart Little e outros bichinhos encrenqueiros, os diabólicos monstros desta narrativa saem dos bueiros e vielas com destreza absurda, tendo em vista atacar as pessoas em momentos inesperados de interação entre os humanos e os bichos que cresceram e estão praticamente do tamanho de gatos bem robustos.

Depois que o primeiro ataque é deflagrado, um professor de artes de uma escola local ajuda a polícia a tentar conter o caos e estabelecer estado de emergência. A evacuação é uma das possibilidades de contenção das mortes, principalmente pelo tom de surpresa adotado pelos ratos em seus ataques. Ninguém ainda sabe exatamente de onde vem a ameaça e o clima de tensão se expande pela cidade. Harris, o professor mencionado, recebe anotações do Sr. Forkins, um especialista que lhe informa sobre a morte das pessoas mordidas pelas criaturas, geralmente em óbito 24 horas depois do incidente. Com o tempo passando, as mortes vão ficando mais volumosas. A escola em East London, local de trabalho de Harris, é atacada, bem como uma sala de cinema lotada de pessoas. Até mesmo a estão de metrô sofre com uma enorme quantidade de roedores esfomeados, num festival de sangue narrado em detalhes gráficos pontuais, material que ajudou bastante nas traduções intersemióticas para o cinema, além dos jogos que o livro inspirou.

O pesquisador Stephen Howard é chamado para colaborar e uma nova ideia é desenvolvida. A aplicação de um vírus que aniquilasse a população de ratos. Inicialmente, o projeto aparenta ter dado certo. Algumas semanas depois, as criaturas se adaptam ao material e retornam com mais força. Perderam a toxicidade da mordida, mas ainda são capazes de realizar grandes estragos. É o que acontecerá na cena do zoológico, bastante atmosférica, muito bem desenvolvida. É depois desses novos incidentes que os protagonistas buscam o uso de um ultrassom para atrair os roedores para uma câmara de gás e destruí-los massivamente. Como os ratos se comunicam por esta modalidade, acabam atraídos para a armadilha que parece ter dado certo. Mas e o roedor alfa? Será que foi possível destruir a base de tudo? É quando a história traz mais reviravoltas. Harris, o nosso herói, descobre que um zoólogo trouxe uma espécie de rato na Nova Guiné e cruzou com ratos pretos londrinos, o que gerou a espécie mutante que tem no bicho de duas cabeças alocados numa casa abandonada da região, a sua morada. Na experiência, as criaturas fugiram e mataram o tal cientista insano, ocasionando a infestação que se encerra neste desfecho com o personagem a matar a ratazana rainha e supostamente aniquilar a praga.

O desfecho, no entanto, não deixa espaço para muita tranquilidade. É bem possível que haja outra ratazana a dar luz novamente, situação que pede espaço para uma continuação. Lançado por aqui pela Editora Portugália em 1976, o romance foi originalmente publicado em 1974, sendo inspiração para a produção de filmes na década seguinte, tamanha a sua atmosfera gráfica, bastante eficiente no que tange aos interesses de transmitir para o leitor, a sensação de asco e medo em doses generosas. Destaque para o ataque ao mendigo, o homossexual frustrado e alcoólatra, devorado pelos bichos numa casa abandonada pelo território marginalizado de Londres, a súbita organização dos roedores para aniquilar o garoto que seguia em direção ao colégio e a cena mais pesada, a mãe que flagra a sua bebê sendo comida pelos ratos dentro de sua própria casa. James Hebert, autor de 23 livros que dialogam com os gêneros ficção científica e terror, fez bastante sucesso editorial com A Invasão dos Ratos, a sua obra mais conhecida. Falecido em 2013, o autor foi considerado por alguns críticos como exagerado em sua crítica social ao descaso com as populações pobres da região onde a narrativa se desenvolve, mas para outros, ele fortaleceu a ficção de cunho popular no século XX.

A Invasão dos Ratos (The Rats – Reino Unido, 1974)
Autor: James Hebert
Tradução: Eurico Fernandes
Editora no Brasil: Portugalia
Páginas: 144

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